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O abominável homem das neves

É mais um capítulo das prosas no Café São Paulo
Por Henrique Packter 04/09/2020 - 07:10 Atualizado em 04/09/2020 - 07:11

(Baseado em CHATÔ O REI DO BRASIL de FERNANDO  MORAIS e em prosas no CAFÉ SÃO PAULO)

Às 5 e meia horas da manhã  chuvosa de  sexta –feira, 3 de outubro de 1930, dia escuro, cerração baixa e úmida,  FRANCISCO de ASSIS CHATEAUBRIAND BANDEIRA de MELLO (CHATÔ) chega ao  cais Pharoux  no centro do RJ e embarca no hidroavião Junkers G-24 da Condor, com destino a POA onde explodia a Revolução de 30 que levaria Getúlio Vargas ao poder. A aeronave dispunha de 3 motores de 110 cavalos cada e  voava com a velocidade de 180 km/h, mas,  obrigada pelo mau tempo, voaria a, ou melhor deslizaria sobre as águas a 40, 50 quilômetros horários.

Voo  tinha  duração prevista de 8 horas, incluídas as escalas em Santos e Floripa. Às 3 e meia da tarde estaria pousando nas águas do Guaíba, centro de POA. Pilotava o hidroavião comandante alemão Heinz Puetz que, devido às condições climáticas, obrigava-se a voar pouco mais de 50 metros de altitude! Nove passageiro a bordo lotavam a pequena aeronave. Até Santos, 300 quilômetros distante, normalmente menos de 2 horas de voo, foram quase 4 longas e sofridas horas.

Reabastecida a aeronave decolam rumo a Floripa, mas, 150 quilômetros depois, nevoeiro fecha e são obrigados a pousar em Iguape,  entre a ilha Comprida e o continente. Os  59 quilômetros seguintes são vencidos com o hidroavião esquiando os flutuadores sobre as águas do  canal. 

Perto  do meio dia a neblina desce ao nível das águas tornando impossível ver além de 5 metros do bico da aeronave. Motores desligados, flutuam por 4 horas diante de Cananeia e seus dois canhões coloniais apontados para o mar; impossível prosseguir viagem. Aparentemente, ninguém a bordo sabia que o país estava à  beira de uma revolução. Chatô trocava ideias com seu vizinho de assento, o industrial e engenheiro  

Luís Betim Paes Leme. Era conversa interminável sobre o papel do carvão na siderurgia brasileira. 

UMA VIAGEM AÉREA (QUASE)  ATÉ POA, ANOS 30 

Às 3 da tarde, quando deveriam estar sobrevoando POA a aeronave decola. Puetz informa, contudo, que voariam até Paranaguá, 70 quilômetros ao sul onde pernoitariam. Caia garoa fina de céu encoberto por nuvens Pela manhã prosseguiriam viagem até Florianópolis. Em Paranaguá onde jantou grandes camarões fritos, não ouviu qualquer notícia sobre a revolução. Teria sido abortada? CHATÔ não sabia, mas naquele exato momento, POA  já se achava em mãos  rebeldes. As 5,30 horas da tarde, Osvaldo Aranha, José Antonio Flores da Cunha mais 50 homens fortemente armados tinham tomado de assalto o  quartel-general da 3ª Região Militar gaúcha. Após luta intensa, quartel e o maior arsenal do exército no sul do país caem em mãos dos rebeldes. Em Belo Horizonte não foi diferente. Apenas na Paraíba, por equívoco de comunicação, a revolução começa no dia 4 de outubro, quando Juárez Távora toma o quartel do22º Batalhão de Infantaria.

No RJ, alheios aos fatos, parlamentares discutem abobrinhas no Palácio Tiradentes. Já Washington Luís decretava a prisão de CHATÔ, que (era sabido), fugira para o sul. A imprensa  estaria censurada de 4 a 24 de outubro, os exatos 20 dias de duração do golpe de 30. 3.162

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