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Polícia Federal e os chopes cremosos

Por Adelor Lessa Edição 03/06/2022
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Estava em Porto Alegre e precisei de ajuda.

Peguei o telefone e liguei para o David Coimbra.

- David, conhece alguém na Policia Federal? Tem que ser agora!
- Claro, conta comigo. Mas o que tu fez? Que bronca estás metido?!

Era só para tentar agilizar retirada de um passaporte emergencial.

Eu estava embarcando para Buenos Aires, mas não passei porque minha carteira de identidade era de quando tinha 16 anos.

A funcionária do aeroporto, educada, advertiu:

“Estou vendo que é o Sr, apesar de ter mudado um pouco. Mas, lá na Argentina não vão deixar o Sr entrar com uma identidade que tem mais de 30 anos”.

E eu ainda tentei argumentar. Em vão. Claro. Documento poderia ser de no máximo 10 anos.

Duas opções para eu conseguir viajar. Fazer uma identidade nova, teria que esperar alguns dias. Ou conseguir um passaporte emergencial, que poderia sair no mesmo dia. Dependeria do fluxo na Polícia Federal (e da boa vontade). Foi aí que entrou o David.

Ele saiu na Zero Hora, me pegou no aeroporto e fomos direto para a Polícia Federal. Do guarda do prédio, ao delegado, todos o conheciam. Teve até que dar autógrafo. Em duas horas, eu estava com o passaporte no bolso.

O David era assim. Sempre à disposição dos amigos. Quando eu pedi ajuda, primeiro ele disse “claro, pode contar”. Para depois perguntar do que se tratava.
Porque ele estaria a postos, seja para o fosse.

Numa época, década de 90, estávamos na sucursal do Jornal de Santa Catarina em Criciúma. Ele, eu, e mais dois na redação. A empresa decidiu enxugar, demitiu três e manteve só ele. David foi lá no mesmo dia e pediu demissão. Em solidariedade.

Desempregados, decidimos ousar. Negociamos com João Pedro Hermann e alugamos o Jornal da Manhã. Nenhum de nós tinha alguma experiência em gestão de negócio. Éramos jornalistas. Mas, quem não arrisca, não conquista, não é?!

Foi um bom período.

Muito aprendizado, crescimento profissional, e histórias para contar.

O jornal vendia pouco em banca, levava um “banho" da Zero Hora. Tínhamos que fazer alguma coisa apara atrair a atenção dos leitores.

Decidimos então fazer uma entrevista especial com o Rached, que era o Neymar da época no Criciúma.

Era um jogador alto, moreno, metido a galã e namorador.

Duas páginas foram dedicadas para a entrevista.

Depois de lermos a entrevista, a conclusão.

Se apenas fosse transcrita, não daria o que esperávamos.

Faltava molho. Com pimenta.

Aí, David entrou em ação.

Pautou o Zeca (Ezequiel Passos), o nosso fotógrafo (o melhor com quem trabalhei).

“Vai lá na casa do Rached e faz umas fotos sensuais dele, provocativas”, foi a orientação.

Zeca voltou três horas depois.

Tinha o Rached de cueca, deitado na cama com o dorso de fora, saindo do chuveiro, e no banheiro com um "beijo de boton" no espelho.

Depois disso, o arremate:

“Rached conta tudo”, anunciou a manchete, em letras garrafais.

No dia seguinte, esgotou o jornal antes que chegássemos na banca. Foi a primeira vez que "batemos" a Zero Hora.

Hoje, David e Zeca devem estar lá falando de tantas outras. E, se não tiver restrição ao álcool por lá, certamente estão tomando "chopes cremosos”, os preferidos do David.

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