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Vale a pena forçar simpatia?

Por Grayce Guglielmi Balod 08/01/2019 - 19:16 Atualizado em 08/01/2019 - 19:22

Noite dessas perdi o sono e depois de revirar na cama por um tempo pensando no piloto automático acreditei ter solucionado mentalmente um dos meus mais sérios problemas.
Resolvido o problema virei para o lado e dormi como um anjo.
Quando acordei e levantei da cama, sentia-me aliviada. 
Estava desobrigada de uma das mais difíceis tarefas diárias; sorrir e ser simpática com todos.
Eu não cumprimentaria mais ninguém por obrigação, somente se eu realmente sentisse vontade. 
Isso provocaria um efeito cascata, os outros deixariam de me cumprimentar também, então de quebra, poderia sair de casa vestida do jeito que desejasse.
Não me preocuparia mais com cabelos desgrenhados ou cara de sono no meio da manhã.
Mau humor não seria impedimento para sair à rua. 
Para todos os efeitos, agindo assim, eu seria aquela 'eterna mal humorada'. 
Diriam que sou o tipo de pessoa que vê e finge que não viu. Antipática.
E isso não me atormentaria pois seria a mais pura verdade.
Talvez ficasse com fama de esquisita.
Mas, os julgamentos, quais fossem, manifestados por olhares, palavras ou gestos só me motivariam a continuar de cara fechada.
Acabariam os bate papos vazios de significado na entrada e saída do trabalho, no elevador, nas filas.
Não pertenceria mais ao grupo que sai cumprimentando todos os que aparecem pela frente para fazer com que o seu dia e o do outro fique melhor.
Acabariam as canseiras no maxilar por sorrir demais apenas por educação.
Seria o fim da boca escancarada - que definitivamente não harmonizava comigo.
Meu rosto, sério, descansaria.

Perceberia quantos "Oi tudo bem! tudo! E você?", "Obrigada, não precisava", "Que lindo, adorei"; foram ditos sempre sorrindo desnecessariamente.
A canseira no maxilar teria me avisado que eu não poderia continuar assim. O corpo sempre fala.

A partir daquela manhã sorriria mais e melhor com os olhos, com as palavras, com o silêncio.
Sorriria assim, sem cessar e sem cansar.
Manteria meu sorriso raro, mesmo que eu sorrisse muitas vezes ao dia. Raro por ser verdadeiro. Raro por ter brotado do desejo de sorrir.
E não sentiria a menor falta de sorrir de outro jeito.
Estaria cada vez mais a vontade com quem realmente sou, com minha essência.
Porque simpatia forçada é reflexo do cuidado com a aparência. 
Simpatia forçada não é reflexo de cuidado com a essência.

Agiria assim até o dia em que sentisse novamente vontade de agradar.
Até ser possuída outra vez pela necessidade de ser simpática.
Até desejar novamente um espelho para meu sorriso, em outro rosto, conhecido ou desconhecido.

Mas...não foi uma resolução de insônia.
Foi apenas um sonho.

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