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O polêmico rebaixamento da Centenário

Rebaixar o nível da pista e melhorar as passagens de pedestres é o projeto da vez no Paço Municipal
Por Émerson Justo Criciúma, SC, 25/02/2019 - 17:21 Atualizado em 25/02/2019 - 17:27
Foto: Daniel Burigo / A Tribuna
Foto: Daniel Burigo / A Tribuna

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No início do mês, a Prefeitura de Criciúma apresentou um projeto aos vereadores para modificar o trecho da Avenida Centenário entre as ruas José Ferreira Laz e Joaquim Nabuco. O objetivo da obra é facilitar a passagem de pedestres pela via, em particular por conta do grande fluxo na Estação Rodoviária e arredores. O trecho é alvo de uma antiga discussão. Já se projetou passarela e se buscou diversas ideias. Enquanto isso, quem atravessa e quem transita está sujeito a acidentes.

A intenção levantada pela prefeitura vem causando polêmica: rebaixar a Avenida Centenário, fazendo nela um mergulho de até 4,6 metros e construindo uma travessia de pedestres no nível do calçamento. Conforme a secretária Municipal de Infraestrutura, Planejamento e Mobilidade Urbana, Kátia Smielevski, o trecho rebaixado será de 180 metros, tendo uma largura de 20 metros. “É uma travessia de pedestres segura. Hoje o pedestre tem que atravessar o corredor de ônibus, e não vai ter, o corredor vai ser lá em baixo. As pistas de veículos ficarão normais como são hoje, duas pistas com três faixas cada uma, duas para veículos e uma para o ônibus, ou seja, três vai e três vem”, relata.

Falta de diálogo

Além da reunião com os vereadores, foi realizada até o momento uma audiência pública no dia 12 de dezembro de 2018 e uma apresentação do projeto aos comerciantes do trecho que será atingido pelos trabalhos. Para o sócio-proprietário do Interclass Hotel Criciúma, Gilson Pinheiro, é muito pouco para a dimensão da obra e os efeitos que ela causará durante o período de execução.

Uma obra complexa

“Eles calculam um ano, mas ninguém pode dizer quanto tempo vai demorar uma obra dessas, depende das condições climáticas, dos problemas que vão encontrar no subsolo, vai depender de uma série de coisas e não discutiram com ninguém. Eles não têm dados do local, até mesmo algumas soluções técnicas eles não têm. Esse tipo de obra, sabemos quando começa, mas não quando termina. Eles estão sabotando o diálogo, chamaram uma audiência pública próximo ao Natal. Eles estão fugindo do debate com a sociedade organizada”, reclama.

Soube da obra pelos jornais

Empresário Gilson Pinheiro / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

O empresário lembra que a Administração Municipal não manifestou qualquer intenção de realizar obras como esta naquele local quando manifestou a intenção de investir na recuperação do antigo Hotel Crisul, renovado e reaberto sob a bandeira do Interclass, em abril de 2017. “Junto a mais três sócios de fora, investimos R$ 25 milhões na compra e reforma do hotel. Não faz dois anos que o local abriu, ainda não paguei o financiamento, este ano que iria deslanchar. Confiei no setor de Planejamento da Prefeitura e acho uma sacanagem nos tratarem desse jeito, sabendo da obra pelos jornais”, salienta, informando que paga R$ 300 mil de impostos ao Município por ano.

Para Pinheiro, Criciúma precisa de investimentos privados, mas agir dessa forma afasta os investidores. “A Prefeitura sobrevive de impostos, o cidadão paga, mas muito mais pagam as empresas. As pessoas têm negócios aqui e dependem disso para viver. Não quero impedir que a obra seja realizada, eu só quero mais transparência nas ações, preciso preparar o meu hotel para esta obra, não pode ser afobado, tem que ter preparação”, ressalta.

