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Acélio e eu

Por Adelor Lessa Edição 08/07/2022
Foto: Arquivo/ 4oito
Foto: Arquivo/ 4oito

Alceu Pacheco, amigo de Araranguá, advogado do time dos tradicionais da cidade, e dos mais respeitados do sul, convocou, e lá fui eu. 

Acompanhei uma representativa comitiva de Araranguá para audiência com o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, João Henrique Blasi.
Depois que o pedido de criação e instalação de uma nova Vara no Fórum da cidade, protocolo quebrado, reunião encerrada, lembrei com o presidente Blasi quando nos conhecemos, em lados opostos, em um julgamento no tribunal da Federação catarinense de futebol.

Ele, advogado do Figueirense. Eu, jornalista que acompanhou uma confusão no campo do Araranguá Esporte Clube.

Depois, acompanhei sua caminhada política, os mandatos de deputado, passagens por secretarias de estado. 

Um dia, os dois seguiam para a Assembleia Legislativa. Ele da calçada, me viu cruzando a rua, acenou e gritou: "Tudo bem, Acélio?”

Cumprimentei de volta, e nada mais falei. Quando cheguei mais perto, ele mesmo percebeu.

“Que barbaridade, como vocês estão parecidos, Adelor”.

Eu estranharia se tivesse sido a primeira vez. Mas, longe disso.
Perdi a conta das pessoas que me confundem com o Acélio Casagrande.

Um dos médicos mais tradicionais de Criciúma, cardiologista, que havia entrevistado inúmeras vezes, veio em minha direção no calçadão da Nereu Ramos, e foi direto ao ponto.

“Olha, Acélio. Nós precisamos logo resolver com o pessoal, porque isso vai dar problema”.

Como não era comigo, eu não sabia do que se tratava, e não deveria saber, cortei logo a conversa.
“Opa, desculpa aí dr., mas eu sou o Adelor, não sou o Acélio”.

Ele parou, olhou bem, e, por via duvidas, registrou: “É o Adelor mesmo?”.

Já foi mais, principalmente quando nós usávamos óculos iguais e tínhamos o mesmo corte de cabelo.
Mas, mesmo que os óculos não sejam mais iguais, nem os cabelos, hoje ainda acontece.

Faz um mês, fui no despachante encaminhar a renovação da carteira de habilitação e deixei o carro no estacionamento privado.
Fui pegar o ticket no guichê, e o operador, muito simpático, fez sinal que pode ir.

Pensei comigo - Não precisa, ele cobra na volta. Certamente anotou a placa do meu carro e a hora.

Na volta, fui no guichê para pagar, e o operador anunciou: “Está tudo certo, não tem nada para pagar”.
Estranhei, claro: “como assim, por que isso?”.

E ele explicou: “Ah, imagina Acélio. Quando quiser, pode usar aqui”.

Uma risada, e fiz questão de esclarecer: “Obrigado, mas não sou o Acélio. Sou o Adelor Lessa”.

Paguei, fui indo para o carro e liguei para o “sósia”. “Acélio, quase ganhei estacionamento aqui agora por tua causa”.

Mas, nem sempre foi coisa boa.

Quando eu fui na prefeitura de Siderópolis para falar com o prefeito Douglas Guinga, recém eleito, o ambiente ficou tenso. Ou, como diriam no Caverá, a porca torceu o rabo. 

Estava sentado na recepção, lia o jornal, quando chegou um cidadão, alegre, comunicativo, trocou duas ou três frases com a secretária, até que me viu, e fechou a cara. 
Chegou mais perto de mim, e passou a falar alto:

“Mas, é cara de pau. Não tem vergonha. Merece um corretivo. Vai lá no palanque, no comício do adversário, fala o que falou do nosso prefeito, e agora vem aqui, como se nada fosse nada”.

Eu continuei a ler o jornal, nem de longe imaginei que pudesse ser comigo.

Pois então, ele repetiu tudo, mais alto. A ponto de incomodar minha leitura. Levantei a cabeça e vi que o cidadão estava “vidrado" em mim.

E quando me viu olhando para ele, disparou: “É contigo mesmo. Não tens vergonha? Falar o que falou no comício e agora estar aqui? “.

Tentei explicar: “Mas eu não fui a comício nenhum aqui, não participo de comícios …”.

Ele interrompeu:
"Tu é muito cara de pau, Acélio”.

E para convencer não foi fácil. O homem queria sair no braço.
A sorte foi que o prefeito ouviu a confusão, voz alta, e interviu.

“Para com isso, companheiro. Esse é o Adelor Lessa. Nada a ver com o Acélio”.

Guinga e Acélio eram de partidos diferentes, e Acélio realmente tinha ido em Siderópolis participar da campanha adversária, e fez um discurso ácido no comício final.

E tem mais um arquivo de casos semelhantes.

Acélio tem outro tanto, no sentido inverso.

E cada vez que nos encontramos, um diz para o outro: “Cuidado com o que tu fazes por ai, para não me criar problema”.

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