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A tradicional Romaria em Honra e Festa à Nossa Senhora de Caravaggio 

Santuário, que fica em Nova Veneza, atrai milhares de fiéis todos os anos
Por Vitor Netto Nova Veneza, SC, 29/05/2021 - 09:01
Fotos: Guilherme Hahn/4oito
Fotos: Guilherme Hahn/4oito

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“Ó terra ditosa, feliz Caravaggio; que a Virgem gloriosa por trono escolheu”. Assim que começa um dos tantos cantos em adoração à Nossa Senhora de Caravaggio. E assim são alguns dos dizeres que estão colocados no longo trajeto que tantos fiéis percorrem anualmente até chegar ao Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, em Nova Veneza. 

Ao todo, do centro de Criciúma, especificamente da Catedral São José no Centro, até o Santuário de Caravaggio são 12 quilômetros. Trecho que fiéis percorrem, em meio a subidas íngremes e orações. Seja para agradecer ou pedir. O frio é um companheiro de muitos devotos, já que a festa ocorre no fim de maio, quando é possível ver a geada e o orvalho congelado nos gramados que compõem o cenário, junto as bandeirinhas das cores branca, azul e rosa claro, cores de Nossa Senhora.

O dia de Nossa Senhora de Caravaggio é comemorado no dia 26 de maio e a festa já é tradicional na cidade, levando milhares de devotos a Nova Veneza. Em 2021, comemora-se a 70ª Romaria e Festa em Honra a Nossa Senhora de Caravaggio que, mais uma vez, contará com uma programação mais restrita devido a Covid-19. As festividades iniciam na sexta-feira, dia 21, e seguem até o dia 30 de maio. 

Mas o sucesso dessa festa não é de hoje. São muitos anos de trabalho e devoção, de moradores da região que lutaram, se reinventaram e buscaram construir a grande festa que hoje é realizada. 

A história do Santuário 

A colonização de Nova Veneza, Santa Catarina, teve início em 1891, quando famílias de origem italiana chegaram na região. Ao vir para o Brasil, o grupo de famílias que se instalou em Caravaggio e trazia consigo uma estampa de Nossa Senhora de Caravaggio e no coração uma grande devoção à santa.

Um dos primeiros frutos dessa devoção foi a construção de um oratório, onde as pessoas se reuniam para se encontrar, rezar o terço e cantar. Essa grande devoção a Nossa Senhora propagou-se rapidamente, quando em 1896 foi construída uma capela de madeira.

À época, as famílias eram grandes e a primeira capela construída já não condizia com o grande público, pois eram muitos os devotos que se dirigiam a Caravaggio. Em fevereiro de 1909, o Padre Miguel Giacca veio da Itália para dar assistência espiritual aos imigrantes da região. Já no local, Padre Miguel Giacca criou o curato de Nova Veneza e no dia 31 de julho de 1912, Nova Veneza foi elevada à categoria de paróquia, pelo então Bispo de Florianópolis, Dom João Becker.

Alguns anos depois, em 1954, com a criação da diocese de Tubarão surgiu a ideia de um santuário diocesano. Em 1957, Dom Anselmo Pietrulla, Bispo Diocesano, sugeriu à comunidade a construção de um Santuário Diocesano dedicado a Nossa Senhora. 

Conforme o resgate histórico realizado por Benício Marcos Spillere no jornal Fogletin Della Montagna, no dia 22 de julho de 1963 o Monsenhor Gregório Locks recebeu a “Planta do Santuário” e no mesmo dia foi realizada a demarcação para a construção. O Santuário tem a forma de cruz com 40 metros de comprimento e aproximadamente 800 metros quadrados de espaço interno. 

“Dia 29 de julho de 1963, foi iniciada a cavação do fundamento do Santuário e Antônio Ronchi, num ato simbólico, deu a primeira ‘pazada’. E com a presença dos políticos Aquilino Cirimbelli, Italo Amboni e Aroldo Mondardo, foi colocado em movimento o trator de esteira”, escreveu Spillere no Fogletin Della Montagna. 

No dia 1º de outubro de 1967, numa festa em homenagem a Maria, com aproximadamente 12 mil pessoas e com uma grande concentração de autoridades e fiéis, foi inaugurado o Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio. 

“O Santuário foi o maior movimento comunitário que existiu na história do Caravaggio. Contou com o envolvimento de todos dos moradores, das empresas e das famílias, com doações, mão de obra, pois quem não poderia dar dinheiro, ia lá e ajudava na construção”, contou o editor do Fogletin Della Montagna e historiador, Benício Marcos Spillere.

Resgate à história

O livro Vozes da Nossa Gente, do jornalista Tadeu Ronconi Spilere, lançado em 2018, traz a história da comunidade de Nova Veneza e conta como os moradores se mobilizaram pelo objetivo. “Para que o sonho da nova estrutura fosse concretizado, a comunidade se mobilizou. Havia uma espécie de rodízio e a cada semana uma família se dedicava ao trabalho, envolvendo diversas funções e agregando homens e mulheres”, escreveu. 

Tadeu ainda contou em seu livro sobre o primeiro milagre registrado na comunidade de Caravaggio, em 1949, quando o casal Amália Dalmolin Topanotti e Severino Topanotti, moradores de Içara, chegaram na comunidade e foram até a casa de Josefina Milanez Spilere para passarem a noite. Amália tinha um problema nas pernas e não podia andar. No dia seguinte, Amália pediu para que levassem ela até o Santuário. Depois da visita à capela, Amália levantou e caminhou. 

