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Os sonhos que o cooperativismo ajuda a realizar

Com trabalho que as difere das instituições financeiras tradicionais, cooperativas de crédito seguem crescendo e contribuindo com a comunidade onde estão inseridas
Por Marciano Bortolin Criciúma, SC, 08/08/2021 - 14:07 Atualizado em 07/10/2021 - 10:45
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

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No início de 2020, o coronavírus assustava e com o crescimento dos casos, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, decretou, no dia 17 de março, situação de emergência e medidas drásticas na busca por frear o avanço da Covid-19. 

Entre as definições, estava o fechamento de estabelecimentos do setor da alimentação, para desespero dos empresários. Agora, imagine você ter quatro empreendimentos neste ramo. Foi o caso de Edna Machado, CEO de um grupo que leva o seu nome, todos instalados no Centro de Criciúma. 

Acostumada ao movimento intenso, ela se deparou do dia para a noite, com as portas do restaurante, da padaria, da confeitaria e da cozinha oriental com as portas fechadas e mesas vazias.

A pandemia, revela a empresária, trouxe novas lições e a certeza que poderia contar ainda mais com algo que ela já utilizava desde quando fundou o seu primeiro estabelecimento: a cooperativa de crédito. “No restaurante, utilizamos o Sicredi desde o início, pois aceitamos o Acicard, que é um vale consumo que as empresas dão aos funcionários, para isso, eu precisava ser associada e ter a conta no Sicredi. Por este motivo me foi apresentada a cooperativa”, lembra.

Porém, “deste acaso”, surgiu a paixão pela instituição e a contribuição dada ao longo dos anos e agora na pandemia. “A cooperativa, além de permitir a nossa participação, dá uma confiança de que você também participa dos investimentos, de que este relacionamento está mais perto. Nós temos a liberdade de falar com o gerente, com as pessoas da agência. Temos uma proximidade e eles estão sempre à disposição para nos atender da melhor maneira. Eu sou sempre muito bem acolhida no Sicredi”, afirma.

Edna e felicidade pelos produtos que coloca no mercado e pela parceria com o Sicredi

O sétimo princípio

Qual morador de Criciúma e região não conhece o trabalho da Casa Guido, né!? Mas o que a instituição que presta assistência às crianças e adolescentes com câncer tem a ver com as cooperativas de crédito? Ela tem tudo a ver com um dos sete princípios do cooperativismo, mais precisamente com o último deles que destaca o interesse que estas instituições devem ter pela comunidade onde estão inseridas, trabalhando para o desenvolvimento através de políticas aprovadas pelos membros.

A responsável pela captação de recursos, pelo marketing e pelos projetos da Casa Guido, Viviane Hofman Garcia diz que o Sicredi é parceiro da entidade há seis anos. “A nossa conta bancária é isenta de custo de manutenção. Também fomos contemplados duas vezes com o Fundo Social da cooperativa. Além do incentivo financeiro que nos permite realizar melhorias na instituição, é um grande estímulo saber que o Sicredi apoia as entidades. Este olhar carinhoso, aliado à preocupação de fazer a diferença na vida das pessoas por meio do apoio de projetos sociais, certamente gera ainda mais credibilidade às instituições beneficiadas”, enfatiza.

A Casa Guido recebe pacientes de zero a 19 anos das três microrregiões do Sul de Santa Catarina que realizam tratamento Onco hematológico em Criciúma. Os auxílios oferecidos vão desde custeio de exames, consultas, medicamentos e cirurgias, até a doação de cestas básicas, fraldas, kit de higiene pessoal, material escolar, roupas, calçados, entre outros itens, incluindo alimentação diária na sede e pernoite quando necessário.

O Fundo Social do Sicredi destina parte dos resultados da cooperativa gerados anualmente e aprovados pelos associados, para projetos que apoiem o desenvolvimento das comunidades onde a cooperativa atua e os valores são autorizados em assembleia. As inscrições são divulgadas e há um regulamento que precisa ser atendido pela entidade autora dos projetos.

Somente em 2020, foram contempladas mais de 40 iniciativas e neste ano, 80 já foram beneficiadas.

Casa Guido recebeu o Fundo Social duas vezes, o que contribui com o trabalho desempenhado. Foto: Divulgação

Contribuição

Criciúma se tornou um polo da saúde com a contribuição dos bons profissionais que atuam na cidade. Mas quem também tem crédito nisso é a Unicred. Uma cooperativa de crédito que surgiu segmentada, voltada aos médicos, mas que desde 2016, é de livre admissão. 

Que o diga, o médico Flávio Althoff, que se orgulha em estar entre os 50 primeiros associados da cooperativa. 

Ele conta que nas mais variadas vezes que precisou, a Unicred o auxiliou, seja para a aquisição de equipamentos, móveis entre outros fatores que contribuem com o crescimento de suas clínicas. “O fundamental é a implantação do espírito cooperativista, onde todos participam dos resultados gerados pela entidade e nos faz sentir donos, podendo usufruir dos serviços.  Temos o privilégio de termos uma Unicred muito bem posicionada no ranking nacional, que expressa o valor e o quanto valoriza os cooperados. Todos participam de uma geração de valor inestimável”, assegura.

