A medicina corre atrás para definir estratégias de combate, cura e vacinas para o coronavírus. Ao mesmo tempo, novos desdobramentos do vírus no organismo são descobertos. No dia 31 de março, uma paciente de Detroit, nos Estados Unidos, com Covid-19, teve o diagnóstico de disfunções cerebrais, em um caso de encefalite hemorrágica. No dia 2 de abril, no Ceará, um médico de 43 anos morreu com quadro de encefalite viral, com o diagnóstico relacionando o fato à Covid-19. 

Um estudo foi realizado na China, entre janeiro e março, e analisou uma varidade de complicações neurológicas que poderiam ser reflexo de Covid-19, mas não fez a relação com a inflamação cerebral, a encefalite. De acordo com o médico Glauco Duarte da Luz, neurologista atuante em Criciúma, o coronavírus pode atacar o sistema nervoso, assim como ataca o sistema respiratório, os rins, coração e fígado. 

"É diferente de outros vírus e bactérias que atacam o sistema nervoso por afinidade. O que se imagina é de que ela venha num contexto inflamatório. Provavelmente esse vírus não tenha preferência pelo sistema nervoso, porque se fosse nos veríamos se manifestar em mais pacientes", destaca. 

Na avaliação de Glauco, pode haver subnotificação de quadros de ataque do sistema nervoso por parte do coronavírus, principalmente nos casos mais graves em que o paciente é sedado, impossibilitando que se faça a avaliação clínica, sabendo se há alteração comportamental ou de pensamento do paciente, ou por tomografia.

"Em relação ao coronavírus, temos uma tempestade inflamatória, um evento gravíssimo e destruídor, em relação a diversos sistemas, desde o respiratório, atacando os pulmões, mas também  coração, fígado, rins. Pode ser uma alteração de múltiplos sistemas. No sistema nervoso, temos uma estrutura que protege o cérebro de uma variedade de situações, que é a barreira hematoencefálica. Agora a gente sabe, embora seja um evento raro ou subdiagnosticado, que essa inflamação também acontece no sistema nervoso, causando as alterações que a gente entende como encefalite", detalha o neurologista.

Duas hipóteses são levantadas pelo médico no ataque do coronavírus ao sistema nervoso: de inflamação às artérias do cérebro ou o vírus atacando diretamente o cérebro, com uma alteração cerebral generalizada. A relação do vírus com inflamação do cérebro ganhou amplitude após o caso de uma paciente nos Estados Unidos, na cidade de Detroit.

"Foi a associação dos sintomas da Covid-19, que já conhecemos, e alteração do estado mental (da paciente). Isso levantou a hipótese. É uma mensagem importante para que a gente esteja atento de que pode haver um envolvimento do sistema nervoso como complicação desse conjunto de eventos inflamatórios muito graves causados pelo vírus", alerta Glauco. 

As inflamações, geralmente pulmonares, causadas pela Covid-19 surgem por um mecanismo de defesa do corpo, que produz substâncias inflamatórias para tentar combater o vírus do organismo. Como resposta, pode haver a disfunção em diversos órgãos. O médico lembra que a desorientação, tontura, desequilíbrio, confusão mental e alterações de pensamento e comportamento podem indicar a encefalite.

Como complicações decorrentes da alteração do sistema nervoso, o paciente pode ir a óbito ou ficar com sequelas. "Os eventos são em territórios semelhantes a outros vírus que também têm esse potencial de inflamação e destruição de neurônios, causando uma vasta gama de sequelas, desde alterações de pensamentos e alterações das linguagens. Coisas limitantes e incapacitantes", conclui Glauco. 

O caso do médico do Ceará, vítima de Covid-19 com diagnóstico de disfunção cerebral, foi notificado no dia 2 de abri. Matéria do jornal O Povo, de Fortaleza, afirma que o caso será alvo de estudo, devido à velocidade de avanço do vírus no organismo da vítima. "O óbito foi confirmado pelo Sindicato dos Médicos do Ceará. Segundo a assessoria do sindicado, a morte foi causada por "encefalite viral, causada pelo coronavírus".", diz a reportagem.