São pessoas como essas que são responsáveis por contar e levar a diante a história do Santuário de Caravaggio. “Resgatar a história é fundamental. Não podemos deixar morrer a história do Santuário. Inclusive o Santuário tem uma importância muito grande e poderia ser divulgado ainda mais. O Caravaggio respira o Santuário, ele é a cara, o símbolo máximo da nossa comunidade”, enfatizou Benício. 

Outro fato interessante da história é que a nomeação do reitor e a criação do Curato ocorreu um ano antes da inauguração efetiva do Santuário. “Aconteceu em 1966, mas o Santuário foi inaugurado em 1967. Mas o Santuário estava praticamente pronto e eles queriam que o governador, Ivo Silveira, viesse inaugurar, então foi adequado a agenda do governador pois naquela época não era fácil que nem hoje que vem em um dia e vai embora no mesmo dia. Então acertaram para o dia 1 de outubro de 1967 e em 1966 já estava funcionando”, contou o historiador. 

Festividades em 2021 e o coronavírus

Quando se pensa em Caravaggio já se imagina a grande festa sempre realizada no fim do mês de maio, que reúne multidões com grandes celebrações que com bandeiras em mãos e rosas caindo do céu recebem a imagem da Santa em adoração. A Romaria, que já recebeu 60 mil pessoas nas instalações do santuário, costuma reunir de 20 a 30 mil pessoas anualmente. Isso sem a pandemia. 

A pandemia de Covid-19 iniciou poucos meses antes da festa em 2020 e, por este motivo, não foi possível realizar as festividades no ano passado. Contudo, em 2021 está sendo preparada a 70ª Romaria e Festa em Honra a Nossa Senhora de Caravaggio. 

“No ano passado estava tudo muito nebuloso então não fizemos festas. Tivemos algumas missas mas tudo muito restrito. Para esse ano, claro que nós esperávamos estar um panorama melhor. Quando nós pensamos na festa em meio a pandemia, há dois meses, nós pensávamos que estaríamos melhor”, contou o reitor do Santuário, o padre Joel Sávio. 

Mas nem por isso deixarão de realizar as festividades. “Vamos ter que ter algumas restrições, principalmente na parte social. Uma delas é que nós vamos manter as noites sociais só que em forma de drive-thru. Mesmo que nós limitemos para poucas pessoas, é um risco grande de ter aglomerações”, pontuou. 

As atividades se dividem em sociais e religiosas. “Nós só vamos garantir dois dias com atividades mais abertas, que é dia 26, que é o dia da aparição, então vem muito peregrino e não queremos deixar esse povo de fora, então vamos ter tendas e vamos recebê-los, mas é um grupo mais passageiro, que senta, descansa, come e vai embora. E no dia 30, no domingo da festa, vamos ter o café do Santuário, pois é um povo que passa e fica pouco tempo. Da parte religiosa vamos manter tudo. As missas conseguimos manter dentro do santuário”, acrescentou. 

Conforme o reitor do Santuário, a festa, deve reunir 20% do contingente de 30 mil peregrinos. “Nós nem estamos motivando as procissões e carreatas para não chamar o povo. Vamos ter um número bem menor de pessoas e vamos ter um cuidado com a capacidade do Santuário e a quantidade de pessoas circulando na gruta, que é um local muito visitado”, completou. 

A participação da comunidade é uma das principais características da festa, que desta vez também será reduzida. “Uma Romaria normal gira em torno de 650 voluntários. Nós agora estamos contando com uns 100 voluntários”, contou. A festa também é organizada desde o ano passado. “Acaba uma e começamos a pensar em outra. Mas o planejamento efetivo começa em dezembro para ser realizado em maio”, respaldou.  

E a esperança é de que nos próximos anos sem a pandemia, a festa continue a crescer e continue contando com a participação da comunidade. “Nós queremos fazer com que o pessoal de Caravaggio e o pessoal que é devoto não perca o elo com a Nossa Senhora. Por isso que vamos fazer a festa este ano. Não queremos que eles percam essa ligação. Mas o santuário não vive só da festa, ele tem que estar preparado para receber os peregrinos o ano inteiro”, enfatizou. 

Um Santuário formado pela comunidade

Desde o seu princípio, o Santuário foi construído e formado pela sua comunidade. Os voluntários da festa também participam da atividade cotidiana da igreja. “Eu nasci e cresci aqui e sempre participei da festa, mas nos últimos vinte anos minha participação se tornou mais efetiva a partir de quando passei a coordenar o café que oferecemos durante a festa”, lembrou a voluntária Clarice Spilere Pieri. 

Para Clarice, a grande importância e o que leva milhares de fiéis ao Santuário é a presença da fé de Nossa Senhora de Caravaggio. “O que motiva as pessoas a pedir e receber as graças a ela. Além disto, a presença destes devotos aumenta a presença dos cristãos em nossa Igreja. A comunidade vê seu trabalho na festa como uma maneira de retribuir as bênçãos e proteção que a Santa proporciona a todos”, completou. 

A fé de Clarice vem de família e ela sempre busca prosperar cada vez mais. “É um sentimento de entendimento do que minha nona, Catarina Feltrin Spilere, me passou durante minha vida e convivência com ela, de fé em Deus e em Nossa Senhora. Então fica claro para mim a grandeza de Caravaggio. Sempre está presente em mim um sentimento de gratidão e de realização plena em minha vida pela oportunidade que tenho de participar destes momentos grandiosos de nosso Santuário”, finalizou.

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