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No reencontro com cadernos e livros, lições que o tempo não apaga

Os vários caminhos para quem quer voltar a estudar e relembrar as épocas das primeiras letras
Por Fagner Santos Criciúma, SC, 14/11/2018 - 09:08
Foto: Guilherme Hahn / A Tribuna
Foto: Guilherme Hahn / A Tribuna

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Dia Nacional da Alfabetização. Ou letramento, dirão os especialistas. Seja como for, o 14 de novembro remete ao aprender a ler e escrever, direito de todos, dever de quem educa. Dos que estão por aprender agora, aos que já traçaram suas primeiras letras há mais anos, o desafio de ensinar ou relembrar está em pauta hoje.

Eletricista aposentado há mais de 20 anos e atleta da Judecri, Eloir Nava, 60 anos, se diz realizado. No auge da melhor idade, tempo livre e atividades de lazer poderiam ser a prioridade do seu cotidiano, correto? Errado. Eloir resolveu buscar, por conta própria, o conhecimento. No início do ano passou cursar o Ensino Médio através do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) da escola Ministro Jarbas Passarinho, no Pinheirinho. 

Parou de estudar regularmente há mais de 40 anos, em 1975 e, até então, não teve contato com o Ensino Médio. A necessidade foi a principal causa do abandono. “Passei a ajudar a família fazendo bicos como auxiliar de pedreiro”, relembrou. A última vez em uma sala de aula antes do CEJA havia sido em 1981, quando se formou Técnico Eletricista pelo Senai. “Entre 1979 e 81 foi quando pude me profissionalizar e seguir no mercado”. Eloir acredita que o ensino está defasado em comparação à época em que cursou o Ensino Fundamental, nos anos 60 e 70. “Era mais puxado, mais organizado”, recordou. 

Foto: Guilherme Hahn / A Tribuna

O CEJA é o ponto final na jornada do conhecimento para Eloir. O programa possibilita se enturmar melhor ao grupo social do qual mais participa: os atletas da Judecri, que frequenta há sete anos. “Muitos são estudados, com faculdade, mas acredito que o aprendizado daqui pode me dar a base necessária para dialogar”, relevou. Conhecimentos sobre eventos da atualidade são o foco do programa, e permitem maior entendimento da atual situação econômica e política do país. “Vimos um documentário sobre o preconceito contra indígenas, pesquisamos sobre a Ditadura Militar e agora vamos entrar na consciência negra”, elencou o aposentado, que utiliza os conteúdos para se aproximar dos colegas atletas. 

Diferentes estradas se encontram

Independente da idade, motivos para largar o estudo regular não faltam. Muitas vezes, por necessidades familiares. Caso do estudante Josafá Medeiros Serafim, de 19 anos. Em 2015, parou de frequentar o primeiro ano do Ensino Médio para cuidar de sua irmã, diagnosticada com Transtorno Bipolar. “Minha mãe era a única que cuidava dela, e me senti na obrigação de ajudar minha família a enfrentar um momento difícil”, contou. Agora, se dedica fielmente aos estudos no CEJA. “Vou me formar em dezembro. A sensação de dever cumprido é grande”, exclamou o estudante. 

Para Josafá, a conclusão do ensino médio abre novas portas, fechadas há quase quatro anos pelos rumos que sua vida tomou. “Não vou parar de estudar, quero me formar em psicologia e entender melhor sobre a condição da minha irmã e também oferecer suporte para quem mais precise de um psicólogo”, projetou, imaginando o futuro. O CEJA foi a oportunidade no rumo do conhecimento. “Aqui posso expandir meu saber, conhecer novas histórias de vida, progredir com meus sonhos profissionais e pessoais”, observou o estudante, que também frisou sua percepção de maior centralização nas aulas do CEJA em comparação ao ensino regular.  

Foto: Guilherme Hahn / A Tribuna

Rotatividade de alunos é elevada

Atualmente, mais de 1,7 mil alunos de dez municípios da Região Carbonífera e de unidades prisionais de Criciúma cursam o CEJA. A expectativa é que o número seja maior para o próximo ano. “Em média, 200 novos alunos se matriculam a cada seis meses, tempo de duração de cada um dos três módulos”, explicou o diretor do programa, Juscelino Cervelin. Ao todo, a caminhada até o diploma do Ensino Médio dura um ano e meio. 

A média de idade fica entre os 18 e 35 anos: 60% dos alunos. Entretanto, casos como o de Eloir, que voltou a estudar com 60 anos, aparecem com frequência. No Jarbas Passarinho, onde o aposentado estuda, são quase 520 alunos.  “É uma diferença de idade enorme, então temos que adaptar as aulas para proporcionar trabalho em equipe e interação social entre eles”, relatou Carlos Roberto dos Santos, professor de história do CEJA e também do ensino regular, para crianças e adolescentes abaixo dos 17 anos. 

Foto: Denis Luciano / Arquivo

Inscrições para o programa podem ser realizadas na escola Jarbas Passarinho, na Rua Afonso Scavone, Bairro Pinheirinho, entre os dias 19 e 22 de novembro. Apenas maiores de 18 anos que pararam de estudar em algum momento da vida podem se matricular no CEJA e devem apresentar RG, CPF, comprovante de endereço e histórico escolar original. Há turmas nos três turnos, manhã, tarde e noite.

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