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Nyra Terezinha Búrigo Scouto - Primeira médica em Criciúma (Parte 9)

Por Henrique Packter 11/01/2020 - 09:35

Atendi Nyra em 10.7.1970 aos 30 anos de idade. Nascida em Encruzilhada (RS), tinha visão normal em ambos os olhos. Foi reexaminada em 29.8.1974. Queixava-se de atroz enxaqueca desde os 15, 16 anos. Pré-diabética, fumava 30 cigarros por dia, talvez a causa do câncer de pulmão que a vitimou em 2000 aos 60 anos.

Voltei a atender Nyra em 19.5.1995. Tinha Síndrome nefrótica, Hepatite B crônica, déficit auditivo. Contava 54 anos. Retornou em 18.12.1997 aos 57 anos. Tinha hipermetropia e astigmatismo em ambos os olhos e visão normal com correção. Ainda não havia queixas relativas ao câncer que a vitimaria menos de três anos depois em setembro de 2000.

DESPEDIDAS

Estes relatos, iniciados há 4 anos, homenageiam parte do universo médico sul-catarinense. Sinto não ter sido possível falar de todos. Alguns, procurados, não mostraram interesse em fornecer dados para publicação de curta biografia hebdomadariamente editada. Mas, um dia voltarei à carga.

Não sei se alguém aí sabe que meu pai foi um modesto padeiro, proprietário de modesta padaria em Santa Maria, RS, na travessa dona Luíza.

Antes disso, dedicara-se ao trabalho de cobrador nos bondes da Light, RJ. Juntou algum dinheirinho pensando em pegar o trem até Uruguaiana e dali a Buenos Aires. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra, Dona Geny, minha mãe. Encontraram-se em Santa Maria e nunca mais se deixaram.

A padaria portenha nunca aconteceria juntamente com os sonhos de morar no Prata.

Um pesadelo recorrente sempre atormentou meu sono de garoto. Via meu pai de avental e touca brancas, um sacerdote; sacerdote com paramentos brancos de padeiro. Erguia nas mãos diminuto pão iluminado pela luz de um raio de luz fraco e louro; o pão brilhando como hóstia, enquanto dizia:

- É puro! É puro!

O jornal A RAZÃO de Santa Maria publicara caso de padeiro de Jaguarão, preso por estar fabricando pão com farinha de trigo pura. Fiquei impressionadíssimo

O prefeito que mandara prender o padeiro, estava, contudo, coberto de razão. Tínhamos pouco trigo, quase todo importado da Argentina, daí ser necessário misturá-lo. O padeiro foi punido por fabricar pão com trigo puro e isso era incompreensível para o menino de poucos anos que eu era.

Glória, padeiro de Jaguarão, padeiro do pão de trigo puro.  Em meio à falsa honestidade de governantes, às falsas afirmações de políticos profissionais, à falsa arte, à falsa crítica de arte, à falsa cultura, à falsa valorização de quem não tem valor algum -, glória a ti ó padeiro de Jaguarão.

Vivemos num frenesi das falsificações. Nossas roupas de fino tecido inglês, vem da China; o uísque escocês legítimo vem do Paraguai e é o que mais há junto às palavras de falsa moral. Oradores falam com voz embargada por falsa emoção, chefes policialescos punem falsos crimes, partidos fazem falsas coalizões ou se colocam em falsa oposição. Grandes vultos da pátria estremecida vão para o panteão da nação sem nada terem feito para merecê-lo

De tudo isso nos queixamos a falsos amigos políticos e eles nos fazem falsas promessas. Piorando tudo, a paciência do povo se esgota; nas ruas promove distúrbios ocasionais quebrando falsos produtos de falsos comerciantes.

Tu, só tu, fazes o puro pão de trigo, ó padeiro cultor da pureza. E o fazes às escondidas, e, é aí nas sombras e penumbras de Jaguarão que sovas tua massa de trigo puro e a levas ao forno de lenha, fogo de teu coração.

Glória a ti padeiro, preparador derradeiro da branca hóstia da verdade eterna e terrena do pão dos homens. Glória ao padeiro que acredita e faz o pão.

Termina PIONEIROS MÉDICOS, principia HISTÓRIAS DE MÉDICOS.

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