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É difícil voltar. (Queixa de consultório psicológico)

Por Grayce Guglielmi Balod 18/01/2019 - 14:16 Atualizado em 18/01/2019 - 14:30

Voltei depois de um certo distanciamento mas foi difícil voltar dessa vez. 

Houve dias em que penseique se eu voltasse, viria rasa demais, superficial demais, sobrariam amenidades. 

Vocês já me conhecem o bastante para saber que não sou dada a conversas superficiais.

Serei direta. 

Não vim antes porque estava tudo bem. Tudo aparentemente bem. 

Medos apaziguados pela luz radiante do verão. Confusões adormecidas dentro dos armários junto as roupas de frio, escondidas nessa estação.

Dias em que olhei apenas para o presente ou, quando não estava satisfeita, espiei o futuro. 

Sabe, depositei planos lá, no futuro. Isso me levava para frente.

Foram dias em que, acredite, não olhei pra trás. Nada, absolutamente nada no pretérito era sedutor. Tesão pelo futuro define bem minha ausência. 

Porém, sempre soube durante esse tempo que algo ou alguém poderia me trazer de volta. 

Algo de fora ou de dentro de mim. Outro alguém ou um 'alguém outro', desses tantos que sou. Ou, até mesmo, um novo alguém que venho construindo e ainda não conheço. 

Sempre soube que a ida, todo o caminho de ida, é o caminho de volta feito de costas.

Por isso é complicado seguir em frente. A vista do presente é o passado.

Por isso eu sabia que voltaria. 

 

Pra ser sincera, embora meu silêncio tivesse atividade e felicidade, eu mesma desejei uma turbulência qualquer que me fizesse voltar.

Mas estou num lugar onde, mesmo querendo muito, as pessoas e as coisas não me afetam mais. 

Não como afetavam antes. 

Sim, eu ainda sinto muito todas as mazelas da vida e me comove de forma melancólica e profunda tudo o que retira a cor e o brilho dos dias. 

Ainda amo intensamente e a falta de alegria no outro não cai bem em mim. Nunca cairá. 

Mas estas perplexidades não criam mais raízes em mim. 

No solo da minha alma as tristezas não brotam mais. Não dão mais fruto e nem flor. 

Meus frutos e minhas flores de dentro são as flores do amor, da gentileza e da generosidade. Sou solo fértil pra estas sementes. Para as demais sou terra estéril. 

Por isso nada nem ninguém me parou. De fora não tive freios para minha paz.

O limite fui eu quem deu.

Eu me parei. 

Voltei a pensar da maneira clássica, aquela, antiga, só para ver o que me aconteceria.

Só que não é mais a mesma coisa. 

Uma única vida, vivida com consciência, é o suficiente. Não há necessidade de regressos. O que precisa ser feito você faz. Aprendi isso nesses dias.

E eu estou vivendo um conto de fadas. As vezes, acho que sou mesmo uma fada, a fada do meu próprio conto. 

Sou a Alice das maravilhas do país que eu construí. Um pais que é só meu, onde poucos podem entrar. 

Você não acredita em conto de fadas? 

É que para você não é possível viver feliz para sempre. 

Mas eu descobri que é. 

Porque meu conceito de felicidade mudou e enfrentar a vida ao lado de alguém, com tudo o que isso significa, para mim, hoje, isso é ser feliz. 

Então, enquanto eu estiver enfrentando a vida ao lado das pessoas que querem estar ao meu lado eu estarei sendo feliz pra sempre no meu conto de fadas, no meu pais das maravilhas.

Você deve estar pensando:

- Meu Deus ela regrediu, era para amadurecer, mas ela parece uma criança falando desse jeito.

Mas tente entender, eu tinha tanto medo de perder tantas coisas e tantas pessoas. Tanto medo...E eu deixei  todas as coisas que eu jamais queria perder e todas as pessoas que eu jamais queria que fossem embora, eu simplesmente deixei que fossem. Eu deixei e aceitei que fossem embora. 

Você não acha que isto é amadurecer? Eu fiquei apenas com o que ficou na minha vida e eu passei a curtir minha vida assim. 

Foi assim que eu a transformei num conto de fadas. Eu sou uma fada madura. Eu virei uma fada na maturidade, esta é a minha verdade, mesmo que ninguém queira perceber.

Outra coisa que me aconteceu nesses dias e que percebo agora, escrevendo, é que eu parei de questionar tudo. 

 

Eu olhava para as pessoas e as situações e logo uma pergunta qualquer começava a se construir na minha cabeça. E eu nem ouvia direito o que me falavam pois eu estava sempre muito preocupada em questionar tudo. 

Você não imagina o quanto todas aquelas perguntas que eu fazia o tempo todo roubavam minha paz. 

Pois justo eu que questionava tudo e vivia perguntando:

- Por que é assim? Para que serve isso que está acontecendo?

Eu que sacava os por quês e para quês a todo instante, hoje só me ocorre questionar a mim mesma sobre as lições que a vida repete. 

Nessas horas me questiono:

-Por que isto está me acontecendo novamente? 

Mas veja, não é uma pergunta destinada a alguém fora de mim.

É uma questão que eu mesma me proponho, para refletir. Uma pergunta que faço em pensamento ou com a voz baixa. Bem baixa...

 

Por que voltei então? 

Talvez tenha sentido saudade. 

Ou, talvez, pra lhe contar estas coisas todas. 

Ou, ainda, pra lhe dizer que essa sou eu agora. 

Não para lhe agradar, pois isso não me satisfaz mais. 

Acho que vim lhe dizer que consegui!

Eu sempre lutei para ser diferente e hoje posso lhe dizer que não faço mais parte do exército de iguais. 

Estou aqui sem máscaras, autêntica, verdadeira, o mais verdadeira que consigo ser. 

Sei que, bem no fundo, esperaram que eu pensasse por mim mesma ao invés de segui-lo ou de seguir quem quer que fosse.

Todos nós queremos ser diferentes.  Não quer que eu o siga ou o imite. 

 

Enfim...

Vim pra dizer que minhas questões - agora - eu as dirijo a mim mesma. 

Continuo aquela rebelde que vocês conhecem, só mudei o foco da rebeldia. 

Tem muito pensamento em forma de conceito antigo e ultrapassado dento da minha cabeça para eu questionar. 

Este é um exercício solitário e silencioso que tenho feito enquanto passeio no meu pais das maravilhas. Enquanto faço magias no meu conto de fadas.

Ser aceita ou não desse jeito não é um problema para mim, aliás, "o que pensam de nós não é problema nosso", não é mesmo?

Vim me expor para você.

Vim lhe mostrar quem sou agora.

Como sabemos "é difícil dizer quem sou pois você pode não gostar e isso é tudo o que eu tenho". (Alias, este é o título de um ótimo livro sabiam? Adorei tê-lo descoberto.)

Mas mesmo que doa - caso você não goste - quem mais eu poderia ser além de mim mesma?

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