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Quando 50% pode ser muito bom

Por Dr. Renato Matos 18/01/2021 - 10:41 Atualizado em 18/01/2021 - 10:41

A taxa de eficácia global da vacina Coronavac, alcançada no ensaio clínico realizado no país, sob coordenação Instituto Butantã, foi de 50,38%.
Pareceu, num primeiro momento, um valor ruim - no “limiar da aceitabilidade” - como apresentado numa coletiva de imprensa prévia.

Mas sabemos que Deus ou o diabo estão nos detalhes.
Vamos a eles:
A melhor maneira de, cientificamente, avaliar uma intervenção médica é o chamado ensaio clínico. Voluntários são divididos em grupos, escolhidos aleatoriamente. Um que recebe a intervenção, como medicamento ou vacina, e outro controle, que faz uso de um placebo.
No início do estudo são definidos os critérios a serem utilizados, como tipo de população a ser estudada e o que vai ser considerado sucesso ou fracasso – o desfecho do estudo.

O estudo da Coronavac/Butantan queria uma resposta rápida, necessária neste momento de pandemia sem remédio.
Escolheu, portanto, uma população superexposta – médicos e paramédicos, em contato praticamente diário com doentes. Claro que esperando que iriam se infectar mais, atingindo o número necessário para os cálculos finais mais rapidamente.

De suma importância, e talvez o principal motivo para o “pior desempenho” em relação a outras vacinas, como a da Pfizer e da Moderna, é a definição de “caso Covid”. 
O estudo do Butantan considera “caso” qualquer sintoma sugestivo de infecção, mesmo que sejam extremamente leves, como apenas dores musculares ou cefaleia.
Os estudos de outras vacinas, por outro lado, exigem que para ser considerado “caso” deva haver, além dos sintomas leves, um sintoma de doença moderada, como falta de ar.
Esses casos devem ser confirmados pela técnica de RT-PCR, a mais sensível disponível.
Quando a vacina da Coronavac usa esse mesmo critério – doença moderada – sua eficácia sobe para robustos 78%. 

Além desses detalhes técnicos, outros diferenciais são importantes:

A vacina Coronavac é feita com vírus inativado, a maneira como vacinas são feitas há décadas, o que associa segurança.
Reações alérgicas graves, chamadas de choque anafilático, são estimadas em 1 caso para cada 100 mil pessoas com as novas vacinas.
Vacinas “antigas”, por vírus inativado, 1 caso por milhão – 10 vezes menos.

O escape da vacina.

As novas vacinas “ensinam” nossas células a produzirem uma única proteína que será reconhecida pelo sistema imune, a proteína S.
Caso haja mutação substancial nessa proteína, o organismo deixa de reconhecê-la – o “escape da vacina” - e lá se vai a imunidade.

Com as vacinas inativadas, são várias as proteínas reconhecidas – diversos alvos para serem atacados pelo sistema de defesa. 
Mudando uma, outras podem garantir a imunidade.

Resumindo, se por algum motivo (inclusive político) você não tiver acesso a essa vacina, suas chances de ficar doente dobram. 
E a probabilidade de necessitar de atendimento médico aumenta em 5 vezes.

Sem dúvidas, 50% pode ser um bom negócio.

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