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A Eliane agora é norte-americana

Família Gaidzinski negocia a empresa de Cocal do Sul com a Mohawk, líder mundial em cerâmica
Por Denis Luciano Cocal do Sul, SC, 20/10/2018 - 07:05
Arquivo / A Tribuna
Arquivo / A Tribuna

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Se há um time de grifes que representa o Sul de Santa Catarina para o Mundo, nele está com certeza a Eliane. Referência nacional em revestimentos cerâmicos, a empresa, fundada em 1960 pelo filho de imigrantes poloneses Maximiliano Gaidzinski em Cocal do Sul, deixa de ser propriedade brasileira. Após negociação que avançou por um ano, houve a venda de 100% das ações para a norte-americana Mohawk Industries, de Calhoun, Georgia.

“É verdade”, limitou-se a dizer o diretor-presidente Édson Gaidzinski Jr. Em nota divulgada no final da tarde dessa sexta-feira, a direção da empresa comunicou que a aprovação da venda se deu por 100% dos acionistas. “O Grupo Mohawk, além de líder global em revestimentos vinílicos e carpetes, é atualmente a maior empresa do setor cerâmico mundial”, anuncia o comunicado emitido.

A Mohawk tem valor de mercado superior a 11,2 bilhões de dólares. Contabiliza faturamento bruto de 3,4 bilhões de dólares e tem operações em diversos países, tais como México, Rússia, Austrália, Nova Zelândia, Malásia e na Europa. O investimento na Eliane é a entrada da empresa no mercado brasileiro. 

Ainda na nota, a Eliane informa que “a atual equipe gestora da companhia será mantida”. Isso, porém, diz respeito aos diretores-executivos contratados, e não aos membros da família Gaidzinski. O único que permanecerá ligado à empresa sob a gestão da Mohawk é o atual diretor-presidente Édson Gaidzinski Jr. Por acordo da transação, ele permanecerá dois anos atuando junto à nova direção. “Com essa mudança de controle acionário, a Eliane dará seguimento ao seu planejamento estratégico, mas amplia a capacidade de implementar os seus planos de crescimento”, registra a nota. 

Otimismo e surpresa

Há cerca de quinze dias, o prefeito Ademir Magagnin recebeu, em seu gabinete, um dos diretores da Eliane. Na conversa, ouviu relatos sobre a captação de um investimento de R$ 100 milhões. “Eles estavam buscando esse recurso para construir um novo pavilhão de 40 mil metros quadrados para armazenar a produção em um local só, e não fragmentar em vários pavilhões das unidades de Cocal”. Por essas e outras, ele reconheceu a surpresa com a notícia da venda da empresa para os norte-americanos.

“Foi surpresa sim. Mas estamos otimistas. Vai ser positivo para a Eliane e também para Cocal do Sul”. Magagnin nutre a expectativa que o retorno de ICMS vá sofrer acréscimo, confirmando o peso que a empresa tem para a cidade. Ela é, disparado, a maior fonte de retorno de impostos. “Cerca de 70% do nosso ICMS vem da indústria, e grande parte disso é resultado da Eliane”.

Ademir Magagnin, prefeito de Cocal do Sul / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna / Arquivo

O otimismo de Magagnin vem das informações que ele já colheu dos novos proprietários. “Não terá reflexo negativo. Eles são um grupo enorme, líder mundial, conhecem o ramo. Se adquiriram, vem com intuito de investir e ampliar. Não vejo risco de tirarem algo ou reduzirem produção aqui, já que a Eliane não tem outro ponto estratégico no Brasil”, enfatizou.

Eliane nunca faturou tanto

A empresa bateu seu recorde de faturamento no mês passado. Alcançou R$ 100 milhões, marca inédita na história da Eliane. “Isso foi resultado operacional, de estratégia e reengenharia da empresa”, elogia o economista Ênio Coan. “Uma melhor administração, com dinheiro próprio em caixa e lucros aqui na operação, sem pagamento de juros, dá um grande fôlego e expectativa de crescimento ainda maior”, projeta.

