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Pequenos negócios, grandes ideias: jovens de Criciúma provam que não existe idade para empreender

Luís, Júlia e Theo compartilham suas trajetórias no empreendedorismo
Gabriel Mendes e Stefanie Machado Criciúma, SC, 02/06/2023 - 07:15 Atualizado em 02/06/2023 - 09:34
Luís Felipe Cardoso Fabris é sócio da plataforma Topedindo em Criciúma. Foto: Gabriel Mendes/4oito
Luís Felipe Cardoso Fabris é sócio da plataforma Topedindo em Criciúma. Foto: Gabriel Mendes/4oito

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O sonho de ter o próprio negócio pode nascer da vontade de mudar a realidade em que se vive, de resolver um problema da sociedade ou de ser protagonista da sua própria história. Para tal, é preciso estar disposto a enfrentar os desafios de ser empreendedor. É por esse caminho que Luís, Júlia e Theo decidiram trilhar. 

Antes mesmo dos 18 anos, eles já transformaram suas ideias em negócios e se tornaram inspiração para outros jovens. Hoje, são exemplos de que idade não tem a ver com maturidade para começar a empreender. 

A parceria que rende frutos na região

Criciúma já é a quarta cidade com maior número de startups em Santa Catarina, segundo o Mapeamento Startup Santa Catarina 2022 realizado pelo Sebrae/SC. São cerca de 55 startups mapeadas, entre elas, está a Topedindo, que existe há algum tempo, mas desde outubro de 2021, Luís Felipe Cardoso Fabris, de 28 anos, e João Renato Vieira, de 33, são os únicos sócios da empresa. Após isso, um novo aplicativo foi criado, dando uma cara nova para a empresa. Essa não é a primeira vez que Luís Fabris está empreendendo. Com 16 anos, ele montou a sua primeira empresa, uma marca de roupa chamada Juicy Co.

João Renato Vieira e Luís Felipe Cardoso Fabris, sócios da Topedindo. Foto: Divulgação/ToPedindo.

“A gente acaba focando em criar sites e aplicativos para restaurantes, saindo do lado do iFood que é marketplace com a dominância dele, a gente começa a focar em ficar mais ao lado do restaurante e fornecer tecnologia para automatizar os pedidos”, afirma Fabris.

Isso também facilita para os consumidores, que ao invés de pedirem o produto pelo telefone, conseguem fazer diretamente pelo site do restaurante e também são recompensados por isso. “Temos o módulo que é marketing digital em que a pessoa acumula pontos dentro do site e assim trocando por prêmio, podendo ser produto ou até mesmo cashback”, diz o sócio.

Durante a pandemia, entre março e abril, a Topedindo triplicou o seu faturamento e conseguiu incluir 400 novas lojas em seu aplicativo. Na época, também foi feita uma parceria ‘Compre Digital do Comércio Local’ em que além da empresa, a iniciativa integrava o Governo de Criciúma, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o aplicativo MOP de motoristas particulares e o Serviço de Aprendizagem Nacional Comercial (Senac).

Foto: Gabriel Mendes/4oito

Além da alimentação, a plataforma aceitava outros nichos durante a época da parceria. “Teve novas lojas de novos segmentos como floricultura, lavanderia e lojas de shopping que vendiam eletrônicos e outras. Acredito que tenha durado de seis a nove meses, mas o momento mais intenso foi durante o mês de março e abril”, conta o empresário. 

“Como queríamos devolver o que a cidade nos tinha dado, nós isentamos as comissões para novos segmentos fora do restaurante e isso divulgou muito, indiretamente os restaurantes acabaram conhecendo o Topedindo e isso foi muito bom”, relembra Fabris. Só em Criciúma, a plataforma tem cerca de 50 mil clientes atualmente.

Apesar do acesso à informação ser muito fácil atualmente, o empresário ressalta que para quem deseja se inserir no mercado de empreendedorismo encontra muitas barreiras por conta da concorrência e do mercado, e que precisa ter um diferencial para angariar novos clientes. 