E para falar da importância que a instituição tem para a região, o assessor de Negócios da Unicred Centro-Sul, Otávio Aparecido Feltrin, também cita aquele sétimo princípio do cooperativismo. “Só com as entregas das sobras, o dinheiro já fica na região. Hoje a nossa carteira de crédito é de R$ 700 milhões, onde está emprestado este dinheiro? De Passo de Torres a Imbituba e Cascavel. Se pegar um banco tradicional, ele talvez possa captar aqui e emprestar em São Paulo. Temos R$ 1,4 bilhões administrados que emprestamos aqui. O dinheiro fica fomentando a economia. Sem contar as ajudas que a cooperativa tem feito em todos os municípios que temos agência, entregamos kits de testes para os profissionais da saúde, por exemplo. Tivemos equipamentos de informática que foram substituídos e entregamos a algumas entidades. No período da pandemia foram encaminhados também recursos para creches, Apaes para ajudar”, revela.

Unicred auxilia o médico Flávio Althoff no crescimento de suas clínicas

A Unicred surgiu há cerca de 30 anos e hoje a Unicred Centro-Sul, que abrange de Passo de Torres a Imbituba, e que passou a atender recentemente em Cascavel, no Paraná, possui 14 mil associados. 

O sétimo princípio do cooperativismo também é enfatizado pelo presidente do Sicoob Credija, Wolni José Walter. “As cooperativas trazem benefícios. O crescimento acontece naturalmente, lentamente, porque não é da noite para o dia, mas que vai contagiando toda a sociedade. Fizemos muitos eventos e o fato de estarmos nas comunidades, apresentar algo de interesse deles, eles se voltam para dentro da cooperativa, então há um crescimento mútuo. A cooperativa cresce porque a comunidade entende que é importante”, afirma.

Para corroborar, Walter cita um exemplo de Jacinto Machado, sede do Sicoob Credija. “Só tinha internet no centro da cidade, no interior não tinha. Nos envolvemos, os agricultores vieram conversar com a gente e juntas, três cooperativas investiram em estrutura, dando condições de montar antenas e todo o interior hoje tem internet. Também realizamos muitos eventos sociais que envolvem encontro de mulheres, com empresários, no último que fizemos, antes da pandemia, tivemos 750 mulheres, depois com mais de 900 empresários”, lembra.

O céu é o limite

A empresária Edna e o médico Flávio fazem parte de um universo de mais de 13,1 milhões de pessoas e empresas que optaram por deixar os bancos tradicionais um pouco de lado para gerir as suas contas em cooperativas de crédito. Deste total, 2,5 milhões, ou seja, 37,3% estão em Santa Catarina. 

E os números não param de crescer, mesmo em meio à pandemia. Em maio de 2021, o Banco Central (BC) revelou que as cooperativas de crédito têm crescido mais que os bancos tradicionais, o que deve garantir um lugar de destaque ao cooperativismo no Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Segundo o levantamento, a carteira de crédito das cooperativas teve um aumento acumulado de 134,6% entre 2016 e 2020 e passou a responder por 5,1% da carteira de crédito do SFN. Além disso, o BC afirmou que ainda há espaço para crescimento do crédito no setor.

A carteira de crédito do sistema nacional de cooperativismo atingiu R$ 228,7 bilhões, ou 5,1% do Sistema Financeiro Nacional, em dezembro de 2020. Cinco anos atrás, este valor era de R$ 95 bilhões, ou 2,74% do SFN. Agora, a perspectiva das cooperativas é que esse crescimento se mantenha até 2023.

No fim de 2020, eram 847 cooperativas singulares de crédito operando no Brasil, das quais 222 são independentes e 625 são filiadas a cooperativas centrais, como Sicredi e Sicoob.

As cooperativas de crédito também são destaque no quesito crescimento em Santa Catarina entre os 7 ramos registrados na Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc). De acordo com dados da entidade, são 62 cooperativas de crédito no Estado que, juntas, somam 2,2 milhões de cooperados e geram mais de 11 mil empregos. “É crescente o protagonismo das cooperativas de crédito em Santa Catarina. Ao todo, o ramo movimentou R$ 6,4 bilhões em 2020, com ampla rede de atendimento. Conta com mais de 1 mil postos de atendimento espalhados em 287 dos 295 municípios catarinenses”, destaca o presidente da entidade, Luiz Vicente Suzin.

