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Bombas e bombinhas

Por Dr. Renato Matos Edição 11/03/2022
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Asma é uma doença respiratória, secundária a um processo inflamatório das vias aéreas.
Quando os brônquios inflamados são estimulados, há produção exagerada de muco e constrição dos músculos que os envolvem, dificultando o fluxo de ar, principalmente, durante a expiração, causando os característicos chiados.
Também fazem parte das crises de asma: tosse, geralmente seca, falta de ar e aperto no peito.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, são estimadas 262 milhões de pessoas com asma no mundo. Em 2019 morreram 461 mil.
Ao longo dos séculos, os mais diversos tratamentos foram tentados, inclusive, a inalação do tabaco, que, segundo as propagandas da época, “ajudaria a expectorar”. 
Nas décadas de 40 e 50, os medicamentos para asma se baseavam no tratamento do espasmo dos brônquios.
Eles combatiam a consequência da doença – o broncoespasmo – mas não sua causa - a inflamação.
O uso desses broncodilatadores levou a milhares de mortes entre as décadas de 60 e 80, pelos efeitos colaterais do uso excessivo – e por não tratar a causa básica.

O Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 1950 foi atribuído conjuntamente a Edward Calvin Kendall, Tadeus Reichstein e Philip Showalter Hench pelas suas descobertas relacionadas com os hormônios do córtex adrenal - uma pequena glândula localizada em cima dos rins. 
Estavam descobertos os corticosteróides.
Lançados comercialmente no final da década de 50, passaram a ser usados indiscriminadamente, com espetaculares resultados em pacientes com asma.
O que parecia ser um milagre da medicina da época, logo se mostrou um desastre. 
Os efeitos adversos dos esteroides tomados por via oral ou usados por via intramuscular ou endovenosa, principalmente, em doses altas ou por períodos prolongados, eram frequentes e graves.
Foram praticamente banidos do tratamento da asma.
No final da década de 60, começaram a ser testados os corticosteróides administrados por via inalatória – as “bombinhas”.
Foram lançados comercialmente ao final da década de 80 – e mudaram a história natural da doença.
Usados em doses muito baixas, atuando principalmente a nível local, com pouquíssima absorção sistêmica, são extremamente seguros e facilmente acessíveis, inclusive pelo SUS. 
Infelizmente, décadas após seu lançamento, ainda vemos pessoas usando suas bombinhas broncodilatadoras – como o Aerolin ou Aerotide – como seu único tratamento. 
É erro crasso. 
Está provado que broncodilatadores utilizados sem a associação com os corticosteróides inalatórios, além de não controlarem a doença, aumentam sua mortalidade.
Tratar o broncoespasmo sem tratar a inflamação é como tomar analgésicos para dor de dente, sem tratar a cárie que a provoca.

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