As demissões recentes na unidade da Dexco, no sul de Santa Catarina, com cerca de 120 trabalhadores desligados (90 em Criciúma e 30 em Urussanga), acenderam o sinal de alerta no setor cerâmico da região. Embora a empresa tenha classificado a medida como pontual e estratégica, lideranças industriais da região avaliam que a situação pode estar representando indícios da perda de competitividade da indústria cerâmica catarinense.
Segundo o diretor executivo do Sindicato das Indústrias Cerâmicas (Sindiceram), Manfredo Gouvea Júnior, o principal fator que impacta o futuro do setor é o valor do gás natural em Santa Catarina, que hoje é um dos mais caros do país, após um aumento de 120%, nos últimos cinco anos. "O custo de se produzir em Santa Catarina vem aumentando de forma consubstancial nos últimos anos, e isso de certa forma vem diminuindo a atratividade de novos investimentos", explica, em entrevista ao Programa Adelor Lessa, na Rádio Som Maior.
>> SAIBA MAIS: Alta do valor do gás natural preocupa o futuro do setor cerâmico em SC
O diretor executivo do Sindicato das Indústrias Cerâmicas (Sindiceram), Manfredo Gouvêa Júnior, apontou que há um problema maior se apresentando. "A nossa posição enquanto sindicato patronal é espelhar a nota da empresa, que disse se tratar de um movimento estratégico pontual. Mas temos, inegavelmente, uma retração no segmento econômico da construção civil no país inteiro", avalia, em entrevista ao Programa Adelor Lessa, na Rádio Som Maior, nesta quinta-feira (12).
Segundo ele, os números mostram que a produção de revestimentos cerâmicos caiu 10% entre 2019 e 2024. “Ainda é uma coisa pouco relevante? Eu entendo que não. Eu acho que já é representativa”, afirmou Gouvêa.
Problemas do setor em Santa Catarina
Além do gás, o frete e os desafios logísticos também pesam. “Tem empresas da região que levam 60 a 90 dias para embarcar containers. Como vamos discutir vocação de exportação com um gargalo desses”, questionou, citando a importância de investimentos em infraestrutura, como o porto de Imbituba e o Morro dos Cavalos.
Atualmente, o setor cerâmico emprega diretamente cerca de 5 mil pessoas em Criciúma e é o maior gerador de ICMS do município. Para o diretor, é fundamental que as lideranças políticas e institucionais da região se envolvam mais ativamente na defesa do setor. “Tem que ter senso de urgência e tem que ter medida. Tem que ter decisão para isso, para evitar a desindustrialização do setor”, frisou.
O diretor acredita que, sem mudanças e urgência, o futuro do setor no estado é preocupante. “Se nós não tivermos esse senso de urgência, o final desse filme vai ser desagradável, vai ser aquele que nós não queremos aqui pra nossa região", finaliza.
Ouça, na íntegra, a entrevista de Manfredo Gouvêa: