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Não importa saber quem sou, nem de onde venho, nem pra onde vou

Por Aderbal Machado 29/07/2023 - 11:05 Atualizado em 29/07/2023 - 11:06

Nos tempos de goleiro sem eira e nem beira do Grêmio Araranguaense (segundo time), convivi com Nilson (Nilson Matos Pereira) e Nedo (Enedir Perraro), goleiros titulares da equipe. Os treinos no estádio, cujas condições hoje desconheço, embora saiba estar ainda lá a propriedade, tanto tempo se passa desde a última vez – e lá se vão alguns muitos (e põe muitos nisso) anos de ausência.

Na equipe se misturavam jovens e experientes, como Jóia, Mememo, Serrano, Branca, Quirininho, Tito, Presalino, Valter, Tibica. Tinha o Adão, também (Adãozinho, originalmente goleiro do flamenguinho do Valmarino e depois do Grêmio, mas depois quis atuar na frente, com sua condição de rápido e bom driblador; baixinho, tinha pendores bons). 

A festa, entanto, se fazia no vestiário, antes e depois dos treinos,  nas tardes amenas do Araranguá de então – lá pelos idos finais da década de 50. Eu me deliciava com as gritarias do Nilson tomando banho gelado (dizia: “gritar desvia o choque”) e o Adãozinho, sempre cantando a sua música predileta: “Que importa saber quem sou, nem de onde venho e nem pr’onde vou...” (Trio Los Panchos, na música El vagabundo, um bolerão de arrepiar o cangote). Aquilo soava muito poético, muito etéreo. Enquanto ouvia, olhava o Morro Centenário, sobranceiro sobre a cidade, local da cruz comemorativa dos 100 anos do Araranguá. Lá de cima, onde poucas vezes fui, o visual era fantástico: descortinava-se toda a cidade e as névoas das distâncias da planície poética e do outro lado o litoral belíssimo, com visão do Arroio do Silva, praia da maioria das famílias – no tempo ainda bucólico dos casarios de madeira, sem cercados, postadas sobre as dunas e cercadas de gramíneas típicas do local.

Ali só se chegava a pé. Poucas tinham garagens. Edifícios muito poucos. Depois surgiram. Se bem me lembro, o Scaini, o hotel Paulista e o edifício Sobre as Ondas, onde antes tinha um casarão de madeira (hotel da família do Nego Boni, grande amigo do Aimberê e da cidade inteira). 

Penso, às vezes: precisaria ter ficado lá, gastando meu tempo com as belezas dos lugares. Melhor: investindo meu tempo. Entretanto, a maldição evolutiva é fatal.

Acabei obrigado a migrar para outras paragens e distante estou, manietado por obrigações e compromissos profissionais e por embaraços naturais da vida, após constituir família e fixar o pé no Litoral Norte. É bom estar aqui. Me sinto ótimo, não posso negar. Incomoda um pouco (isso em qualquer lugar) o materialismo, o consumismo, o torniquete da necessidade diária de sobreviver a qualquer custo. Isso me angustia um pouco, sem tirar o ânimo da luta – que prossegue.

Quem me dera poder ser o personagem da música cantada pelo Adãozinho. Vou ligar o som pra ouvir, pois a tenho aqui, num DVD fantástico de relicários musicais. 

“Que importa saber quem sou, nem de onde venho, nem pra onde vou”.

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