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Quando prenderam o comandante

Por Adelor Lessa Edição 19/08/2022
Coronel Márcio José Cabral | Foto: Geórgia Gava/ 4oito
Coronel Márcio José Cabral | Foto: Geórgia Gava/ 4oito

Em 2012, Márcio Cabral, ainda tenente-coronel, era comandante do Batalhão da Polícia Militar em Criciúma e ficou detido por três dias.

O que ele fez de tão grave?

Chamou a atenção para a redução do efetivo policial da cidade.

O comando regional não admitiu e determinou a punição. Cabral não mentiu, não falou mal de ninguém, não praticou nenhuma ilicitude, apenas falou em defesa dos interesses do cidadão.

E por isso pegou três dias de “cana”.

Porque não era para falar!

Além da detenção, ele ainda ficou sete dias afastado do comando do Batalhão.

Isso comprometeu a sequência da carreira de Cabral, que era brilhante. Com a punição, ele teve seu crescimento abortado e promoção inviabilizada.

Para ascender a coronel, teve que pedir baixa (aposentadoria). E assim, encerrou precocemente a caminhada que o levaria até o comando-geral da Polícia Militar.

Mas, pelo menos não retiraram mais policiais do Batalhão de Criciúma.

Até aquele episódio, políticos “determinavam” a transferência de policiais para outras cidades, sem nenhuma garantia de reposição. E o Batalhão foi reduzindo o efetivo. 

Contando as aposentadorias, licenças e afastamentos por motivos diversos, a situação chegou a ponto do insustentável. Cabral cansou de enxugar gelo.

Pediu apoio dos políticos, de todos, e não deu em nada. Porque para atendê-lo, os políticos teriam que contrariar os políticos. Espírito de corpo fala mais alto.

Era preciso, então, colocar o problema na rua. Para que a pressão fosse feita de fora para dentro.

Como eu estava acompanhando o assunto, anunciei os primeiros números, chamando para a necessidade de estancar a sangria.

O comando regional da PM deduziu que o comandante Cabral tinha me passado os números e foi para cima. Ele, sem titubear, confirmou. E deu no que deu.

Hoje, Cabral é colunista da Som Maior, consultor em projetos de segurança para prédios, condomínios e comunidades, e diretor do Sindicato das Indústrias do Carvão.

Nesta semana, uma década depois, o comandante da PM, tenente-coronel Sandi Sartor, disse com todas as letras que o efetivo da PM em Criciúma está “caótico”.

Quase toda semana sai uma policial do Batalhão, por aposentadoria, licença ou outro motivo, e não vem ninguém, não tem reposição. Ou seja, tudo igual. Nada mudou.

Olhei para o comandante Sartor e vi o mesmo semblante do Cabral de 2011. Sentimento de impotência, de não saber mais o que fazer para resolver, de estar cansado de enxugar gelo. Ou, trabalhar com cobertor curto.

Por isso, escrevi: “Que não prendam o comandante!”.

Que o efeito da revelação, com tom de desabafo, do comandante Sartor, não seja alguns dias de “cana”.

Que o comando-geral da PM entenda como grave a situação do efetivo policial de Criciúma que é o pior da sua história, guardadas as proporções.

Enquanto a bandidagem avança, fica mais ousada, o efetivo policial diminui. 

Isso é grave.

A cidade não merece isso.

Que a coragem do comandante Sartor seja valorizada e reconhecida. Não punida.

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