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Nova Veneza: a Capital Nacional da Gastronomia Típica Italiana

Mesmo com o título, a cidade busca se profissionalizar e alcançar patamares ainda maiores no setor do turismo
Por Vitor Netto Nova Veneza - SC, 25/07/2021 - 17:51 Atualizado em 26/07/2021 - 06:43
Fotos: Guilherme Hahn/Toda Sexta
Fotos: Guilherme Hahn/Toda Sexta

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Se você já foi à Nova Veneza em um sábado ao meio dia, provavelmente já ouviu a música “La Bella Polenta” enquanto aguardava para almoçar um belo prato de polenta, galinha e fortaia. Ou provavelmente já bateu fotos na gôndola e sentiu um friozinho gostoso enquanto esperava para comer uma pizza ou um galeto durante à noite. Assim é Nova Veneza, um lugar vocacionado ao turismo e a boa gastronomia. 

Situada no Sul do estado, a cidade foi fundada em 1881 por italianos. Terra de um povo acolhedor, que não mede esforços para receber turistas e principalmente contar a sua história e de seus ancestrais. Em 2018, recebeu um título importante: o de Capital Nacional da Gastronomia Típica Italiana. Um reconhecimento que mais do que nunca, firma a responsabilidade de promover o turismo e boa comida, sem perder as suas raízes italianas. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Poder público e os investimentos no turismo 

Atualmente Nova Veneza conta com duas importantes festas na cidade: a Festa da Gastronomia Típica Italiana e o Carnavale di Venezia, que ocorrem simultâneas. Além das festividades religiosas. 

“Hoje olhamos para o turismo com prioridade. Desde que o prefeito Rogério Frigo assumiu em 2005, ele entendeu que nós precisávamos de um novo setor carro chefe do município. Nós temos a nossa indústria e a agricultura, que tem as suas forças, mas nós precisávamos melhorar as condições e oportunidades para que Nova Veneza se despontasse no turismo, então faltava do poder público um grau de investimento, para nos vocacionar para o turismo", explica a secretária de Cultura, Esporte e Turismo de Nova Veneza, Carolina Ghislandi. 

Com isso, investimentos no setor foram colocados em prática, como a revitalização da praça, a revisão das festas do município e a vinda da Gôndola. “Então começou um ciclo virtuoso de preparação da cidade para receber visitantes, com melhorias da rede hoteleira, da infraestrutura turísticas, dos acessos à cidade, de toda a parte paisagística do município. Atualmente todas as ações do município são realizadas pensando nisso”, acrescenta. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

O papel da população 

Nova Veneza conta atualmente com pouco mais de 13 mil habitantes que recebem diariamente turistas de todas as regiões do país e até mesmo do exterior. “O povo neoveneziano é muito orgulhoso da sua cultura e do que ele representa, então sempre que ele é chamado para contar a sua história e contar das belezas da sua cidade, ele vai fazer isso. E sempre foi assim, nós somos uma população que quando opta por acolher uma pessoa vindo de fora, a gente torna ela da nossa família”, comenta. 

A hospitalidade do povo neoveneziano também é observada nos empreendimentos, que buscam apresentar o serviço de forma familiar. “O que faz um restaurante de Nova Veneza ser diferente, claro que é uma boa gastronomia, mas acima de tudo é um bom acolhimento. E também tem se esforçado para que isso não se perca. Mesmo vindo pessoas e empreendimentos de fora para atuar na cidade, de certa forma eles entendem o que é oferecer turismo em Nova Veneza é ser acolhedor e ter uma mesa farta. Essa é a nossa essência e a gente precisa preservar”, pontua Carolina. 