O economista lembra que a Eliane, apesar do faturamento recente, enfrentava dificuldades no comprometimento com o mercado financeiro. “É que o Grupo Itaú tinha 30% de participação acionária, trazia as finanças em rédea curta, isso dificultava novos investimentos e o endividamento com juros estava alto”, aponta Coan. “Como a Mohawk comprou 100%, o Itaú sai do cenário na Eliane, que vinha muito bem em vendas. Nunca antes tinha passado dos R$ 80 milhões de faturamento”, acrescenta.

Coan recorda, ainda, que essa não foi a primeira aproximação da Eliane com o mercado externo. “Recentemente houve uma tentativa de negócio com a Home People, maior de todas na comercialização de materiais de construção com 900 lojas nos Estados Unidos e Canadá”, pontua. 

Economista Ênio Coan / Foto: Arquivo / A Tribuna

A perspectiva do economista vai na linha do otimismo do prefeito Ademir Magagnin. “Isso é bom para a economia regional, vejo que o que aconteceu com a Ceusa com investimento externo no ano passado pode acontecer agora com a Eliane. Para a construção civil também vai ser muito bom”, aposta Coan.

Uma história com capítulos de muito sucesso

Em 1960, Maximiliano Gaidzinski adquire uma pequena cerâmica falida em Cocal do Sul depois de tentativas de investimentos na mineração em Criciúma e na agricultura, em Urussanga. Com 47 anos e ao lado da esposa e dos filhos Jarvis, Edson, Edna, Vicente e Eliane, buscou na caçula a inspiração para o nome da empresa. 

O início da Eliane em Cocal do Sul / Foto: Acervo histórico / Eliane

Do início pequeno, a inauguração do escritório central em 1967 marcava o início da consolidação. Novo salto veio em 1972, quando a Cerâmica Eliane deixava de produzir apenas azulejos, e começava a fazer pisos. Por essa época, outra marca de Maximiliano: a ampla visão social com a mão de obra. Ele empregava mulheres em massa para suas linhas de produção, algo pouco comum à época.

A fundação do Colégio Maximiliano Gaidzinski, em 1979, marcou outro passo estratégico importante para o futuro da Eliane. Ali, a formação de gerações de mão de obra garantiu a renovação dos trabalhadores, uma preocupação reinante. Coincidência ou não, no ano seguinte, 1980, a Eliane assumiu a liderança do mercado nacional de pisos e azulejos.

Inauguração do escritório em Cocal do Sul, 1967 / Foto: Acervo histórico / Eliane

O passo rumo ao mundo veio em 1984. Com mais de 20 anos de atuação, veio a condição para abrir suas portas ao mercado externo. A primeira ida à feira Cersaie, na Itália, marcou essa apresentação. A partir dali, as exportações evoluíram rapidamente. A morte de Maximiliano Gaidzinski, em 1987, enlutou a empresa. À época ele era dono de uma das dez maiores fortunas do Brasil.

Mas nem a perda do líder brecou o progresso. Em 1988, a inauguração da terceira unidade em Cocal do Sul ofereceu à Eliane condição de aumentar ainda mais sua já forte produção. Nos anos 90, a marca se tornou ainda mais conhecida nacionalmente com aposta em uma mídia até então inédita para a marca de Cocal do Sul: a exposição de seus produtos em novelas da Rede Globo. Em paralelo, o sucesso do Criciúma Esporte Clube carregando o nome Eliane a levava longe.

CMG inaugurado em 1979 / Foto: Acervo histórico / Eliane

A inauguração de uma unidade nos Estados Unidos em 1994, o pioneirismo na produção de porcelanato em 1996 anteciparam os anos 2000, nos quais a tecnologia consolidou a Eliane.

A empresa chega ao ano 58 com as suas unidades 1, 2 e 3 em Cocal do Sul, mais a Eliane Artística na cidade sede, a unidade Porcellanato em Criciúma e a Céramus, em Camaçari, na Bahia. São 36 milhões de metros quadrados de revestimentos produzidos anualmente, mais de 15 mil pontos de vendas no Brasil e presença em mais de 80 países.

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