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O rei do veneno

Por Dr. Renato Matos 17/09/2020 - 21:02

A epidemia do SARSCoV 1 – a primeira do século 21 - iniciou na China, na província de Guangdong. 

Os primeiros casos surgiram em novembro de 2002 – uma síndrome gripal evoluindo para pneumonia atípica, com alta mortalidade.

A porta de saída para o mundo foi Hong Kong, que faz fronteira com aquela província chinesa.
 
O carreador do novo vírus para Hong Kong teria sido um nefrologista chinês. No mesmo andar do hotel onde estava hospedado havia pessoas do Canadá, Singapura e do Vietnã. Infectados, ao voltarem aos seus países, levaram o desconhecido agente. Que acabou atingindo 26 países.

Acredita-se que o médico tenha sido infectado por um lojista do mercado de peixes de Guangdong. Internado, infectou 23 médicos e enfermeiros, dezenas de pacientes e familiares – ficou conhecido entre os médicos como o “Rei do Veneno”.

Entra aí a culinária e a cultura.

Numa população de 1,3 bilhão de pessoas o consumo de animais silvestres era comum.  Naquela época de grandes mudanças sociais que acompanharam o desenvolvimento econômico chinês, surgiu um novo ingrediente.  

A ingesta de animais exóticos, muitas vezes in natura, passou a ser visto como uma forma de diferenciação social, trazendo aos adeptos boa reputação, prosperidade e sorte.
 
Milhares de restaurantes eram especializados naqueles pratos. 
A época ficou conhecida como a Era do Sabor Selvagem – que incluía a degustação de praticamente todas as espécies de animais, comprados em imensos mercados com péssimas condições de higiene. História que já conhecemos. 

Em março de 2003 a Organização Mundial de Saúde emitiu um alerta global chamando a atenção sobre uma nova pneumonia atípica, de causa desconhecida.

O agente causador não havia sido isolado, mas sabia-se que era transmitido por via aérea.

Só em maio – 6 meses após o relato dos primeiros casos – um grupo de médicos de Hong Kong publicou na revista Lancet o artigo “Coronavírus como uma possível causa da síndrome respiratória aguda grave”.

A grande diferença daquela epidemia em relação a atual é que os infectados pelo SARS-CoV1 já tinham muitos sintomas quando começavam a transmitir o vírus, o que facilitava o reconhecimento e isolamento dos casos. Os assintomáticos, se é que os havia, não transmitiam a doença.

Ao final, 774 mortes no mundo. 

Desapareceu completamente 8 meses depois do seu início. Sem tratamento ou vacina que mudassem o seu curso natural – apenas com rígidas medidas de isolamento, quarentena, higiene e uso de máscaras.

Já vimos que agora o veneno é mais potente. Cada vez mais conectados, precisamos de uma ágil, resoluta e segura coordenação global.

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