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Projetando excelentes alunos e grandes atletas

Colégio Marista de Criciúma conta com projetos filantrópicos, forjando estudantes e esportistas
Por Vítor Filomeno Edição 03/12/2021

Uma filosofia é eterna? Um estilo de vida é perpétuo? E um jeito de educar? Responder a essas perguntas levaria mais que uma reportagem, mas é possível encontrar exemplares de cada uma, embora ninguém conseguirá verificá-las. Aristóteles, por exemplo, já discutia a ideia de democracia no século V A.C. Já entre 500 e 1.000 D.C., surge o povo cigano, que, mesmo não sendo homogêneo e compacto, mantém suas tradições há mais de mil anos.

Quanto à última questão, São Marcelino Champagnat fundou um instituto com uma disposição educacional diferente do que havia até então. O Instituto dos Irmãos Maristas, ou somente Marista, foi criado por Champagnat em 1817, baseado na crença de que, por meio da educação, poderia fazer “Jesus Cristo conhecido e amado”. Atualmente, a instituição está presente em 81 países, nos cinco continentes, educando mais de 654 mil crianças e jovens.

O Brasil não poderia ficar de fora disso. Aqui, o Marista se faz presente em 79 cidades, com 94 instituições de ensino privadas, 31 unidades sociais e nove centros de ensino superior, atendendo mais 165 mil pessoas. Criciúma é um dos municípios agraciados com a presença do Instituto, com duas seções: um colégio privado e uma escola social.

O Colégio Marista Criciúma iniciou suas atividades em 09 de janeiro de 1961, tendo já uma caminhada educacional de 60 anos. A unidade tem 1,5 mil alunos matriculados, entre Educação Infantil e Ensinos Fundamental e Médio, além de 200 colaboradores. Já o Centro Educacional Marista Irmão Walmir, no bairro Renascer, atende mais de 400 crianças e adolescentes, de forma gratuita e com a mesma estrutura e estratégia do ensino privado, e conta com 40 profissionais, desde 2010.

Além do aspecto essencialmente educativo, o colégio investe nas questões filantrópicas, como projetos sociais, religiosos e esportivos, além da própria integração com o centro social. Um exemplo disso é a Natação Marista, que possui dois empreendimentos beneficentes: um da Associação dos Pais e Atletas (APA) da Natação Marista e um fruto da parceria com a Fundação Municipal de Esportes (FME) de Criciúma.

Segundo o coordenador do Núcleo de Atividades Complementares (NAC) do Colégio Marista, professor Rafael Fernandes, o projeto da APA é o mais antigo. “A gente tem um que faz anos, que é encabeçado pela Associação dos Pais e Atletas da Natação Marista, que ocorre nos sábados e beneficia as escolas públicas. O pessoal que encabeça vai aos colégios, pede autorização, os colégios encaminham os alunos no sábado e eles vão tocando esse projeto. É mais educativo, para aprendizagem de natação”, disse.

A novidade ficou por conta do segundo propósito filantrópico. “Neste ano, a gente também iniciou uma parceria com a FME, para as escolas públicas. Devido à pandemia, a gente pensou de forma bem enxuta, atendendo duas escolas do município agora. Eles comparecem nas sextas no período da tarde, e nas terças e quintas no período da manhã. O Colégio cede toda a estrutura para o professor da Fundação realizar esse projeto”, explicou Fernandes.

O coordenador do NAC ainda prevê um aumento no número de atletas participando das duas modalidades sociais que a Natação Marista oportuniza. “Hoje, a gente atende em torno de 40 crianças. Em 2022, a gente espera atender, com o projeto dos sábados, 400 crianças”, admitiu. O professor Rafael enfatizou que o objetivo desses projetos é educativo, visando o ensino dessa prática esportiva para as crianças e adolescentes participantes. 

Leonardo Schilling, presidente da Natação Marista, reafirmou o que Fernandes disse e complementou: “O foco, com nossos atletas, é possibilitar que eles tenham condições, por meio da natação, para estudar e que façam uma carreira universitária”. Ele mesmo é um fruto do projeto Marista, em que nadou durante anos e, hoje, formado em Direito, voluntariamente, entra na água junto às crianças para auxiliá-las.

Em algumas situações, o Colégio Marista consegue disponibilizar bolsas sociais para jovens que se destacam esportivamente. “Hoje, o colégio infelizmente não pode dar uma bolsa esportiva, mas a gente acaba acolhendo alguém dentro do nosso núcleo, então ele acaba ganhando uma bolsa, não paga nada para estar aqui treinando com a gente. Ele migra do projeto para equipe mesmo de rendimento do colégio”, contou o coordenador do NAC, Rafael Fernandes.

Um desses casos é Nícolas Fonseca, aluno Marista há dois anos e fruto do projeto social da Natação Marista, mas a história dele não para por aí.

Campeão na vida e no esporte

Com 13 anos, Nícolas Fonseca Coelho é natural de Forquilhinha e é apaixonado pela natação, esporte no qual começou aos sete anos. Sua história com as braçadas não teve início em um simples desejo de se jogar na água, mas sim por algumas necessidades físicas que o acompanham há onze anos.

“Ele foi atropelado quando tinha dois anos e meio e perdeu parte da perna esquerda, em 2010. Foi em Forquilhinha. Ele era pequeno e a gente estava em uma loja próxima a minha casa. De repente, ele saiu correndo em direção à rua e um ônibus o pegou na calçada. Passou por cima da perna dele”, relatou a mãe, Alessandra Borges.