A boa gastronomia familiar 

Empresas familiares são muito comuns em Nova Veneza. A história do grupo Ghellere é uma delas. O Ghellere inicia em meados dos anos 1980, com uma pequena venda na beira do Rio São Bento, em Siderópolis. Depois veio o restaurante e pousada. Em 2012, nasceu a Casa do Chico, um restaurante situado no centro de Nova Veneza, na praça Humberto Bortoluzzi. “Quando nós iniciamos a obra, não tinha nada na praça. Tanto que tiveram pessoas que nos chamavam de loucos, por fazer um empreendimento tão grande. Falavam que não ia dar certo. Mas a gente acreditou”, conta Clenir Possamai, proprietária. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Ao mesmo tempo em que as obras da Casa do Chico estavam em andamento, iniciaram as obras de revitalização da Praça. “Elas ficaram prontas juntas, os empreendimentos foram inaugurados com uma semana de diferença”, explica. 

O prédio que está situado no restaurante, é centenário. “Quando nós adquirimos o prédio, ali já existia uma pizzaria antiga, reestruturamos todo o prédio, pois tivemos que reformar e manter todas as características originais, como portas, assoalho e telhado. Então tivemos que ir atrás de tijolo antigo, tábuas, rodapés e outros materiais”, conta. 

Essas características trazem ao local uma característica muito utilizada nos dias de hoje que é o sentimento de pertencimento. “Hoje o foco do turismo é a experiência. A pessoa não quer só ver as coisas, ela quer estar presente. A pessoa vem para cá, ela não quer só ir lá no restaurante comer alguma coisa, ela quer esse charme, sabe? Essa característica que a gente tem muito aqui. Aqui você consegue sentir essa proximidade, esse calor humano, essa conversa”, conta Danielle Ghellere.

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

O grupo também busca conhecimento para colocar em prática nos seus estabelecimentos. Para abrir a Casa do Chico, Danielle viajou para a Itália para buscar referências para o restaurante. E quando foi abrir a Gheppo, não foi diferente. A Gheppo, fundada em 2014, é uma gelateria que comercializa sorvetes estilo italiano. “Acho que nós fomos uma das únicas que manteve a essência do gelato italiano, porque assim, é um produto diferenciado, mais caro, com materiais mais caros”, apresenta Danielle. 

Em 2018, o grupo deu mais um passo e abriu a Capo Gin, um gastrobar. “Ele é o nosso bebê, surgiu a oportunidade de alugar aquele espaço e pensamos em fazer algo diferente. Pois a gente via essa necessidade. As pessoas jantavam e iam embora, não tinha nada para fazer após isso. Elas queriam algo mais descolado. Então surgiu a ideia desse local mais descolado, mas sem perder as raízes italianas na gastronomia e na bebida”, conta. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Há 63 anos outro importante restaurante abriu suas portas para receber os seus clientes. Tradicional no centro da cidade, o Ristorante Veneza abre todos os dias ao meio-dia.

“Ele é o mais antigo, ou podemos dizer que ele é o mais tradicional de Nova Veneza. Ele foi fundado pelos nossos avós,  Angelo e Luiza, sem planejar. O que eles contam para nós é que eles se casaram e foram morar no São Bento Baixo, só que o terceiro filho deles, o nosso pai, sempre estava doentinho, então eles decidiram comprar um terreno no centro, perto do hospital. E com isso meu avô começou a ser taxista e cuidar de um bar. Então a minha avó começou a auxiliar nesse bar. Aqui virou um ponto de tropeiros que vinham da serra”, contou Larissa Bortolotto, uma das diretoras do Grupo Venezia e presidente da Aenove (Associação Empresarial de Nova Veneza). 

Com o vai e vem dos tropeiros, os viajantes começaram a trocar os produtos e se alimentar da comida feita pela dona Luiza. “No começo era comida que ela servia na casa, depois um foi passando para o outro, foi abrindo outros estabelecimentos e todo mundo foi falando para ir lá comer da comida da dona Luiza. Uma hora ela abriu a porta e nunca mais fechou”, explica Luana Bortolotto, também diretora do Grupo Venezia e presidente da Anet (Associação Neoveneziana de Turismo). 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

A partir daí, o restaurante virou ponto tradicional de Nova Veneza, servindo pratos típicos, como galinha com polenta, fortaia e minestra, além do churrasco no estilo espeto corrido. Com isso os filhos de  Angelo e Luiza foram crescendo e ajudando no empreendimento, até que o pai de Luana e Larissa assumiu o restaurante que atualmente é tocado pelas filhas. 