“Hoje, abrir uma empresa é mais fácil do que dez anos atrás, mas tem uma dificuldade maior porque tem muito mais concorrência estabelecida. É pensar no que o cliente quer porque nunca vai fazer uma empresa para ti, vai fazer para o seu cliente”, destaca Fabris. Para o empresário, existem três grandes pilares na hora de montar uma empresa: resolver uma dor de mercado, criar um desejo e também a necessidade.

Cardápio de restaurantes disponibilizados para o cliente quando entra no aplicativo. Foto: Gabriel Mendes/4oito

O sangue do empreendedorismo corre nas veias de Luís Fabris desde os tempos de escola. Durante o ensino médio, ele participou da Junior Achievement e montou uma miniempresa por três meses. “Era criar um produto e ver se era rentável, aí vendia ações, na época criamos uma carteira mágica”, comenta.

Desafio é sempre encontrar pessoas que queiram sonhar junto contigo e ir longe, querendo ou não tem que sempre estar bem alinhado com tudo, não precisa saber de tudo 100% mas precisa saber de tudo um pouco e estar na linha para ter um produto que as pessoas queiram comprar e que mantenha a empresa fazendo ela crescer.

Desde o início de 2022, a Topedindo vem se aventurando no mercado de aquisições. Em janeiro, a primeira foi a PolvoTickets, que se tornou a Topedindo Ingressos. Logo após foi a Folk Sistemas, a startup Neexels e o investimento na Bravura, fazendo a empresa entrar de vez no mundo dos eventos.

ToPedindo ingressos. Foto: Gabriel Mendes/4oito

“A Neexels é uma startup que tinha solução de cardápio digital e também fizemos o investimento na Bravura que produz máquinas de drinks automatizado, você tem na festa e é um celular que você escolhe o drink, intensidade do álcool, quantidade de açúcar e a máquina faz em 16 segundos”, explica o empresário.

Empreendedorismo na universidade

Com apenas nove anos, Júlia Teixeira Daminelli, hoje com 20, já demonstrava interesse pelo mundo dos negócios. Ainda na infância, a jovem começou montando uma barraquinha para vender doces na frente de casa. Desde então, ela já participou de empresas júnior, startups e eventos de fomento ao empreendedorismo. Hoje, além de ser acadêmica do curso de Direito, ela também é mentora de inovação na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e gestora estratégica na Hipp. A empreendedora garante que sempre se identificou com o tema. 

“Dentro da universidade, começou pela vontade de fazer além. Eu estava no início da minha graduação, era uma época de pandemia, e eu estava insatisfeita só com o estágio e o dia a dia da sala de aula. Então, a vontade de empreender em mim nasceu dentro da universidade, dessa vontade de fazer algo a mais e ser protagonista dentro da minha graduação”, evidencia Júlia. 

Aos 20 anos, Júlia é mentora de inovação na Unesc e sócia da startup Hipp. Foto: Divulgaçã/Arquivo Pessoal. 

Atualmente, a jovem é sócia na Hipp, uma startup voltada para a gestão pública de saúde. O futuro software será desenvolvido para gerenciar as filas de cirurgias eletivas do Sistema Único de Saúde (SUS) - em fevereiro deste ano, SC tinha 105 mil pacientes aguardando por um procedimento. O objetivo, segundo Júlia, é manter dados atualizados, preservando a ordem de urgência dos procedimentos e promovendo um acompanhamento mais humanizado. 

A ideia surgiu de um trabalho acadêmico de um colega do curso de medicina, Eduardo Pereira, e foi apresentado no Reuni Challenge. Isso colocou a Unesc como a universidade mais empreendedora do estado. A startup também foi contemplada com R$ 10 mil por meio do edital Inova Criciúma. “Ele dividiu essa ideia comigo e eu já pensei que seria muito legal fazer disso uma startup de base tecnológica. Apresentamos no Reuni e saímos vencedores. Junto com a gente, a nossa equipe também conta com designers e cientistas da computação, que ajudaram a desenvolver melhor a ideia”, conta a jovem.

Equipe de Júlia colocou a Unesc como a universidade mais empreendedora de SC no Reuni Challenge 2022. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal.

