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Detalhes sobre Coronavac são debatidos na Comissão de Saúde

Butantan reafirmou, em conversa com deputados catarinenses, que vacina está pronta e 46 milhões de doses serão disponibilizadas
Por Redação Florianópolis, SC, 22/10/2020 - 21:28
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Representantes do Instituto Butantan participaram da reunião promovida pela Comissão de Saúde, nesta quinta-feira, 22, e apresentaram detalhes sobre a vacina Coronavac, imunizante contra o novo coronavírus produzido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com a instituição brasileira. De acordo com o instituto, a vacina está pronta e 46 milhões de doses devem ser disponibilizadas no início do próximo ano no Brasil, com possibilidade de oferecer até 100 milhões de doses em 2021. A reunião foi promovida por proposição do deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB).

O diretor de Estratégia Institucional do Instituto Butantan, Raul Machado Neto, explicou que a vacina vai começar a ser transferida para envase no Butantan, mas o primeiro lote já virá pronto para utilização. O que ainda demandará tempo é a finalização da análise e garantia, por meio do estudo clínico, que está terminando. Nesta fase, 13 mil voluntários brasileiros, da área da saúde, participam do estudo. “Isso será regulado pela Anvisa, que é uma instituição respeitada no Brasil e fora do Brasil e que tem trabalhado de uma maneira muito séria, independente de qualquer pressão”, disse Machado Neto.

Conforme o diretor de Negócios, Cristiano Gonçalves, o instituto coordena uma rede de 27 laboratórios e conta com mais de 180 pesquisadores. Pelo acordo com o laboratório Sinovac, o Butantan patrocinou a fase 3 dos estudos e receberá a transferência da tecnologia para produção da vacina Coronovac no Brasil. Para isso, uma fábrica que estava fora de operação está sendo adaptada, num investimento de R$ 130 milhões.

O Instituto Butantan foi criado há 120 anos, um ano depois da Fiocruz, ambos com a finalidade de desenvolver terapias e soluções biológicas para a sociedade. O instituto fabrica 65% de todas as vacinas disponibilizadas no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o principal fornecedor do Ministério da Saúde. Somente da vacina contra a Influenza (gripe), o Butantan forneceu 80 milhões de doses em 2020, o que equivale a 10% de toda a produção mundial dessa vacina.

Diferenciais da Coronavac

Como proponente da reunião, o deputado Dr. Vicente explicou a preocupação sanitária com a vacina, justificando que o Butantan foi convidado por se tratar da instituição que está mais próxima de apresentar uma imunização eficiente contra o coronavírus. O parlamentar fez diversos questionamentos técnicos sobre a Coronavac, entre eles a previsão de efetividade da memória imunológica provocada pela vacina. Sobre isso, o diretor de Estratégia Institucional do Butantan, Raul Machado Neto, respondeu que ainda não há perspectiva, pois só será possível saber o tempo de duração da imunização com a continuidade dos estudos e o acompanhamento dos pacientes.

Dr. Vicente também questionou sobre os diferenciais da Coronavac. Cristiano Gonçalves explicou que a vacina foi desenvolvida a partir do vírus inativado, que é uma técnica utilizada há 40 anos na produção de imunizantes. Na fase de estudos, 97% dos pacientes produziram anticorpos neutralizantes. A imunização consiste em duas doses com intervalo de 14 dias e os primeiros 9 mil voluntários no Brasil começaram a receber a vacina no final de julho. “Os resultados de efeitos colaterais mostraram que a vacina é bastante segura. Entre todas, foi a que se mostrou mais segura, com poucos efeitos colaterais, sendo o mais frequente dor no local da injeção, que é um efeito já esperado”, disse.

Outro diferencial da vacina é que ela pode ser armazenada a uma temperatura de 2°C a 8°C, com garantia de estabilidade a uma temperatura de 37°C durante 28 dias, o que dá bastante flexibilidade para o transporte e a utilização do produto em todo o território brasileiro. “Outras vacinas, que utilizam adenovírus e RNA, precisam de tecnologia de ultracongelamento. Em alguns lugares do Brasil não existe nem freezer”, comparou o diretor do Butantan.