“Nós pensamos que o nosso restaurante tem uma característica de trazer nostalgia. De trazer aquela lembrança da comida da avó. Pois aqui é tudo muito familiar, tudo tem esse calor humano que a gente gosta de mostrar no nosso atendimento. Isso faz a diferença e faz com que a pessoa se sinta da família”, explica Larissa. 

“E aqui no restaurante a gente tenta cada vez mais valorizar o que faz parte da nossa história.Tem pessoas que a gente a gente atende que é da quarta geração da família e vem aqui no restaurante. Por isso também que é algo muito difícil de mudar uma receita, por exemplo, pois há 60 anos é feito do mesmo jeito e as pessoas percebem quando muda: ‘mas a nona fazia diferente’”, brinca Luana. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Em 2010, um novo desafio para a família Bortolotto. A criação de um hotel na cidade: o Hotel Bormon. Localizado na entrada de Nova Veneza, ele estava sendo pensado para uma obra de quatro anos e foi concluída em menos de dois anos. “Foi uma corrida contra o relógio, pois foi em 2012, junto com a revitalização da praça, junto com a festa da gastronomia, a Casa do Chico estava sendo inaugurada, então decidimos fazer tudo junto”, conta Luana. 

Larissa conta que um dos divisores de água para Nova Veneza foi a aparição no programa Mais Você da Ana Maria Braga, em 2011, o que fez com que muitos turistas de todo o Brasil procurassem a cidade. “Antes era algo muito regional, mas com aquilo expandiu muito. Tanto que para a inauguração do hotel, eu aluguei todos os quartos sem nem uma foto das acomodações, pois estávamos em obras ainda. A gente brinca que o primeiro cliente que chegou acompanhou a gente colocando o asfalto quente na rampa de acesso”. 
O mais novo produto do Grupo Venezia é a marca Nonna Luiza. A marca foi fundada no ano passado com o objetivo de levar a gastronomia do restaurante para dentro da casa das pessoas. “Há uns oito anos nós já tínhamos a ideia de fazer algo do estilo delivery, mas a correria do dia a dia e o costume de trabalhar no atendimento direto e no local, não colocamos em prática. No verão a gente já realizava algumas entregas, pois o pessoal ia para a praia e pedia para que a gente produzisse alguma massa para eles levarem, mas nada profissional”, explica Larissa. 

Com o avanço da pandemia, elas viram uma oportunidade de investir no ramo. “Quando veio o segundo decreto e estávamos com duas casas fechadas, nós não sabíamos o que fazer direito. Pois aqui não tinha um sistema de delivery. Então um dia apareceu o seu Otávio Zanatta, da Copasa, e trouxe um potinho plástico para a gente. Assim de brinde. Então colocamos a comida dentro, colocamos um laço, postamos no Instagram e as pessoas começaram a encomendar aquela massa”, completa. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Assim começou um sistema de entrega de massas e molhos e assim nasceu a Nonna Luiza. Com o sucesso da marca Nonna Luiza, foi necessário implantar um sistema de roteirização e de entregas. Até mesmo um ponto de venda no Balneário Rincão durante a temporada de verão. 

Profissionalização e mão de obra 

A grande maioria dos restaurantes da cidade é de administração familiar, o que ainda é mantido. “Antigamente quem cuidava da cozinha era a mãe, esposa, a mulher da família que cozinhava. Isso não pode se perder. A característica dessa gastronomia não pode se perder, mas eu preciso profissionalizar a minha logística, a minha cadeia de suprimento, a minha equipe de atendimento, então tudo isso precisa ser olhado com atenção e os empreendedores têm visto isso com atenção”, comenta Carolina Ghislandi. 

Conforme ela, o município busca profissionalizar e garantir uma infraestrutura de qualidade e os empreendedores também têm olhado isso como um importante fator para movimentar os seus investimentos. “Acho que uma parte é do poder público e uma parte também é do próprio empreendedor. E a gente tem visto que cada vez mais as gerações que estão assumindo a gestão dos empreendimentos têm entendido que é necessário buscar formação, capacitação, trazer capacitação para as equipes”, completa. 