Estamos em contato constante com a prefeitura porque queremos que Criciúma seja um case da nossa empresa, que nós possamos ajudar a saúde da população daqui e depois espalhar pelo Brasil todo. É um modelo de negócio bem replicável. 

Agora, Júlia acompanha jovens empreendedores e inspira estudantes na universidade por meio da mentoria de inovação. “É algo novo que a Unesc está desenvolvendo para que a gente possa fazer com que os acadêmicos saiam da zona de conforto. Para quem tem vontade de empreender, possa encontrar eventos e programas de inovação para tirar suas ideias do papel e a gente consiga ver cada vez mais o protagonismo estudantil”, completa. 

A pergunta que mudou a vida de um jovem sonhador (e empreendedor)

O empreendedorismo mudou a vida de Theo Duarte. O jovem, de 18 anos, começou a vender brownies com a sua mãe em dezembro de 2021. No início, o que era apenas uma receita para presentear seus professores do ensino médio, se tornou algo grandioso porque a ideia de empreender surgiu meses depois no Empreende SC.

No evento, Theo fez uma pergunta para Caito Maia, fundador da Chilli Beans e o momento viralizou, fazendo o jovem bombar nas redes sociais. Em 2023, ele voltou a participar da feira, mas deixou de ser apenas um espectador e passou a vender o seu produto. “Foi uma experiência diferente do primeiro ano. Dessa vez a gente foi para apresentar o produto e mudamos bastante coisas como embalagem e sabores. Experiência diferente, mas que foi muito boa”, relata o empresário.

Theo e um de seus brownies na mão. Foto: Gabriel Mendes/4oito

O Empreende SC foi fundamental para Theo correr atrás de seu sonho. Com os brownies, o jovem conquistou o coração e a boca das pessoas que passaram pelo local durante os dois dias de evento. Ao todo, foram mais de 850 produtos vendidos. “As pessoas gostaram bastante, são produtos novos e estamos mudando bastante coisa, então a gente não tinha muito ideia do que seria, tivemos um retorno bom principalmente de opiniões”, explica Duarte. 

O Brownie do Theo não seria quase nada se o evento não tivesse acontecido, diante de tudo que aconteceu e da repercussão do primeiro evento, a gente vai para esse evento e aprende muita coisa, a pessoa sai de lá com outra cabeça, outros planos, projetos e pensa de um modo diferente.

Foto: Gabriel Mendes/Portal 4oito

Agora, ele virou uma referência para outros pequenos empresários que querem começar a empreender. “No evento teve bastante jovem que veio conversar comigo para saber sobre como funcionava e aconteceu que também teve gente perguntando como que se fazia uma empresa”, enfatiza o jovem.

Foto: Gabriel Mendes/4oito

Theo terminou recentemente o ensino médio, mas explica que gostaria de ter aprendido mais sobre o mundo empresarial nas aulas. O seu caso de sucesso o fez voltar para a escola em que se formou para dar uma palestra sobre o Brownie do Theo para os alunos. “Estava bastante feliz, queria mostrar toda a trajetória até acontecer tudo e é uma sensação diferente, frio na barriga porque tem vários alunos prestando atenção, é uma experiência diferente, gostei bastante espero que eu possa ter ajudado alguém”, conta Theo.

Theo palestrou para alunos de uma escola em Criciúma. Foto: Reprodução/Redes sociais

O empreendedorismo na sala de aula

O futuro exige que os jovens desenvolvam a capacidade de resolver problemas, a habilidade de trabalhar em equipe e a sabedoria para lidar com imprevistos. Isso é essencial não somente para quem pensa em abrir o próprio negócio, mas para todos que desejam crescer dentro de uma empresa. Com a proposta de desenvolver essas qualidades, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) criou o programa Educação Empreendedora

“É uma proposta de educação poderosa para os educadores, sendo um modo eficiente de despertar uma nova mentalidade nos estudantes, promovendo soluções criativas e inovadoras e contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e transformadores. Ela ajuda o estudante a se autoconhecer e a enxergar e avaliar determinada situação, assumindo uma posição proativa frente a ela, capacitando-o a elaborar e planejar formas e estratégias de interagir com aquilo que ele passou a perceber”, observa a coordenadora estadual do programa, Isabel Victoria.

