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Bolsonaro em SC: sinal verde para a direita, sinal amarelo para o bolsonarismo

"Político sem mandato, nem o vento bate nas costas"

Por Maga Stopassoli 30/07/2023 - 12:57 Atualizado em 31/07/2023 - 15:22

Bolsonarismo x direita: uma coisa é uma coisa. Outra coisa, é outra coisa.

O evento do PL Mulher que ocorreu neste sábado, 29, em Florianópolis reuniu homens e mulheres de diversas cidades do estado e permitiu fazer uma leitura sobre o atual momento do bolsonarismo em Santa Catarina. O encontro, que tinha como convidada especial a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, deixou a desejar quanto ao número de pessoas presentes. Mesmo com um público considerável, se esperava mais de um evento com a presença não só de Michelle, mas também de seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o “fenômeno”, como dito por ela no palco. 

Um churrasco para o ex 

O casal chegou ao estado na sexta-feira ao meio-dia e foi recebido por Jorginho Mello na Casa D’Agronômica, residência oficial do governador. Além do encontro com políticos e aliados, Jorginho ofereceu um churrasco ao ex. Tratado com a pompa e circunstância que a ocasião pedia, Jorginho fez o “gesto”. O nobre leitor que agora me dá a honra de ler essas linhas, já deve ter ouvido falar que “política é gesto”. Muito daquilo que não pode ser dito com palavras, é dito com gestos. Jorginho fez o que tinha de ser feito, ou seja, recebeu o ex-presidente e a esposa, circulou com ele em locais estratégicos de Florianópolis, levou a visita para a festa do Agricultor na pequena e simpática Ituporanga, no Alto Vale, fez fotos e vídeos. Jorginho fez o gesto, uma espécie de "Muito obrigada, Jair, mas agora vou focar no governo". Era a cena final que faltava nessa dança política, cheia de entrelinhas.

Júlia Zanatta e Ana Campagnolo

Embora a imagem de Michelle Bolsonaro fosse a grande cereja do bolo no encontro de ontem, não há como desviar os olhos da presença de outras mulheres do PL, eleitas ou reeleitas no ano passado. É o caso das deputadas Ana Capagnolo e Júlia Zanatta, estadual e federal, respectivamente. Juntas, fizeram mais de 300 mil votos em Santa Catarina  2022. A primeira, foi anunciada ontem como a nova presidente do PL Mulher no estado. Ana Campagnolo tem encontrado cada vez mais seu “lugar” na vida pública e transformado isso em capacidade de liderança. Ela não depende mais do “bolsonarismo”. Soube trazer pra si o efeito “Jair Bolsonaro”. Muito provavelmente nunca veremos Campagnolo distanciada de Jair, mas, cada vez mais, ela se torna uma referência de direita, e não mais do Bolsonarismo, movimento nascido a partir do que prega (va) Jair Bolsonaro. No discurso de ontem, Ana Campagnolo demonstrou uma habilidade que muitos políticos passam uma vida tentando fazer: ser breve e ser ouvida (e aplaudida).

Em seguida, foi a vez de Júlia Zanatta fazer uso da palavra. Enquanto ainda cumprimentava o público e citava o nome das cidades que estavam presentes, passou pelo constrangimento de ser interrompida por Michelle que pegou o microfone de Júlia e fez questão de ela própria anunciar o nome das cidades. Uma nítida falta de educação com uma deputada federal que fazia uso do seu direito de falar. Quando pode retomar a fala, Julia falou sobre sua trajetória e foi a única parlamentar a fazer menção ao governador Jorginho Mello, de quem se mantém próxima e tem portas abertas. A deputada disse que Jorginho é um grande apoiador de mulheres na política e que Ana Campagnolo é a melhor deputada do Brasil. Em comum, elas têm a habilidade de se movimentar ideológica e politicamente, manter suas bases vivas e, com isso, manter o apoio do eleitor. E, sim, ambas foram eleitas na esteira do bolsonarismo, mas não dependerão disso num futuro próximo.