“Eu não preciso ter vários serviços com o mesmo produto. Isso foi uma sacada muito inteligente de quem empreendeu na cidade. Cada um tem a sua identidade gastronômica. Então eu tenho cada restaurante servindo um produto que é único. Embora eles concorram indiretamente, eu não tenho dois com o mesmo serviço um do lado do outro. Se abrir um do lado, ele vai oferecer uma outra proposta de serviço”, respalda. 

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Atualmente um problema observado por Clenir Possamai é a falta de mão de obra. “Nós temos um problema muito grande, a cidade falta mão de obra. Apesar de nosso custo de vida não ser alto, não tem moradia disponível. E não tem transporte. Porque os horários são noturnos. Infelizmente hoje nós temos que perguntar no começo da entrevista de emprego se ela tem transporte para vir”, conta. 

Por outro lado, os funcionários são valorizados e recebem incentivos. Um exemplo é o gelataio da Gheppo, que antes de abrir a sorveteria realizou cursos na Itália. 
“Eu acho que a gente precisaria ter um investimento na escola de treinamento, tanto para garçom, auxiliar, cozinheiro, copeira, camareira, devia ter uma escola para tudo isso. Para profissionalizar esses serviços”, explica. 

Luana Bortolotto também vê um potencial grande em Nova Veneza com a criação de um parque, um espaço livre em que as pessoas possam passar o dia e possam receber grandes eventos. “Quem sabe um local para as crianças brincarem, correr, as pessoas aproveitarem o dia até mesmo receber shows. Um local que também conte a história de Nova Veneza”, comenta.  

Em 2018, a cidade recebeu o título de Capital Nacional da Gastronomia Típica Italiana, ou seja, a cidade no país que mais “respira” a gastronomia típica da Itália. De acordo com a secretária, um desafio que se tem lutado no setor público é a de profissionalização. “Se eu sou uma capital de gastronomia, eu preciso de um polo de formação em gastronomia e hospitalidade. Então a gente tem trabalhado para que isso seja viabilizado, Nova Veneza ter um centro voltado para a hospitalidade gastronomia.

Plano de turismo 

Neste ano, o Sebrae fez a entrega do Plano Municipal de Turismo ao Conselho Municipal de Turismo (Comtur) de Nova Veneza. O plano tem validade até o ano de 2024 e conta com 84 ações. “Ele tem como objetivo nortear as nossas ações. Ele definiu prioridades, com graus de relevância. Algumas responsabilidades do setor público, algumas da iniciativa privada. E assim nós já estamos colocando isso em prática para ser executado”, explica. 

O futuro de Nova Veneza

Sempre que se pensa em Nova Veneza se pensa na comida, mas outras vertentes tem se ampliado na cidade. “Nosso carro chefe é o turismo gastronômico, mas complementa nossa oferta o ecoturismo, cicloturismo, trilhas, turismo rural e o turismo religioso. Eu acho que precisamos investir no turismo rural. Nós precisamos melhorar a nossa infraestrutura. Além disso, acho que nós precisamos roteirizar, pois temos localidades que são lindas aqui na região e a gente não explora. Um dos desafios da gente é melhorar a nossa oferta de eventos para diminuir a sazonalidade”, enfatiza Carolina.

Foto: Guilherme Hahn/Toda Sexta

Carolina também enxerga outras vertentes e que o futuro de Nova Veneza é próspero em investimentos. “Eu acredito que nós vamos nos consolidar no turismo a nível regional e nacional. Nós temos o desafio de melhorar a nossa oferta de eventos na quantidade e na qualidade adequada. Eu, por exemplo, vejo a gôndola andando, podendo circular. Acredito que daqui 10 anos nós vamos ter mais oferta de turismo e para públicos mais distintos. E eu vejo principalmente Nova Veneza como um grande protagonista regional”, finaliza. 

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