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'Qualquer imbecil pode ter uma overdose'

Por Max Everson 29/09/2017 - 11:42 Atualizado em 29/09/2017 - 11:46

Marcelo Nova lança biografia em forma de entrevista e critica livros sobre rockeiros: 'Qualquer imbecil pode ter uma overdose'
Intitulado 'O Galope do Tempo', livro já chegou às livrarias de todo o país e a entrevista foi conduzida pelo jornalista André Barcinski.

No último dia 18 de setembro, o cantor e compositor baiano Marcelo Nova, fundador e vocalista da banda Camisa de Vênus e dono de uma extensa e sólida carreira solo, pegou os fãs de surpresa ao anunciar o lançamento de um livro.

A publicação é uma espécie de biografia em formato de entrevista, previsto para chegar às livrarias nesta quinta-feira (28), e que tem o mesmo título de um dos discos solo mais emblemáticos dele: "O Galope do Tempo".

No livro, que possui 264 páginas, sob condução do jornalista André Barcinski, Marcelo trata, dentre outro temas, de histórias da própria vida, percepções sobre música, carreira, família, cinema, Brasil, carnaval, drogas, tatuagens, Bob Dylan, Raul Seixas, entre outros temas.

O G1 fez uma entrevista com o artista, que contou sobre a ideia do livro, como ele foi produzido e como ele quis se afastar ao máximo da fórmula das biografias de astros do rock. "Biografia de rockeiro é das coisas mais enfandonhas e previsíveis que possam vir a existir".

vamos a entrevista:

O anúncio do lançamento do livro pegou os fãs de surpresa. Há quanto tempo ele vinha sendo preparado?

Marcelo Nova - Na verdade, eu já conheço o André há bastante tempo, e ele sempre falava nessa possibilidade de lançar um livro, e eu sempre saía pela tangente. Mas há uns quatro anos, eu fui ao programa do Zé do Caixão, que era dirigido por ele. Fui conversar com Zé e aí voltamos a falar do livro, e aí ele falou: "Vou te ligar para nós começarmos a conversar. Já tem mais de 5 anos que isso está adiado”. E assim foi. Ele me ligou e não parou mais de me ligar. Muito da existência desse livro deve-se à insistência de Barcinski em me ligar. Foram quase quatro anos de conversas.

O livro não é uma biografia tradicional, mas uma grande entrevista em que você fala sobre diversos assuntos. Como se dá a narrativa? Os assuntos foram elencados em ordem cronológica?

Marcelo Nova - Mais ou menos cronológica. Até porque quando chega no trabalho, achei que seria necessária essa ordem, porque vou falar sobre o primeiro álbum do Camisa, e depois dos meus álbuns solo. Então me pareceu que fazia mais sentido, até porque consegui perceber que, com o passar do tempo, mais elementos foram sendo acrescentados à minha carreira, à minha vida, ao meu trabalho. Achei que essa sequência cronológica faria sentido.

O livro traz fotografias também?

Marcelo Nova - Tem poucas fotografias. Uma dúzia talvez.

Como se deu essa parceria com o Barcinski? Ele fez as entrevistas, mas como foi o processo de edição, de escolher o que entraria ou que ficaria de fora do livro?

Marcelo Nova - Ele escolheu. Eu achei que não me cabia. Eu já edito a minha própria obra. Já tenho essa preocupação, e às vezes fico obcecado por essa ideia de querer sempre um resultado melhor. No caso do livro, como ele é um jornalista dos melhores que conheço aqui no Brasil, deixei a edição por conta dele, e assim foi.

Eu só tinha dito a ele que fizesse diferente [da maioria das biografias], porque eu não aguento mais, não tenho mais paciência para biografia de rockeiro. É das coisas mais enfadonhas e previsíveis que possam vir a existir (risos).

E é um dos gêneros literários que vem tomando as livrarias...