Sobre a necessidade de ser aplicada em duas doses, Gonçalves disse que a única vacina em fase de testes que não precisa de duas doses é a que está sendo desenvolvida pela Johnson & Johnson. Questionado ainda sobre porque os testes não estão sendo realizados na China, uma vez que foi lá que a Covid-19 surgiu, ele disse que não é possível realizar o estudo clínico na China porque o país tem uma quantidade muito pequena de casos. “As pessoas precisam entrar em contato com o vírus após a vacinação para a efetividade da testagem, o que não seria possível na China, onde quase não há vírus circulando, enquanto o Brasil vive uma situação de epidemia”, explicou. Pela mesma razão, os voluntários selecionados atuam na área da saúde – são as pessoas que estão mais expostos, assim é possível testar a eficácia mais rapidamente.

Em relação à biossegurança, “pelo processo de inativação química a vacina não contém mais o vírus, mas todas as proteínas que suscitam respostas imunes”, conforme explicou o representante do Butantan. Enquanto em uma vacina produzida a partir de um adenovírus, por exemplo, a pessoa é infectada por outro vírus semelhante, que causa a resposta imune.

Vacina em Santa Catarina

O secretário de Estado da Saúde, André Motta Ribeiro, participou da reunião e defendeu que o programa nacional de imunização como patrimônio do Sistema Único de Saude (SUS). Ele disse que o Estado tem esse alinhamento de participar da estratégia centralizada pelo Ministério da Saúde. “Temos participado de todas as discussões e vemos com bastante admiração e respeito tudo que está sendo feito pelo Instituto Butantan. A ação de compra de uma vacina é centralizada no Ministério da Saúde, mas o Estado está preparado para a eventualidade de precisar tomar alguma ação específica.” O Estado já está se preparando para a vacinação organizando a compra de insumos (seringas e agulhas, por exemplo), conforme acrescentou a superintendente de Vigilância em Saúde, Raquel Ribeiro Bittentcourt.

A polêmica com o governo

A deputada Ada de Luca (MDB) enfatizou que “ninguém deve politizar a vacina dos brasileiros” e questionou os representantes do instituto sobre os desdobramentos após a polêmica com o governo, já que o presidente anunciou que não comprará vacina chinesa. Os representantes do Instituto Butantan afirmaram que a principal estratégia continua sendo a negociação com o Ministério da Saúde para que a vacina possa ser distribuída a toda a população brasileira. Quanto ao fato de a vacina ser chinesa, Raul Machado Neto enfatizou que não é admissível a discriminação, até porque “todas as grandes fábricas de vacina do mundo estão sediadas na China”.

O deputado Valdir Cobalchini (MDB) opinou que o encontro foi “muito esclarecedor”. Ele declarou-se honrado em participar do debate promovido pela Comissão de Saúde e ressaltou a importância que tem, para o Brasil e para o mundo, o Instituto Butantan. “Nunca imaginei que poderiam levantar suspeição ou politização sobre isso. Fico triste quando vejo essas coisas na mídia nacional, alguém que tem a autoridade que tem, tratar esse assunto desta forma, desdenhando, com um desprezo que o povo brasileiro não merece.” 

O presidente da comissão, deputado Neodi Saretta (PT), acrescentou que “a vacinação é importante, não apenas pela proteção individual, mas porque evita a propagação em massa de doenças que podem levar à morte e comprometer a saúde e a qualidade de vida das pessoas”.

O deputado Dr. Vicente finalizou agradecendo aos representantes do Instituto Butantan, “instituição que, juntamente com a Fiocruz, enobrece o país”. Ele enfatizou que, como médico e como pessoa do grupo de risco para a Covid-19, irá se submeter à primeira vacina que estiver disponível no país.

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