O proprietário frisa que, se a Prefeitura de Criciúma não aumentar o diálogo com a população, vai buscar seus direitos judicialmente. “É impossível que venha uma prefeitura em um gesto autoritário e faça a gente engolir uma obra. Eu vou buscar na Justiça a diminuição do impacto de vizinhança. O que eu quero é que seja ampliado o debate com a ACIC, com a universidade e as faculdades locais, CDL e com a população”, relata.

Próximo estudo aponta para a direção do Pinheirinho

O rebaixamento da Avenida Centenário para melhorar o fluxo de pedestres pode não ser exclusivo da região da Estação Rodoviária pensando no futuro. Pelo menos conforme alguns projetos em estudo pela prefeitura. O próprio empresário Gilson Pinheiro, crítico da maneira como está sendo conduzido o atual processo, questiona a necessidade de outras intervenções semelhantes.

Pinheiro levantou o tema em recente reunião com representantes da Administração Municipal. “Eu perguntei se os outros pedirem também qual seria a resposta. Eles disseram que vão fazer essa obra como uma experiência, se ela der certo, talvez repetirão. Quer dizer que vão gastar mais de R$ 4 milhões para uma experiência, não tem como não ficar indignado, é muita irresponsabilidade do Poder Público”, declara.

A secretária Kátia Smielevski reitera que o projeto não é uma invenção, pois há ideias semelhantes postas em prática, e com sucesso, em vários lugares do mundo. “Conforme a lei de acessibilidade, nós sempre temos que priorizar o pedestre, ele tem que fazer o menor esforço. Nós queremos dar é segurança aos pedestres daquela região ali, já que nós temos pesquisas e relatos de vários acidentes, inclusive com mortes. Nós temos uma pesquisa de volume de pedestres naquela região, ali é o maior volume”, garante.

A secretária reconhece que existem outros projetos parecidos de travessia ao longo da Avenida Centenário, tanto que está sendo elaborada uma proposta para o segundo local mais movimentado, segundo a pesquisa. “No Pinheirinho, é um projeto que estamos desenvolvendo, é muito maior do que esse aí porque lá tem a questão das universidades, mas isso é para um outro momento”, revela.

Projeto sendo estudado

De acordo com a secretária, não está definido o tempo nem os valores para execução da obra, nem o plano para efetivar os trabalhos. “Eu e a equipe técnica de Florianópolis estamos trabalhando ainda, estamos desenvolvendo o projeto construtivo e também de execução, mas o trânsito na Centenário não vai ser interrompido. Ainda não temos o orçamento”, alega. Porém, o projeto será executado com a verba da outorga da Estação Rodoviária, cedida recentemente à iniciativa privada pelo valor de R$ 1,7 milhão.

Entretanto, segundo Pinheiro, que é formado em Engenharia Civil e já foi intendente do Rio Maina e por dois anos secretário de Serviços Municipais durante a administração do ex-prefeito José Augusto Hülse (1983-1988), a obra deve custar mais de R$ 4 milhões. “Tenho a capacidade de fazer uma avaliação técnica, sou formado há 37 anos e trabalho com construtora, sabemos do impacto de uma obra desse porte”.

Centenário vai ganhar marginais

Centenário ganhará vias marginais perto da Rodoviária / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

No projeto da prefeitura para o trecho da Centenário entre a Rodoviária e a Joaquim Nabuco, também consta a construção de marginais para possibilitar o acesso de veículos aos estabelecimentos naquela região. Por conta disso, Pinheiro comenta que as obras não vão resolver todos os problemas com os pedestres. “Vai ter mais duas pistas laterais que não serão rebaixadas, uma pista para cada lado, então o pedestre ainda terá vias para atravessar. Isso tem que ser mais bem discutido”, observa o empresário.

A secretária atenta que as pistas marginais serão de baixa velocidade, por isso não vão atrapalhar as pessoas que querem atravessar. “Vai ter uma faixa elevada e nessa marginal só vai ter o trânsito local que quer ir para o hotel e para a loja, e não vai ter os ônibus. Essas duas pistas serão em paver, revestimento que tem uma característica para diminuir a velocidade. O mergulho vai ser a 3,5 metros do meio-fio, mas a marginal vai continuar no mesmo nível existente hoje. Aquela pista da direita vai continuar existindo”, explica.

