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Araranguá, a terra dos apelidos exóticos e a figuraça do Loló

Por Aderbal Machado 01/10/2022 - 07:00

Personagem folclórico dos bons tempos do Araranguá, torcedor emérito e cativo do time do Grêmio Esportivo Araranguaense, Loló viajava com a delegação sempre. Eu era goleiro reserva do aspirante (tudo pelos idos de 1958/1959). O goleiro titular e absoluto do time era o Nilson (Matos Pereira), com o Nedo (Enedir Perraro) na reserva. Houve jogos em que Nedo assumiu a posição,  =porque o Nilson cismava de jogar no ataque. E o Quitandinha (Alirio Monteiro), técnico do time, o escalava como centro-avante. Não tinha como  não escalar, ou o Nilson ficaria zoando no ouvindo dele o tempo inteiro.

Pois o Loló, nosso personagem, costumava beber todas. Entrava no ônibus já “abastecido”. Embora isso, era dócil, não encrencava com ninguém. Só ficava na galera, torcendo feito um doido, berrando alucinadamente. Era nossa mascote, por assim dizer. Pois fomos disputar uma partida na Mineração da Içara contra o Barão do Rio Branco. Campinho pequeno, sem cerca e sem alambrado, a torcida fungando no cangote dos jogadores e do árbitro. Acabamos empatando em zero a zero. A torcida local não gostou. E resolveu nos pressionar e provocar. Ao tentarmos ir para o ônibus, um corredor polonês se formou. Ficamos quietinhos e fomos nos encaminhando. Todos no ônibus, motor ligado, cadê o Loló? 

Uma gritaria lá fora, tumulto, amontoado de gente, a caboclada cercou o Loló e batia nele com vontade. Saímos correndo do ônibus e fomos em socorro dele. Empurra daqui, empurra dali, bate daqui, leva sopapo de lá, pegamos o Loló todo estropiado e levamos pro ônibus. Não sem pressão total. O ônibus arrancou e saímos do sufoco, finalmente. 

Mais aliviados, cuidamos do Loló, todo rebentado, mas firme. E perguntamos o que deu na cabeça dele de provocar os caras naquela situação de vulnerabilidade. “Falaram gracinha pra mim, eu não gostei e fui pra porrada”.  Na realidade, “fui pra porrada” era um eufemismo mal colocado para dizer que apanhou pra burro e não conseguiu bater em ninguém.  

E Loló, mesmo assim e olhando pra nós, comentou: “Nossa, “briguêmo” barbaridade, né?” A gargalhada geral encerrou o episódio. Loló era uma figuraça inesquecível.

Até hoje não sei o nome do Loló, como não sei o nome de tantos araranguaenses diletos do meu tempo, que só eram conhecidos por apelido. Araranguá era requintada em apelidos: Nadico, Lulu, Joia, Mememo, Cecê, Piava, Pé-de-carne, Savelha, Bagre, Pinguim, Cabide, Foguinho, Cambota, Lelém, Ferrinho, Inchume, Boça, Dedagem, além de tantos outros que, se eu puxasse pela memória, iriam brotando.

(A imagem que escolhi para ilustrar esta crônica e que me é especialmente querida foi esta. A lateral da Praça Hercílio Luz, com seu casario misturando as arquiteturas, local de residência de muitas famílias tradicionalíssimas da cidade. A visão é, exatamente, a partir da esquina de nossa casa saudosa, ao lado do Posto do André Wendhausen. Quase choro ao visualizar. Foto: Salvador. História imorredoura)

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