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Sofrimentos (Des)Necessários

Por Grayce Guglielmi Balod 04/06/2018 - 21:08 Atualizado em 04/06/2018 - 21:11

Alguns sofrimentos são inevitáveis e nem é necessário muita sensibilidade para estar vulnerável ao que os causa: doenças, morte, a perda de um ente querido, tragédias, violência, injustiças.

Mas nós não sofremos somente por essas questões e, pra falar a verdade, a grande maioria das pessoas queixa-se do sofrimento por questões bem menores. Por exemplo:

A gente sofre quando está muito frio e quando está quente demais.

Quando está chovendo e quando o sol é escaldante.

Quando tem barulho e quando tem muito silêncio.

Quando há muito o que fazer e quando não há nada para fazer.

Quando estamos sozinhos e quando tem gente demais.

Quando estamos com sono e quando temos insônia.

Quando temos fome e quando estamos com indigestão.

Quando estamos gordos e quando estamos magros.

Quando temos metas a atingir e quando as atingimos.

Quando não temos tempo e quando não sabemos o que fazer com tanto tempo.

A gente sofre de saudade e sofre porque tem dificuldades para conviver.

Sofre por falta de grana e por não saber o que fazer com tanta grana.

Sofre quando é pobre e sofre por medo de ficar pobre.

Sofre porque tá solteiro. Sofre porque tá casado.

Sofre porque trabalha. Sofre porque tá desempregado.

Sofre porque divorciou. Sofre porque está sozinho.

Sofre porque está na balada e tudo o que quer é um ninho.

Sofre porque não tem som e sofre porque a música é triste.

Sofre porque estão enchendo o saco e depois sofre porque desapareceram.

Sofre porque dói e sofre porque não sabe onde dói.

Sofre porque precisa limpar a casa e porque tem medo de não ter casa.

Sofre porque mora longe e sofre porque não aguenta ficar perto.

Sofre por lembrar e sofre por esquecer.

Sofre porque é igual e sofre porque é diferente.

A gente sofre por razões absurdas.

Não! O que enche os consultórios de psicologia não são os sofrimentos inevitáveis das grandes perdas e decepções. 

Porque a gente sofre até por não encontrar razões para sofrer.

Sofre porque está feliz achando que deveria estar triste.

Sofre porque quer equilíbrio e porque está tudo equilibrado demais.

Sofre por antecipação. 

Sofre porque o pensamento distorce os fatos. 

Sofre porque quer sofrer.

A gente sofre porque a sogra é chata. Porque a cunhada não gosta da gente. Porque tem ciúmes da amiga. Porque tem inveja do colega. Porque é egoísta. Porque é adulto. Porque tem ilusões. Porque perdeu as ilusões. Porque guarda mágoas. Porque o tempo passou. Porque o tempo não passa. Por tudo a gente sofre.

Sofre porque precisa levantar da cama. Sofre porque tem medo de não acordar.

Sofre porque o filho é pequeno e nos dá trabalho e depois sofre porque ele cresceu e foi embora.

Sofre pelo preço do sucesso e sofre por ter fracassado.

Sofre por ter sido esquecido e sofre quando é muito lembrado.

Sofre porque nada é como antes e porque o agora é tudo o que temos.

Sofre porque não está sofrendo e porque tem medo de voltar a sofrer. E a gente volta a sofrer e sofre.

Sofre na expectativa da chegada e sofre ainda mais na partida.

Sofre na alegria pela certeza da sua finitude e sofre ainda mais na tristeza.

Sofre com o próprio sofrimento e sofre ainda mais com o sofrimento de quem a gente ama.

Sofre porque ama. 

Sofre porque não ama.

Sofre quando está com saúde por medo de perdê-la e sofre na doença por temer não vencê-la.

A gente sofre na vida.

A gente só não sabe se sofre na morte, se não já estaria sofrendo por isso também.

Caro leitor, a vida não é uma festa onde só a alegria faz sentido. A dor e o sofrimento fazem parte da nossa existência. 

Mas estejamos atentos para não confundirmos a inconstância da vida que, ora está de um jeito, ora está de outro, com o sofrimento humano. O sofrimento, quando chega, não deixa dúvidas de que é sofrimento. Será o tempo de nos fortalecermos para enfrentá-lo. Porém se conseguirmos relativizá-lo entendendo que mesmo que a dor seja inevitável o sofrimento é opcional, talvez seja este um sofrimento desnecessário.

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