O presidente da Sicredi Sul SC, Aloísio Westrup, cita alguns pontos que diferenciam as cooperativas dos bancos tradicionais que contribuem para atrair cada vez mais pessoas. “Enquanto cooperativas são sociedades de pessoas, os bancos são sociedades de capital. Partindo dessa diferenciação inicial e básica, podemos também citar a forma de participação. Nas cooperativas financeiras todos os associados são, ao mesmo tempo, usuários das soluções financeiras e donos, pois participam das decisões nas assembleias. Nestes eventos deliberativos, os sócios acompanham a prestação de contas do ano anterior, se houver resultados eles decidem sobre a destinação, escolhem dirigentes e podem opinar sobre os rumos do negócio”, ressalta.

Westrup lembra que o cooperativismo financeiro contribui com o país há cerca de 118 anos. “Ao atuar com a cooperativa, o sócio gera resultados ou sobras, que são devolvidos a ele de maneira proporcional aos produtos e serviços utilizados, se a assembleia assim deliberar. Outro diferencial do cooperativismo financeiro é a presença na comunidade.  Por ter uma atuação completamente local, esse modelo mantém os recursos girando na própria economia regional, além de desenvolver programas sociais e de formação em cooperativismo”, cita.

Sede do Sicredi recém inaugurada no Centro de Criciúma

 

Da necessidade, a contribuição com a sociedade

No início da década de 1990, rizicultores do Extremo Sul de Santa Catarina sentiam a necessidade de obter crédito com taxas justas para custear, manter e fazer as suas lavouras prosperarem, além de oferecer maior proximidade com o trabalho realizado.

A saída encontrada foi a criação de uma cooperativa financeira, nascendo assim o Credija, fundado por 64 produtores rurais. Inicialmente segmentado, tornou-se de livre admissão em 2009. Integrante do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), ela possui atualmente 15 agências em 13 municípios, sendo 11 em Santa Catarina e duas no Rio Grande do Sul, totalizando, 46,3 mil associados e segue crescendo. “Se fizermos uma análise, é até fora do normal. No ano passado crescemos 50%. Possuímos estratégias que contribuem com o crescimento. Neste primeiro semestre, por exemplo, o crescimento é de 30%, 40%. O número é assustador, mas real. Dá até impressão que não é verdade, mas tem todo um trabalho personalizado que chama atenção da comunidade onde     estamos presentes”, salienta o presidente do Sicoob Credija, Wolni José Walter.

Mesmo sendo de livre admissão, a cooperativa ainda cumpre papel com os agricultores da região. “Em uma carteira de R$ 570 milhões que temos emprestados, R$ 112 milhões é na agricultura. Então este papel lá do início, na fundação do Credija, nós estamos cumprindo, que é buscar recursos para os agricultores. É fundamental não perdermos esta essência”, analisa.

Direto na conta

As cooperativas de crédito também se moldaram na pandemia, mas as inovações foram para contribuir com os associados. Um exemplo ocorre na Unicred que nos dois últimos anos deixou de depositar o valor das sobras na conta capital e passou a destinar para a conta-corrente dos sócios. “Quando entra na cooperativa, a pessoa paga um valor de adesão, quando gera as sobras anuais, ela capitaliza na conta capital, depositado em seu nome, mas a cooperativa pode usar para emprestar. Porém, em função da pandemia, as sobras foram liberadas na conta-corrente para os sócios usarem de imediato”, destaca Feltrin, acrescentando que hoje a instituição onde ele atua possui capital de R$ 170 milhões. “Somos considerados uma cooperativa de grande parte por isso. A Unicred possui 39 cooperativas no Brasil e a Centro-Sul ocupa há cinco meses o primeiro lugar neste ranking, não estamos nem no estado nem no Brasil na região mais rica. Temos Itajaí, Joinville, Blumenau, Florianópolis que são regiões com maior concentração de renda e assim mesmo conseguimos estar nesta posição”, relata.

“Aliviando a barra”

O Sicoob Credija também sentiu que precisava se colocar ainda mais ao lado dos associados com a chegada da pandemia e, para isso, elaborou um plano para atendê-los. “Foi tão rápido que conseguimos aliviar a barra dos nossos associados. Quando o governador decretou o fechamento, toda a sociedade levou um susto, não sabíamos o que aconteceria dali para a frente e as cooperativas foram fundamentais. Empresas tiveram que parar por 14 dias, com folha de pagamento, mercadorias para pagar e nós tomamos a frente, sem vir do governo, criamos soluções mais rápidas, mais viáveis, com menores custos”, exalta o presidente Wolni José Walter.

Sicoob tem diversas agências espalhadas pelo Sul de Santa Catarina

Em 2020, a cooperativa colocou rapidamente R$ 31 milhões emprestados aos cooperados para que eles pudessem dar continuidade aos seus trabalhos, o que envolveu quase 600 empresas cooperadas. “Sem contar tantas outras situações, porque cada associado tem a sua particularidade. Mas o que se pode observar é que não paramos. Está todo mundo junto, todo mundo se ajudando e isso foi fundamental. A questão de não poder entrar nas agências foi algo complicado, então eles resolviam tudo por telefone, trabalhando com os aplicativos de casa, mas para isso, tivemos que ser muito rápidos”, observa.

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