Marcelo Nova - Essa coisa de ter uma overdose no banheiro... Qualquer imbecil pode ter uma overdose no banheiro. Eu não fui abusado na infância, meu pai nunca espancou minha mãe.
Outro dia, como eu passei ao largo de toda essa enxurrada de biografia de rockeiro, resolvi comprar a de Pete Townshend [guitarrista e compositor da banda The Who], porque gosto muito do “Quadrophenia” [um dos discos mais emblemáticos da banda]. Foi um álbum muito importante na minha vida.
Se Dylan foi o artista que mais me impressionou do ponto de vista da escrita, o disco que mais me atingiu foi “Quadrophenia”, porque eu era muito jovem, tinha 23 anos, e vivia isolado em Salvador. Era um menino deslocado, e aquilo [o álbum do The Who] me pareceu que tinha sido escrito para mim. Aquela história de não conseguir se relacionar com os pais, com a namorada, não conseguir aceitar os dogmas da igreja, enfim, era um menino que não pertencia ao ambiente em que vivia.
Enfim, fui comprar a biografia de Townshend, e de repente ele diz que Mick Jagger foi o primeiro cara de pau grande que ele viu. Aí depois, ele fala que a mãe corneava abertamente o pai, que ela tinha um amante que ele chamava de tio. E que depois o pai aceitou a mulher de volta. Aí eu parei de ler, porque eu não tenho interesse em saber o tamanho do corno do pai dele, e nem do pau de Jagger. Eu comprei o livro para saber do trabalho dele.

Aí eu vi que não tava perdendo nada. Não me interessa se Ozzy comeu morcego ou se Alice Cooper cortava pescoço de galinha. Essa é uma conversa que motiva talvez adolescentes.

E por onde o “Galope do Tempo” segue?

Marcelo Nova - Eu li o que Paulo Francis escreveu sobre o lançamento da biografia de Audrey Hepburn [atriz britânica que explodiu nos anos 50], e ele dizia o seguinte: “Quem estiver interessado em saber com quais galãs ela dormiu ou se ela cheirava na bandeja irá ficar profundamente decepcionado”.
Isso porque segundo ele, Audrey era uma mulher de classe e na biografia dela não cabia esse tipo de vulgaridade. Então, eu disse a Barcinski: “André, quero que você seja meu Paulo Francis e eu seja sua Audrey Hepburn” (risos). Ele começou das minhas primeiras memórias, da minha infância, adolescência. E eu tentei tornar essas histórias divertidas, muito mais do que impactantes no sentido do rockeiro doidão.
Aí depois, no momento em que eu adentrei definitivamente na música, não apenas como ouvinte, procurei canalizar e direcionar para o trabalho. Falo sobre todos os discos do Camisa, carreira solo, Raul. Procurei me concentrar nisso, no meu trabalho. Essa coisa da vulgaridade da vida pessoal, dos contos escabrosos, eu posso confessar que não os tive e não me preocupei em inventá-los.
O músico diz que não tem paciência para biografia de rockeiro: 'Qualquier imbecil pode ter uma overdose' 

O título do livro remete ao que talvez seja seu álbum solo mais emblemático. Como foi escolhido esse título?

Marcelo Nova - É curioso. Eu falo isso no livro, até porque um homem de 66 anos é um homem que galopou no tempo. Em algum momento o cavalo vai me derrubar, mas até lá eu estou agarrado na cela e nas rédeas. E foi o que fiz na minha vida. Quem me conhece profissionalmente, sabe que nunca saí trotando. Sempre galopei e continuo agarrado na crina do bicho e enfiando-lhe a espora. Eu não tenho outra opção. Eu gosto do galope. Eu me sinto bem (risos).
Quanto ao disco “O Galope do Tempo”, o próprio Barcinski disse para mim que aprecia vários trabalhos meus, mas que o que ele mais gosta é o “Galope”. O que é interessante, porque não é meu disco mais popular, mas é o que tem fãs ardorosos, que o colocam num patamar muito elevado no rock brasileiro.

Você é um artista que trabalha com a palavra. Você mesmo diz que o cerne da sua obra é o texto. Então, além desse livro, você pensa em escrever uma biografia? Uma autobiografia no caso?

Marcelo Nova - Escrevê-la exigiria uma tenacidade e uma motivação que eu não sei se possuo. Hoje eu tenho mais de 200 canções compostas, e se eu vier a ser lembrado post-mortem, gostaria que fosse pelo meu trabalho, e não porque me apliquei de heroína na casa de uma amigo em Nova Iorque e fui parar no hospital. Então me falta um pouco da tenacidade necessária para escrever uma biografia.

Você fará eventos de autógrafos em livrarias pelo Brasil?

Marcelo Nova - Existem idéias, mas nada concreto. Evidentemente que se lancei um produto, de alguma maneira tenho que apresentar às pessoas. Mas por enquanto não há nada fechado.

crédito - G1

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