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O que a psicologia tem a dizer sobre o caso do homem que ejaculou em uma passageira num ônibus em São Paulo?

Por Ananda Figueiredo 03/09/2017 - 16:10 Atualizado em 03/09/2017 - 17:28

Início da tarde de 29 de agosto e já está em todas as redes sociais: um homem se masturbou e ejaculou no pescoço e no rosto de uma mulher dentro de um ônibus na Avenida Paulista. Ele foi preso e, logo em seguida, solto pela justiça do estado de São Paulo.

Manhã de 02 de setembro: o mesmo homem foi detido após esfregar seu pênis no ombro de uma passageira e de impedi-la de de fugir, interceptando sua passagem.

Vítima é consolada após passageiro de ônibus ejacular no seu pescoço e rosto. Homem foi solto por juiz que não entendeu por crime de estupro.

O que se lê por todos os lados é a afirmação, por parte da população geral e dos profissionais da área do direito, de que ele é doente mental e que não irá parar. Mas e a psicologia, o que diz a respeito?

Tecnicamente, o ato é comportamento característico do frotteurismo, termo que deriva da palavra francesa frotter (esfregar) ou frotteur (aquele que faz fricção). É uma desordem mental caracterizada por uma excitação sexual intensa e recorrente que resulta do ato de tocar ou se esfregar em uma pessoa sem o seu consentimento. Ele integra o grupo dos transtornos parafílicos, ou seja, de ordem sexual, e é possível tratá-lo através da combiação psicoterapia + tratamento psiquiátrico.

Dito isto, me chama, particularmente, a atenção o fato de que todos os estudos apresentam que mais de 95% dos indivíduos diagnosticados com frotteurismo são homens, alguns chegando a 98% de prevalência masculina. Enquanto isso, ao menos entre os meus amigos e amigas nas redes sociais, eu arriscaria dizer que a comoção e revolta frente ao caso tem números inversamente proporcionais (caro leitor homem, você poderia, por favor, me explicar como consegue passar indiferente por fatos como este?). Apesar disso, ainda que as redes sociais nos permitam manifestar nossa indignação, não são, exatamente, canais de mudança e transformação da cultura do machismo - tão arraigada em nossa sociedade e produtora de comportamentos tão disfuncionais e agressivos quanto este.

E não, caros leitores, não se trata de um ato isolado. Infelizmente, é pouco provável que alguma de vocês, colegas leitoras, nunca tenha sido vítima de assédio - como eu gostaria de estar enganada! Por isso, para além do diagnóstico de um transtorno mental, para além do uso inequívoco da imputabilidade dos réus no judiciário brasileiro, para além dos discursos de ódio, para além do comportamento justiceiro, por favor, interrompam o ciclo de reprodução do machismo. O ano é 2017, não combina mais. A sociedade não tolera mais. As mulheres não aguentam mais.

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