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A história de quem fica na fila da UBS da Vila Zuleima

Toda sexta-feira, moradores fazem fila para garantir consulta na unidade de saúde; secretário promete melhoria na comunicação do processo de triagem
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 24/01/2020 - 12:38 Atualizado em 24/01/2020 - 12:39
Fichas são entregues e população aguarda dentro da UBS para fazer o agendamento (Fotos: Heitor Araujo)
Fichas são entregues e população aguarda dentro da UBS para fazer o agendamento (Fotos: Heitor Araujo)

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É recorrente a formação de filas na Unidade Básica de Saíde (UBS) da Vila Zuleima, em Criciúma, que atende uma população 5 a 6 mil pessoas. Com apenas um clínico geral e um dentista atendendo durante a semana, os pacientes chegam desde as primeiras horas de sexta-feira para conseguir uma das 50 fichas para marcar consulta. 

Nesta sexta-feira, com o tempo chuvoso no Sul catarinense, quem estava na fila para o agendamento teve que improvisar. Os que estavam sem guarda-chuva, procuravam abrigo na parada de ônibus ou em marquises próximas à entrada da UBS. O atendimento no local começa às 8h, mas desde as 5h já havia gente esperando para garantir uma das fichas, na calçada em frente à unidade. Quem esteve desde as primeiras horas da manhã na UBS foi Miguel Ferreira, 55 anos, morador da Vila Zuleima.

Pelo menos uma vez por ano, ele vai até a UBS para fazer exames de rotina. Planejava, nesta sexta, chegar por volta das 7h30 para garantir a consulta, mas foi aconselhado pela mulher a chegar com horas de antecedência, pois vizinhos reclamaram que na semana anterior ficaram sem a ficha. "Se vir às 8h, já não pega senha mais. Vim fazer um check-up, aproveitar que estou de férias. É tudo tranquilo", disse Miguel.

Para não tomar chuva, paciente aguarda do outro lado da rua o agendamento

Já Elisa Coelho Menezes, 66 anos, voltou para a casa sem o agendamento de consulta. Ela mora há poucos dias em Criciúma, vinda de São Jerônimo, no Rio Grande do Sul. Seu marido faz tratamento em Porto Alegre e precisa de receita médica para comprar os medicamentos em Santa Catarina. Pelo segundo dia, o casal volta sem marcar a consulta na UBS. 

"Perguntei para a atendente se tinha que chegar antes, porque lá em São Jerônimo também tem que chegar às 5h para conseguir senha, mas ela disse que era tranquilo. Ela tinha dito que vinha na sexta-feira, tirava a ficha e já consultava, mas não foi o que aconteceu", falou Elisa.

O secretário de Saúde do município, Acélio Casagrande, esteve na UBS na manhã desta sexta-feira. Segundo o secretário, há falha de comunicação entre a UBS e a comunidade. O município implantou um sistema avançado de agendamento, com uma triagem com a enfermagem para determinar a urgência das consultas a serem marcadas. 

"Vamos verificar. Se o agendamento é feito somente na sexta-feira para toda a semana, vamos mudar isso. O agendamento não deve ser em um dia da semana, ele tem que acontecer todo o dia. A gente não quer que ninguém fique sem número", afirmou o secretário. "Está acontecendo a triagem, mas não da forma como é combinada com a comunidade, de elas poderem ir qualquer dia da semana. Essa comunicação com a comunidade vai melhorar. Elas não precisam ir na sexta de manhã para pegar o número, ela pode ir a qualquer hora do dia", explicou Acélio.

Segundo o secretário, com a implementação do sistema proposto pela secretaria, o agendamento pode ser feito a qualquer hora do dia. "No sistema, o enfermeiro faz uma pré-avaliação a qualquer hora do dia, não tem essa de ficar esperando número. A pessoa chega, se é uma consulta eletiva, pode agendar para os próximos dias. Ele é feito qualquer hora do dia, se é urgente atende, se não é urgente, programa".

Enquanto UBS não abre, população espera na chuva

Acélio também falou sobre a dificuldade do município na área da saúde. Para março, espera nomear 100 profissionais, entre médicos, enfermeiros e técnicos. "Estamos com dificuldades de ter profissionais médicos. As comunidades cresceram, a vila Zuleima cresceu. Um médico tem condições de fazer os atendimentos necessários em um período de 8 horas, desde que tenha a triagem com o enfermeiro. A necessidade de mais médicos, temos que avaliar. Estamos fazendo esse levantamento em todas as unidades. A equipe de saúde da família é para no máximo 3 mil famílias, mais do que isso fica complicado', concluiu.

Queixas

Para quem fica na fila, resta aguardar. Enquanto isso, o povo reclama do sistema de agendamentos da UBS; por outro lado, os funcionários alertam que não há necessidade de chegar mais cedo na sexta-feira para marcar as consultas. Raimunda Lemos, 54 anos,  foi pela segunda semana consecutiva na unidade para conseguir marcar a consulta de entrega de exames.

"Começo do mês vim pegar número e consegui, há duas semanas não. Hoje tive que vir cedo. Sexta-feira passada vim 7h50, tinha 100 pessoas na fila e tive que ir pra casa sem a consulta. Eles podiam abrir mais cedo, passar um funcionário aqui e entregar a senha às 7h, de repente. Ficam idosos aqui, tomando chuva, sem ter onde sentar. A prefeitura tinha que tomar alguma atitude. Não pode ficar assim", desabafou.

UBS abre as portas e a fila na rua acaba rapidamente

Pacientes queixam-se do tempo de espera, afirmando que perdem dois dias para marcar e fazer a consulta na UBS e só conseguem justificativa para apresentar no trabalho no dia da consulta. Outros acabam correntemente enfrentando as filas, como é o caso de Vera Lúcia, de 62 anos. Ela fez uma cirurgia para a retirada de um tumor benigno do cérebro há alguns anos e frequentemente faz exames de acomanhamento: vai à UBS aproximadamente três vezes por mês. 

"O Sus é um sistema bom, mas não tem investimento em cima disso", reclama Vera, que é interpelada por uma amiga que também aguardava na fila: "falta profissional. Eles dizem pra gente que a gente tá fazendo errado, que nos outros postos funciona bem. Eles dizem para vir 8h, semana passada eu vim e ficou mais de 15 pessoas pra trás. Um posto só para vários bairros?", desabafou. 

Na próxima semana, a secretaria de Saúde fará reunião com os conselhos locais e equipes de saúde para detectar e tentar a solução para os problemas enfrentados nas unidades de saúde. 

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