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Não se reprima mulher!

Por Grayce Guglielmi Balod 17/10/2018 - 17:38 Atualizado em 17/10/2018 - 17:43

Se há algo que nós mulheres aprendemos com a maturidade é que a vida é uma infinidade de possibilidades.
Muitas de nossas inseguranças derivam dessa consciência.
São muitas escolhas a fazer.
Não é fácil posar de mulher decidida.
Não é fácil viver no piloto automático, uma vida disciplinada e com rotinas auto-impostas.
Não é fácil ter a capacidade de não pensar. De fazer.
Quantas vezes já criamos nossas rotinas e até nos empolgamos no início.
Mas é sintomático: em dois tempos lá estamos nós novamente refletindo sobre os motivos para continuar...ou parar...
Quantas pessoas já nos disseram:
- Tu não podes pensar, tens que fazer.
E, às vezes, perdidas em nossos pensamentos não encontramos uma resposta, uma saída.

Mas querida leitora, ninguém fica sem saída enquanto houver vida.
Por isso hoje quero chamar a sua atenção para o problema da repressão.
Somos muito reprimidas. 
E o que é pior, nós mesmas nos reprimimos.
Então temos essa falsa sensação de não ter, ou não saber, o que temos para fazer.

Por isso sou uma admiradora das corredoras peladas de Porto Alegre (lembram delas? mulheres que há alguns anos foram notícia em todo o Brasil porque, uma após outra, foram pegas correndo peladas pelas ruas da cidade).
Tudo bem, não pode. 
Eu não correria pelada.
E sugiro que você não faça isso também.
Mas elas representam muitas de nós.
Não pelo ato em si, mas porque fizeram.
Tiveram coragem.
Quantas de nós já tivemos vontade de sair correndo peladas em situações que simplesmente não sabíamos mais o que fazer!
Conheço distintas senhoras que já tiveram vontade de sair correndo peladas também.
Sei porque elas me contaram,trocamos idéias, rimos, fomos cúmplices de uma vontade proibida em comum.
Elas me confidenciaram o desejo como uma carta na manga, um segredo, uma saída proibida para ser cogitada no desespero.
Sair correndo pelada seria a cartada final. 
Algumas senhoras tinham até vontade de gritar enquanto corriam peladas.
E o que isso simboliza?
Tirar a roupa seria como se livrar de tudo. 
Correr seria como deixar tudo pra trás. 
Correr pelada, nós sabemos, é um grito de liberdade.

Desconheço as razões das corredoras peladas.
Mas elas representam muitas mulheres.

Seria tão bom se toda mulher tivesse alguém de sua confiança que lhe dissesse o que ela deve fazer quando ela não tem a menor ideia do que fazer.
Alguém que arriscasse um palpite, uma sugestão de ação.
Nem que fosse para a mulher se rebelar contra o palpite. 
E fazer qualquer outra coisa.
Porque a verdade é que há momentos em que não temos a menor ideia do que devemos fazer.

Num momento como esse tive a sorte de conversar com alguém que me levou a pensar sobre o meu gosto pela escrita  - que me acompanha desde criança quando ainda escrevia em meus diários.
Para cada mulher que não sabe o que pode ou deve fazer em certos momentos da vida, eu desejo alguém que a lembre de sua essência e resgate, de sua história de vida, algo que lhe traga alívio.
E desejo que nós, mulheres, deixemos as repressões e opressões para trás e sigamos em frente, cada dia um pouco mais livres de nossas amarras.


Eu acredito que quem pode se dar ao luxo de dizer "É isso que sou, é pegar ou largar!" já viveu um bocado. 
Quem avisa que "é pegar ou largar" conhece bem suas limitações. 
E provavelmente passa seus dias tentando vencer a si mesmo
As mulheres corredoras peladas gritaram para quem quisesse ouvir:
- É isso que eu sou! É pegar ou lagar.
Evidentemente foram pegas. E presas. E, consequentemente, largadas a própria sorte.
Mas, antes, foram livres.
Metaforicamente falando corremos peladas a cada superação de desilusões. A cada superação de decepções. A cada superação de desespero.
Corremos peladas todas as vezes que nos damos conta que nos abreviaram (ou nós mesmas nos abreviamos)  a um único papel existencial - seja o de profissional, de mãe, de dona de casa, de esposa, ou, o pior de todos os papéis, o de incapaz.
Que nós possamos simplesmente tirar a roupa que nos vestem (ou que nós mesmas vestimos) e sair correndo.
Para depois nos reencontrar com todas as nossas questões existenciais novamente.
Porém, desta vez, novas, zeradas, nuas de abreviações, opressões e repressões.

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