O cansativo discurso de Michelle

A ex-primeira-dama foi tietada e bem recebida em solo catarinense. Das mulheres filiadas ao PL às que pretendem se filiar, Michelle teve tratamento vip e digno de figura influente. Só que não conseguiu furar a bolha e falou para convertidas. Os deputados e deputadas tinham o compromisso de levar pelo menos um ônibus de cada de apoiadores, mas, ainda assim, o evento não convenceu. Claro que Michelle é agora a carta na manga do PL para tentar barrar a debandada de muitos apoiadores do marido. Apesar da boa desenvoltura, a ex-primeira-dama ainda escorrega no discurso, que, ora parece a de uma animadora de excursão, ora parece comandar um culto religioso. A estratégia funciona momentaneamente, mas não amplia a base eleitoral. Só que o poder é fascinante e quem teve acesso a ele, toma gosto. Com o marido inelegível, pelo menos, por enquanto, Michelle tenta trazer os holofotes para si, fazendo crer que possa ser o nome do PL na disputa presidencial. Não será. Michelle precisa, além de refinar e melhorar seu discurso, aprender a respeitar quem tem mandato. Surfar na onda do cargo que ocupou pode até funcionar nesse primeiro ano pós-eleição, mas não garante voto. E a Mi não tem voto pra isso tudo.

Bolsonaro continua sendo um fenômeno de popularidade

Jair Bolsonaro chegou ao local do evento acompanhado do governador Jorginho Mello e foi recebido com euforia pelo público. Ele subiu ao palco e fez um discurso curto, já que tinha de seguir viagem para o Alto Vale. Nos poucos minutos em que esteve lá, falou sobre sua inelegibilidade, sobre os presos pelos atos de 8 de janeiro, criticou o judiciário brasileiro e disse que foi punido por suas virtudes.

“Triste é o país onde as autoridades do judiciário punem os seus cidadãos não pelos seus erros, mas punem pelas suas virtudes. Me tiraram os direitos políticos, mas isso não nos abala. Temos milhares de sementes por todo Brasil. Eu apoio a participação das mulheres na política via fazer a diferença. Essas cores aqui, hoje mais rosa do que verde e amarelo, realmente nos faz cada vez mais receber a chama da esperança de que nós venceremos pelo nosso Brasil. Dizer a vocês que a grande marca que fizemos ao longo desses 4 anos foram apenas 4 pequenas palavras, mas que fazem toda diferença. Deus pátria família e liberdade. Hoje temos aproximadamente 300 irmãos presos em Brasília de forma covarde, de forma arbitrária. Que esse seu sofrimento se Deus chegue ao fim. Eles não querem realmente que nós venhamos saber a verdade do que acontece no nosso país. Eles querem esconder a verdade”.

Bolsonaro e Jorginho saíram dali em seguida, momento em que alguns apoiadores também deixaram o local, já que estavam ali só para ver Jair Bolsonaro.

Sinal amarelo para o bolsonarismo

Nas tantas leituras possíveis sobre o encontro, uma delas é que o bolsonarismo começa a sentir o efeito de uma derrota nas urnas. A direita, como é possível ver todos os dias ao acompanharmos a política estadual e nacional, está cada vez mais organizada. O bolsonarismo segue uma corrente contrária. O gesto de vir a Santa Catarina é uma tradução da tentativa de frear a debandada de quem antes apoiava Jair Bolsonaro. Aqui, Michelle e Jair sabiam que estavam pisando em território amigo e seria possível medir um pouco a febre das ruas. Só que o termômetro catarinense não é a melhor medida. Nosso estado não decide eleição. A classe empresarial catarinense não tem mais demonstrado a mesma empolgação com o discurso “Deus, pátria, família e liberdade”.

A preocupação é com a reforma tributária, o andamento das obras nas cidades, e com o governo Jorginho. Talvez tenha acabado o recreio e chegado a hora de Jorginho Mello fazer valer sua trajetória política que é vitoriosa. Ele mesmo sempre disse que nunca perdeu uma eleição. Está feito o gesto que muitos eleitores queriam ver. Agora é hora de olhar para os tantos problemas do nosso estado e focar na lição de casa. Jorginho sabe fazer. Mas segue andando numa espécie de corda bamba, tentando não entrar em rota de colisão com parlamentares barulhentos eleitos pelo bolsonarismo. Só que quem gera emprego e renda, quer saber de solução para o problema real, do dia a dia.

Gesto aos prefeitos

Faltando um ano praticamente para as eleições municipais, Jorginho não tem mais tempo a perder e precisa começar a atender as demandas dos municípios. Esse gesto será importante após as eleições municipais, quando será a sua vez de cobrar o apoio dos prefeitos para a sua reeleição. Mas essa é conversa para o próximo post.

Enquanto todos contabilizam os efeitos da vinda de Jair e Michelle, a direita comemora sua força e o bolsonarismo liga o sinal amarelo, apesar das imagens que circulam de apoiadores em bom número recepcionando Bolsonaro em Ituporanga, por exemplo. ~Saudade de uma motociata, né, meu filho?~

É que, como diria um grande amigo meu:
“Político sem mandato, nem o vento bate nas costas”. 

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