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Adolpho Bloch, um gráfico

Por Henrique Packter 18/01/2021 - 07:51

O ucraniano Avram Yossievitch Bloch (Jitomir, Império Russo, 8.10.1908   — SP, 19.11.1995),  foi um dos mais importantes empresários da imprensa e TV brasileiras. Jitomir, a 120 km de Kiev, era capital da Ucrânia. Filho de Josef e Ginda Bloch, o pai, gráfico nas 2 cidades, orienta os 3 filhos homens (Adolpho, Arnaldo e Boris) no seu ofício. Ainda em Kiev, Adolpho toma gosto pelas artes gráficas e teatro, auxiliando na impressão de cartazes e vendendo libretos com resumo das óperas encenadas no teatro local. Aos 9 anos Adolpho vê os primeiros pogroms contra judeus e a Guerra Civil de 1917, após a queda do czar.

 Durante o regime provisório de Alexander Kerenski, imprimiu o dinheiro que circularia nos primeiros tempos da Revolução Russa. Em 1912 Kerenski  foi eleito membro da quarta Duma por partido moderado. Duma Federal e Soviete da Federação, formam o Legislativo da Federação Russa. A Duma é a câmara baixa da Assembleia Federal; o Soviete da Federação é a câmara alta. Têm sede em Moscou. A Duma compõe-se de 450 deputados, eleitos para mandatos de quatro anos. Criação do Império Russo, seria extinta em 1917, mas, com o fim da URSS, foi reestabelecida (1993), pelo presidente Boris Iéltsin, após sua vitória política na Crise constitucional daquele ano.

Kerenski desempenha papel decisivo na queda do regime czarista. Ministro da Justiça, introduz reformas, incluindo abolição da pena capital, liberdades civis básicas (liberdade de imprensa, abolição da discriminação étnica e religiosa e planos para a introdução do sufrágio universal). Ministro da Guerra e Primeiro-Ministro entre julho a novembro de 1917, prosseguiu guerra contra a Alemanha. Mas não pôde evitar a Revolução de Outubro, quando os bolcheviques liderados por Lênin tomam o poder. Exila-se na Europa Ocidental (1918), depois vive nos EUA (1940) e morre de câncer (Nova Iorque,11.6.1970).

Adolpho Bloch, casado duas vezes (com Lucy Mendes Bloch e Ana Bentes Bloch), não teve filhos.

 A FAMÍLIA BLOCH FOGE PARA O BRASIL

A origem judaica da família Bloch foi motivo para se envolver em problemas (1917, época da Revolução Russa). Passavam fome e assim, com dezessete parentes, Adolpho Bloch troca sua terra natal, Jitomir, por Kiev. Em 1921, deixam a Ucrânia para morar 9 meses em Nápoles, na Itália. Viajam 3ª classe no Re d'Italia, chegam ao RJ em 1922.

OS COMEÇOS

Fundou o grupo de mídia com seu sobrenome, a Rede Manchete (1983), hoje extinta.

Os Bloch já em 1923 compram pequena impressora manual, primeira tipografia na vida de Adolpho Bloch. Os Diários Associados de Assis Chateaubriand, falecido em 1968, são de 2.10.1924. Vão morar em Aldeia Campista (zona norte RJ). Josef Bloch, com minguados recursos trazidos da Rússia, instala modesta gráfica. A família trouxe apenas pilãozinho, usado para espremer especiarias. Daí o título de sua biografia O Pilão, lançada em 1978. Era primo do escritor e médico ORL Pedro Bloch, primeiro foniatra brasileiro. Adolpho estudava à noite no Colégio Pedro 2º e de dia corria o comércio buscando encomendas.

Começam rodando folhas numeradas para o hoje ilegal jogo do bicho. Na década de 40, Adolpho trabalha na editora Rio Gráfica, de Roberto Marinho. Nas redações do RJ conhece boêmios, jornalistas e escritores. torna-se amigo de artistas e políticos; frequenta a área boêmia do RJ, as rodas de gafieira. O Grêmio Recreativo Familiar Kananga do Japão, inspiraria a novela Kananga do Japão, da Rede Manchete (1989), idealizada por Adolpho.

Na redação de A Vanguarda, Adolpho obtém o primeiro grande negócio quando sabe de exportador atrás de embalar laranjas em papel de seda especial. Nenhuma gráfica no RJ tinha condições de executar o trabalho. Adolpho aceitou a encomenda, providencia máquinas, tornando a gráfica Bloch conhecida.

A MANCHETE

Morrendo Josef, os 3 filhos, Adolpho, Arnaldo e Boris, administram a gráfica, e logo Adolpho revela qualidades que o tornariam líder. Vence a resistência dos irmãos e lança a revista Manchete – algo considerado rasgo de loucura -, o mercado era pequeno e havia um gigante na praça, a revista O Cruzeiro, com tiragem  de 700 mil exemplares por semana.

Em 26.4.1952,  três meses após  Irineu Noal ter seu teco-teco laçado em pleno voo em Santa Maria, RS,  Adolfo Bloch lança Manchete, semanário de âmbito nacional. É o início de um dos maiores impérios de mídia da América Latina. A revista se torna a mais lida do Brasil, ganhando projeção mundial.

Difíceis os primeiros anos de Manchete, embora a revista reunisse equipe de jornalistas de primeira ordem: Carlos Drummond de Andrade, Magalhães Júnior, Rubem Braga, Sérgio Porto, Lúcio Rangel, Vinícius de Moraes, Henrique Pongetti, Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.  (Continua) 4.703

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