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Seria o Nubank o velho da lancha?

O que acontece quando acaba o champanhe e os stories?
Por Arthur Lessa Edição 29/07/2022

Eu sei, o título parece sem noção, mas juro que esse pensamento me veio à mente enquanto tomava sorvete com a minha filha.

Enquanto ela terminava de se servir de sorvete e coberturas, eu rolava o Twitter e vi um perfil intitulado “Ex-nubanker” comemorando não ter mais nenhuma pendência com o Nubank. A mensagem era a seguinte:

Entre os argumentos para a decisão de deixar de usar o banco roxinho, até pouco tempo atrás o mais querido do Brasil, estava o fato de ser cliente de longa data e ainda não ter recebido o cartão Ultravioleta. Como não conhecia essa modalidade, pesquisei e descobri que é um cartão feito de metal e oferece cashback de 1% que rende 200% do CDI e tem liquidez praticamente imediata.

Sinceramente, se há três anos me falassem de cartão gratuito com cashback, eu já acharia que era golpe. Hoje em dia, frente à nova realidade dos bancos digitais que surgem aos montes, e praticamente sem barreira de entrada, esse tipo de vantagem é vista pelo público potencial como requisito básico. Se não tem, tchau!

Baseado nisso, me veio a relação com o estereótipo do velho da lancha. Mas não pelo comportamento do Nubank e concorrentes (apenas), mas dos clientes, mal acostumados, mimados, meio fora da realidade, pra ser sincero.

Antes que me atirem pedras e chamem de invejoso, eu mesmo tenho conta no Nubank. Ativa, rendendo diariamente. Tenho também de mais um punhado, nem tão ativas. Mas sei que se me entregam tais benefícios, buscarão algo em troca. Não são entidades beneficentes. Não vieram para ajudar a humanidade. There’s no free lunch (não tem almoço grátis, em inglês).

Os clientes dos bancos digitais, por culpa das próprias fintechs, perderam o contato com essa dinâmica básica do mercado bancário, que consiste em lucrar do spread (margem) entre os juros que cobram nos empréstimos e a rentabilidade que entregam aos investidores. E, sim, Nubank, C6, Inter, Original, PicPay, PagSeguro, Next, Neon e tantos outros, são bancos. Tentam dar aquele “migué” no estilo político não político, mas não se engane.

Então, se olhar bem, os bancos tech sedentos por clientes na sua base são os donos da lancha, que as tornam atrativas com os melhores cenários, champanhes e festas, enquanto os clientes são as belas e jovens convidadas, que enfeitam as embarcações enquanto as rolhas seguem estourando e os stories viralizando.

Mas em algum momento, sem dúvida alguma, é hora de buscar o lucro do investimento. É nesse momento que o clima pesa.

Esse é o grande desafio para os bancos digitais. Rentabilizar a gigantesca base de clientes mimados. E é nesse momento que os “antiquados” bancões começam a levantar as placas de “eu avisei”.

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