Depois de pedir demissão do Vila Nova, com menos de 15 dias no comando do time, o técnico Hemerson Maria fez um pronunciamento forte na manhã desta terça-feira, 24. O treinador relatou uma discordância entre a comissão técnica e o grupo de jogadores, que não teria aceitado as cobranças e o método de trabalho do treinador.

A fala do treinador durou quase 30 minutos, inclusive com choro ao despedir-se do clube, e detalhou o desentendimento com o atletas. Segundo Hemerson Maria, a discordância começou a ficar mais clara durante a partida contra o Botafogo, quando o Vila Nova saiu perdendo por 2 x 0 em 20 minutos de jogo.

O técnico disse ter feito cobranças fortes na parada técnica, no intervalo e ao fim da partida, cujo placar final foi 3 x 2. "Falei que o resultado final do jogo mostraria o caráter do grupo. E não falo em jogador vagabundo, indisciplinado e etc. Falo de foco, resiliência e buscar o objetivo. Como comandante, tenho que extrair o máximo dos jogadores, na parte técnica, tática e principalmente mental. Não tive uma resposta, uma reação dos jogadores", disse Maria.

Na reapresentação do elenco, na segunda-feira, Hemerson Maria convocou uma reunião com os jogadores para "tentar arrancar a reação deles, com capacidade de sair do rebaixamento e buscar o meio de tabela", explicou o técnico. Aí os jogadores demonstraram o descontentamento com o trabalho.

"Quando comecei a fazer apontamento e observações, para a minha surpresa, aconteceram manifestações contrárias, jogadores achando que a situação estava normal, que era um grupo vencedor. Retruquei, falei que no Vila Nova o que importa é o dia seguinte, o passado fica para trás", relatou o técnico.

"O grupo não acatou bem essa cobrança, achei uma reação desproporcional. Quando ia para o próximo tópico, aconteceu uma reação impactante, talvez a mais forte de grupo para treinador que aconteceu comigo em toda a minha carreira. Um atleta falou que o grupo era contrário à minha metodologia de trabalho. Foram feitos questionamentos de palestra, duração de treinamento, sistema e até os jogadores questionando programação de treinamento, uma coisa que eu nunca vi no futebol, me decepcionou muito", completou Hemerson Maria.

O técnico disse-se decepcionado e até chorou quando despediu-se dos dirigentes durante a coletiva. Segundo Hemerson Maria, os jogadores questionaram até o tom de voz usado nas cobranças do dia a dia. "Eu não caí de paraquedas no futebol. Estudei, estou fazendo licença pró da CBF, tenho bom relacionamento com todos os profissionais que eu trabalhei. Não fui criado com mimo, meus pais me ensinaram que temos que ir atrás dos nossos objetivos", explicou-se Maria.

"Sou um cara que às vezes absorve algumas coisas, mas o vestiário e o comando é meu, não abro mão disso. Não pode haver inversão dos fatores, o grupo de atletas direcionar o que tem que ser o treinamento, os dias, o tempo de treino e a maneira que tem que se jogar", continuou. "É uma coisa muito triste. Quero falar em nome de alguns treinadores, um dos maiores questionamentos de hoje é que está difícil gerenciar vaidade e o atleta. Parece que o atleta está sempre blindado e o treinador sujeito às responsabilidades", completou Maria.

Hemerson Maria deixou o Vila Nova na 17ª colocação da Série B, em 12 dias de trabalho. O técnico relatou que a situação vivida no clube foi inédita na sua longa carreira, iniciada aos 23 anos de idade. 

"Percebi que para eu ficar aqui com o grupo e obter resultados, eu teria que mudar minha maneira de ser e metodologia e isso não existe. O melhor caminho para conseguir objetivos e vitórias é o trabalho duro, a concentração, a dureza e a resiliência. Não vou ser marionete de um grupo de jogadores que talvez não tenha a consciência da importância de vestir a camisa do Vila Nova e disputar um Campeonato Brasileiro", concluiu.