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As amizades depois do WhatsApp

Por Grayce Guglielmi Balod 21/05/2018 - 17:01 Atualizado em 21/05/2018 - 17:03

Queridos leitores, acompanhem esse desabafo de uma partilhante e reflitam comigo sobre as amizades depois do whatsapp.

"Amigos dos grupos do whatsApp, eu desisto.
Saio, pacificamente, de todos os grupos aos quais me incluíram.
Saio em paz com todos e espero que possamos manter algum tipo de contato fora do mundo virtual.
Certamente minha saída não interferirá na continuidade dos grupos pois não dei início a nenhum deles e não os administro.
Minha participação, tímida em alguns dias e empolgada em outros, foi uma amostra de como eu funciono aqui no mundo real.
Sobre a participação de vocês quero que saibam:
Vocês não me incomodaram. Vocês me fizeram falta.
Pertencer a um grupo, para mim, mesmo sendo um grupo de whatsApp, dá a sensação de ter companhia.
É a opção de abrir mão da solidão.
Então, explico-lhes, que fazer parte de vários grupos no whatsApp  me fez crer na minha capacidade de extroversão e sociabilidade. 
Acreditei, também, ser capaz de manter a constância e sinceridade em grupos heterogêneos, formados por pessoas distintas.
Esta parecia ser a proposta dos grupos e me empenhei para isso.
Porém, eu não consegui.
Permaneço apenas nos grupos formados por pessoas que integram minha vida real.
Neste caso, eles são uma extensão dos relacionamentos previamente estabelecidos.
As dificuldades de relacionamento que temos no mundo real estendem-se ao virtual.
Quando há convivência, os integrantes do grupo conhecem uns aos outros e suas respectivas limitações. 
Alguns dias, por exemplo, acordo de mau humor, não quero conversa e não acho graça em piada alguma.
Como posso dizer isso à colega que desconhece tal característica e que acorda-me efusivamente as seis e meia da manhã de uma terça-feira?!
Mas essa questão foi a menos importante.
Em todos os grupos, passada a empolgação inicial, os diálogos resumiam-se a mensagens prontas de bom dia, boa tarde e boa noite. 
Algumas frases motivacionais, fotos de homens sarados, piadas eróticas.
Videos fofos ou divertidos.
Uma ou outra foto pessoal.
E muito silêncio.
Quem aguenta passar de um grupo silencioso a outro quando quer barulho?!
Quem aguenta passar de um grupo barulhento a outro quando quer silêncio?1
Disseram-me: Leve na brincadeira!
Eu quase consegui brincar de pertencer a grupos.
Mas, em determinado momento, quando alguém quebrava o silencio e falava do filho doente, do problema financeiro ou da sua solidão, eu me punha a pensar como poderia ajudar.
Afinal, se eu sabia, não poderia ficar indiferente.
Então pensava nas palavras certas e em como fazer para trazer para perto aquele amigo tão distante.
Mas, pasmem, enquanto refletia eu recebia a notificação de uma nova mensagem.
Curiosa, deparava-me com uma piada de outra pessoa do mesmo grupo que ou não leu, ou leu mas não entendeu, ou entendeu mas não se comoveu com o problema do amigo. 
Então eu tentava achar graça e entrar em outra vibe.
Mas quando estava quase conseguindo alguém  do mesmo grupo aparecia dando continuidade ao problema em questão.
Como posso acompanhar?
Pensei em falar tudo o que estava sentindo e o quanto eu gostaria de estar com pelo menos um de vocês aqui no mundo real para tomar um café e contar sobre meu dia e ouvi-lo contar sobre o seu. 
Mas achei a ideia estapafúrdia e, ao pensar assim, percebi o quanto os grupos de whatsApp são desnecessários.
Se há algo para o qual realmente servem é para que tenhamos a real dimensão de nossa solidão. 
Depois de zapear de um grupo para outro encaminhando piadas e rindo feito doida, muitas vezes, olhei para os lados e vi que estava só.
Ah! Há, também, uma questão de logística.
Não sei participar de um grupo sem saber o que estão falando entre si.
E eu não estava mais conseguindo administrar tal questão.
Na manhã em que me exclui dos grupos, acordei exausta pois havia entrado madrugada adentro colocando em dia a visualização de fotos, mensagens, textos e videos.
Confesso que algumas piadas valeram a pena. Dei boas gargalhadas.
Também entrei em algumas saias justas.
Houve o dia em que decidi ouvir uma mensagem de voz, baixinho, na fila do caixa.
Mas o som do celular não estava baixinho, estava no máximo.
Senti minhas bochechas esquentarem. Fazia tempo que não ficava vermelha de vergonha.
Claro, também me emocionei.
Chorei de alegria com boas notícias.
E também de saudade.
Grupos de whatsApp me dão saudade de quem os compõem.
Recentemente encontrei na rua a amiga de um dos grupos que pouco ou raramente vejo. 
Num rompante, impulsionado pela avalanche emocional, grudei nela como quem gruda no ídolo que só vê pela tela da televisão.
A amiga ali no mundo real, ao meu lado, era algo surreal.
A que ponto chegamos!?
Daquele dia em diante passei a temer pela minha sanidade.
"Pessoas que amo moram longe"  me identifico muito com essa frase.
Os correios foram minha ponte de ligação com meus amigos distantes. 
Vivi a Era Jurássica das cartas. 
Depois, dos emails. 
Fui fascinada pelo orkut.
Adorava o fotolog.
Facebook e instagram são meus vícios atuais e vivo bem com eles pois entendo a presença distante das pessoas queridas que ali estão.
Mas, para mim, os grupos de whatsApp são ao mesmo tempo distantes e próximos demais.
Não sei me relacionar assim com ninguém.
Nem no mundo real.
Aos amigos dos grupos que vendem e negociam quero dizer que estou aqui. 
Não compro muito e nesse sentido creio que abro espaço no grupo para alguém mais consumista.
Aos amigos que só querem minha amizade tenho tanto a dizer...
Se você é meu amigo e está distante vou ama-lo e aprender a viver com a saudade.
Se você é meu amigo e está próximo vou ama-lo e querer sua companhia.
Simples assim.
Mas se você é meu amigo e está num grupo de whatsApp não sei como lidar.
Sou totalmente incompetente para administrar isso.
Sim, é tudo uma brincadeira. Claro!
Ou não, não é mesmo?
Dizem-me: 
Mas é uma forma de manter contato com quem você ama!
Não, não é. 
E uma forma de constatar diariamente o quanto nos distanciamos. 
O quanto a vida nos afasta. 
E o quanto o amor permanece independentemente dos recursos tecnológicos."

A minha reflexão, querido leitor, é a seguinte:
Os mundos reais e virtuais estão se misturando numa velocidade absurda.
E é relativamente fácil amar alguém que nunca vimos e cuja amizade foi construída no mundo virtual.
Mas a transição do amor e amizade que se construíram nas aulas do ensino médio, nos recreios do colégio, nas baladas de fim de semana, no antigo e duradouro emprego, nas festas sem hora pra acabar e, depois, consolidados na dor das perdas, quando seguraram nossa mão enquanto dávamos o ultimo adeus a quem amávamos, definitivamente, estes, são mais difíceis de transformar em amigos virtuais apenas. 
Prefiro guarda-los dentro deste lugar que denominam coração.
Neste lugar onde as memórias e sentimentos ficam eternamente vivos mesmo sem novas notificações de mensagens.

Gostaria de saber qual a sua reflexão sobre essa questão.
Conte-me pelo whatsapp.

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