Os olhos marejados e a lágrima escorrendo pelo rosto demonstram que a dor ainda vive na família. “Nossa, nem queira saber [a sensação]. A gente se emociona a cada vez que lembra. Não é fácil, não foi fácil. Pior sensação do mundo. Mas a gente conseguiu superar, a gente teve que ter força para dar força para ele. Apesar de ser pequeno na época, não entender, tivemos que ser fortes para dar suporte para ele dali em diante”, recordou ela.

Por ser ainda muito novo à época, Nícolas não se lembra de detalhes da situação, nem de quando exatamente teve a consciência de que não tinha uma parte da perna esquerda. Alessandra, evidentemente, ainda sabe contar, com todos os pormenores, o caminho trilhado pelo filho e pela família depois do acidente.

“Logo depois do acidente, ele só se arrastava no chão. Depois, ele descobriu que conseguia pular em um pé só até colocar a prótese. Após oito meses do acidente, a gente conseguiu colocar a primeira prótese nele. Ele se adaptou superbem”, relembrou Alessandra. Rindo, ela contou uma situação que aconteceu após a primeira protetização de Nícolas: “no primeiro dia, eu falei ‘Nícolas, o tio vai colocar a tua perninha, tu vais ali naquelas barras, se segura e vai andando para o tio ver’. Ele colocou a prótese e o médico disse ‘vai’. Ele saiu correndo. ‘Como é bom andar de novo!’, ele dizia, correndo pela sala”.

Os primeiros mergulhos nas piscinas aconteceram durante o processo de fisioterapia, em que um médico sugeriu que Nícolas praticasse a natação, para ajudá-lo no controle da escoliose. Por intermédio de uma amiga, a família conheceu um projeto da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) de diversas modalidades esportivas, do qual o jovem participou por seis meses até o encerramento das atividades.

Após a ajuda de uma outra amiga, Alessandra ficou sabendo da filantropia da Natação Marista e agendou uma conversa com o Leonardo Schilling, quem acolheu o Nícolas e trabalhou com ele aos sábados durante o projeto. Com o tempo, o garoto passou a treinar nos dias de semana até reencontrar o professor Jaderson, que deu aulas de natação na Unesc alguns meses antes.

“Foi bem legal porque, quando a gente entrou na Unesc, o professor Jaderson viu ele brincando na água e perguntou: ‘ele não quer treinar para competir?’. O Nícolas aceitou. O Jader disse que ia treiná-lo, mas falou que, para competir, só com 13, 14 anos”, afirmou Alessandra. Foi a partir daí que o desejo pela competição começou.

Com o auxílio de uma ex-professora, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) permitiu que Nícolas participasse dos torneios da natação, mas somente nos nados livre e costas, com os convencionais — atletas sem algum tipo de deficiência. Então, em 2019, ele pôde competir pela primeira vez e surpreendeu: trouxe logo a medalha de ouro nos 100m costas. Em dezembro do mesmo ano, mais duas conquistas: dois bronzes nos 400m e 800m nado livre.

A última competição da qual participou, nos dias 24, 25 e 26 de novembro, em São Paulo, Nícolas conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze. Essas cinco conquistas se juntam as outras três anteriores nesses três poucos anos de competição. Todo esse sucesso não é por acaso. O presidente da Natação Marista, Leonardo Schilling, acredita que o jeito mais fácil de se prever o sucesso de um atleta é observar o comportamento da família.

“A grande vantagem que o Nick tem em relação aos outros é a família. A família dele é disposta a estar com ele, a ajudar, a integrar o programa da Natação Marista. Esse é o grande diferencial dele. O Nícolas vai chegar longe porque os pais dele estão juntos com ele. O dom dele é ter a família por perto”, garantiu. Os elogios de Schilling repercutiram em Alessandra. “É gratificante! A gente se emociona ao ouvir tudo isso do próprio filho”, disse ela.

Leonardo ainda recordou como conheceu o paratleta e como viu que ele poderia ter um futuro baseado no esporte. “Quando o Nícolas começou aqui no colégio, ele foi o nosso primeiro paratleta vindo do projeto social. A nossa primeira experiência com o paradesporto foi por meio do Nick. Quando ele chegou aqui, eu pessoalmente ensinei tudo o que eu poderia ensinar e a aprendizagem dele foi bem rápida. Ele sempre teve vontade de fazer aquilo e logo a gente viu que ele conseguiria integrar a equipe”, explicou ele.

Como instituição educacional, o Marista se preocupa também com o rendimento em sala de aula do atleta. É isso o que o diretor do Colégio, professor Márcio Willyans, disse: “Eu encontro o Nícolas todos os dias no portão e eu o vejo entrar. Sempre pontual, tranquilo e cortês. O fato dele ser um atleta é um complemento. Aquilo que a gente sempre fala: o bom estudante Marista é ético, justo, solidário, e, no caso do Nícolas, tem a inclinação para o esporte”.

Segundo o diretor, está no “sangue Marista” o apreço pela convivência e confraternização entre os estudantes, coisas facilitadas pelo esporte. “Quando Champagnat, lá no começo, assumiu algumas escolas nas cidades do interior da França, ele tinha uma premissa de que toda a escola dos Irmãos Maristas deveria haver um pátio. Então, isso já está no nosso DNA”, relatou Willyans.

A inclinação Marista para forjar cidadãos é perceptível. Nícolas é mais um ótimo exemplo. Ele prova que, por meio do esporte, não há deficiência, nem dificuldades financeiras, que impeçam alguém de fazer o que sonha. Será possível ver o surgimento de grandes pessoas na cidade, cujos caráteres serão baseados na filosofia, estilo de vida e jeito de educar Maristas.

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