Outra preocupação latente para a região diz respeito aos constantes alagamentos. Basta uma ocorrência de chuva para que a água tome conta da pista. A secretária Kátia garante que, mesmo assim, fazer um rebaixamento da pista não trará problemas. “O ponto mais baixo deste mergulho está acima do nível do rio, então a água vai descer por gravidade. Nós vamos fazer uma drenagem, mas que vai levar por gravidade até o rio”, detalha.

Educar o pedestre

Pinheiro julga que realizar obras para levar benfeitorias como água, luz e esgoto sanitário são compreensíveis, mas fazer um escavação a pretexto de dúvida é desnecessário. Para ele, existem soluções mais rápidas, baratas e viáveis. “Mais fácil educar os pedestres, fazer uma experiência de outras formas. As pessoas não querem descer até o posto de gasolina para atravessar, nem querem subir até o cruzamento. Em São Paulo era cheio disso, a Prefeitura colocou várias grades, aí são obrigados a descer ou subir. Solução barata parece que o prefeito não quer. Se não quer educar o povo, coloca uma sinaleira de pedestre, aí chega no local, aperta o botão, fica verde ao cidadão e vermelho aos carros e atravessa”, sugere.

A secretária discorda da ideia. Para ela, isso afetaria o tráfego. “Nós já temos uma sinaleira no cruzamento com a Rua Anita Garibaldi e uma outra sinaleira no cruzamento com a Rua Giácomo Sônego, mais uma sinaleira ali no meio atrapalharia bastante o trânsito de veículos, seria mais um ponto de engarrafamento da Avenida Centenário”, enfatiza.

Prefeito descartou passarela

Acidente com morte na Centenário perto da Rodoviária em outubro de 2017
Foto: Francine Ferreira / A Tribuna / Arquivo

Em outubro de 2017 uma idosa morreu atropelada ao tentar atravessar a Centenário nas proximidades da Rodoviária. Na ocasião, o clamor por uma solução no trecho ganhou realce. Mas o prefeito Clésio Salvaro demonstrou contrariedade à ideia de uma estrutura física acima da avenida para passagem de pedestres, conforme muitos defendiam. A ideia havia sido, inclusive, transformada em projeto em governos anteriores, mas nunca tirada do papel.

“Não é o primeiro acidente com vítimas. Mas os arquitetos da prefeitura acharam que não era o melhor projeto para resolver o problema do ponto de vista de que polui o visual da cidade. Então o projeto é fazer uma passagem subterrânea. É esse o projeto mais próximo de sair do papel. Neste momento não temos condições de fazer, estamos lutando para chegar vivos até o fim do ano. Entendo a importância de fazer, mas não temos condições”, explicou o prefeito naquela ocasião, há quase um ano e meio.

A idosa morta por atropelamento naquele caso, um de vários no trecho, foi Maria Arlete Machado, de 78 anos, que acabou atropelada por um ônibus amarelinho. Quando ela atravessava as duas pistas o sinal verde abriu e o ônibus veio, não havendo tempo para o motorista frear.

A secretária Kátia recorda a época em que se apontou a passarela como uma alternativa. “Seria uma obra grande que faria ali uma intervenção urbanística e não ficaria bom, respeitando as construções existentes, edificações e prédios. Uma passarela sempre degrada um pouco a paisagem urbana”, acentua. 

A outra ideia aplicável e mencionada por Salvaro em 2017, a da passagem subterrânea, teria gastos frequentes que tornaram a alternativa inviável, fazendo-a ser descartada posteriormente. “Nós teríamos uma manutenção permanente, tanto de iluminação, elevadores, circulação de ar e, principalmente, segurança. A noite ninguém iria querer passar embaixo de um túnel fechado, poderia ser um local de vandalismo também, então a solução da travessia é a mais viável sim”, conclui a secretária.

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