A proposta está presente em todas as regiões de Santa Catarina, impactando alunos do ensino fundamental, médio e profissionalizante. Em 2022, foram realizados 95 mil atendimentos para crianças e adolescentes. “Deixar a escola pensando como um empreendedor fará a diferença na vida do estudante, que terá mais possibilidade de se destacar, seja como empresário, empreendedor social ou funcionário de empresas”, complementa Isabel. 

Para fomentar o empreendedorismo desde cedo, iniciativas podem nascer do setor público e privado. Nesse sentido, foi criado o projeto Clube do Jovem Empreendedor, uma iniciativa do governo municipal e apoiado pela a Associação Empresarial de Criciúma (Acic), cujo objetivo é justamente levar as competências dos empreendedores para dentro das instituições de ensino. 

Alunos do Projeto Clube do Jovem Empreendedor de Criciúma conheceram a Acic. Foto: Divulgação/Acic.

“Ano passado, foram 23 escolas municipais do nono ano em que trabalhamos o empreendedorismo. Os alunos visitam as empresas e também a Acic. No programa, eles aprendem como encontrar oportunidades de empreender dentro da sua própria profissão”, pontua o presidente da Acic, Valcir José Zanette

Uma vez que as empresas apadrinham uma escola, a ação também aproxima os estudantes da realidade vivida no dia a dia dos negócios. Para o presidente, os empresários mais experientes também se beneficiam por meio dessas iniciativas. “Os jovens têm uma mente inovadora e criativa. Então, também é uma oportunidade de aprender com eles”, frisa Zanette. 

Capacitação

Além de prestar apoio na educação básica, a Acic conta com um núcleo voltado para promover a inclusão do jovem no mundo empresarial. Fundada em 1995, a Associação de Jovens Empreendedores de Criciúma (AJE) soma mais de 100 associados e busca entregar conhecimento nas mais diversas áreas, além de promover networking entre os participantes. O núcleo também faz parte do Conselho Estadual dos Jovens Empreendedores de Santa Catarina (CEJESC).

Neste ano, conforme o presidente da AJE Criciúma, Michael Martins, a associação tem atuado por meio de dois pilares fundamentais – Inspirar e Instruir –, com o grande objetivo de agregar cada dia mais associados, bem como auxiliar os novos empresários nos desafios encontrados no dia a dia dos negócios. “Buscamos realizar, sempre, ações que envolvam os empreendedores em todos os níveis de negócio, desde os empreendedores individuais - que estão no início da trajetória -, até os empresários que já possuem um negócio constituído ou jovens assumindo uma empresa familiar”, ressalta.

O futuro 

Essas iniciativas, sejam do setor público ou privado, cada vez mais presentes, causarão impacto positivo nas próximas gerações de empreendedores. O mundo tem mostrado aos jovens que os desafios crescem à medida que a transformação digital acontece. Portanto, para não ficar para trás, o futuro exige deles uma formação além do básico e a capacitação constante para continuar evoluindo. 

“Acredito que essa seja uma mudança crucial para as próximas gerações. Vejo que hoje a gente tem um incentivo muito maior na própria Unesc e a prefeitura de Criciúma tem algumas iniciativas no ensino básico para estimular o empreendedorismo e a inovação”, avalia Júlia. 

“Eu meio que comecei por conta própria. Nada passado na escola me influenciou. Se tivesse influenciado, eu poderia ter começado antes ou até influenciado outras pessoas para começar um negócio", comenta Duarte.

“As pessoas não sabem lidar com dinheiro, por isso, são endividadas. Não sabem se relacionar e aprendem no dia a dia. Não sabem vender um produto e todos os dias as pessoas estão se vendendo, são várias situações a vida que não temos na escola e na faculdade e isso falta muito. Se tivesse, com certeza teria uma sociedade mais desenvolvida e faria a total diferença”, conclui Fabris.

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