Uma mãe desesperada na rede social. Um pai apavorado no telefone. As últimas viralizações de consequências das duas mortes registradas nesta semana por conta da meningite em Criciúma não deixam dúvidas do quanto há pessoas assustadas com as ocorrências, os óbitos dos meninos de sete meses e de 1 ano e cinco meses na segunda e terça-feira, respectivamente. Ainda não há o diagnóstico oficial, mas sabe-se que ambos frequentavam o Centro de Educação Infantil (CEI) Aníbal Maria de Francia, no Bairro Boa Vista em Criciúma. A lembrar que, do mesmo CEI, era uma criança falecida também de meningite em agosto do ano passado.

A mãe do menino Miguel, uma das vítimas de meningite desta semana em Criciúma, vem usando sua rede social para contar detalhes do acontecido. Em uma postagem desta quarta-feira, 25, ela narrou em detalhes a busca por atendimento no domingo, no Hospital Materno Infantil Santa Catarina (HMISC). Ela narra que, no primeiro atendimento, o caso do seu filho foi tratado como uma estomatite, e a ele foi ministrado um anti-inflamatório. Horas depois ela soube da morte do outro bebê, que era da mesma sala do seu filho na creche

Precisam tomar providências urgentes! levei o meu filho pela primeira vez com febre e vômito na madrugada de domingo para segunda, chegando lá foi tratado como estomatite deram um anti-inflamatório e me liberaram (sendo que meu filho estava bem aborrecido, bem caidinho). Voltei pra casa, e de tardezinha fiquei sabendo da morte do Vicente, na mesma hora fiquei apavorada pois o Miguel era da mesma salinha do Vicente na creche. Voltei ao hospital chorando pedindo que atendessem com urgência o meu bebê, me passaram na frente e colocaram pulseira amarela chegou no consultório a médica examinou e voltou a dizer que era estomatite e receitou uma pomada, novamente fui liberada (Meu filho contunuava todo caidinho). Vim pra casa ele não dormiu nada... terça levamos ele chegou lá eu chorava muito e pedia muito para meu filho ser atendido com pressa colocaram ele na sala de urgência começaram a preparar ele para ir pra uti, tentavam pegar acesso dali é daqui e nada furam meu filho todinho, até que veiu uma abençoada e conseguiu, meu filho foi todo entubado. E depois de horas nessa sala ele foi levado para uti e nos ficamos na espera para poder entrar e ver ele. E demorou demorou demorou até que nos chamaram em uma sala e falaram pra mim e meu esposo: nos fizemos tudo tudo que agente podia fazer.... ( nem precisaram terminar de falar nos já estávamos aos gritos dentro daquela uti). Pra mim falaram que deu negado o exame que fizeram no hospital , já na svo( serviço de verificação de óbito) nos informaram que o motivo da morte do nosso pequeno era muito semelhante com o Vicente. Genteee até quando quantas vidas inocentes vai ter que ser perdidas ainda. Que dor horrível, nada vai trazer meu filho de volta mais desejo muito que alguma providência seja tomada! Somos pais do Miguel ele tinha apenas 1 ano e 5 meses ainda amamentava ele estamos em nada! Não vamos aceitar acontecer com outras crianças inocentes.

Mesmo com os dois casos, a Secretaria Municipal de Saúde tratou de afastar a hipótese de surto na cidade. “Todos os cuidados foram feitos, e nós vamos continuar fazendo isso na medida em que nós vamos também reforçar a nossa equipe ainda mais para esclarecer isso à comunidade”, disse o secretário Acélio Casagrande nesta quarta-feira, 25.

Revoltada ao saber que o município ainda não trata a morte do seu filho como meningite oficialmente, a mãe chegou a postar a imagem de um dos documentos que atestam o óbito referindo a doença.

CEI fechado

Entre as providências tomadas depois dos casos houve o fechamento do CEI, que desde então vem recebendo limpezas periódicas. Mas uma conversa entre um pai de aluno - que não está entre as vítimas que foram a óbito - e a secretária municipal de Educação, Roseli de Luca Pizzolo, ilustra a apreensão da comunidade que faz uso da creche. O pai começa reclamando da falta de vacinas e remédios e chega à necessidade de troca de colchões da unidade, e de uma intervenção mais aguda. Abaixo, a transcrição do diálogo entre o pai e a secretária.

Pai - Não é vacina, é um remédio só para não passar, entendeu secretária.

Secretária - Acabei de sair com a entrevista com o Acélio, que está indo para aí, vai ter vacina contra a meningite C.

Pai - Tá, mas é a Y, D, sei lá o que que está matando as nossas crianças.

Secretária - Essas aí não tem a vacina no posto.

Pai - Ah tá, não tem. O prefeito não consegue verba pra ela?

Outra pessoa - Pra fazer parquinho tem.

Secretária - Eu não sou da área da Saúde. A gente fez a parte da escola, contratamos uma empresa para passar ozônio em toda a escola.

Pai - A gente estava ali, não tinha ninguém. Não limparam nada.

Outra pessoa - Queremos que troque colchão, não que esterilize nada.

Pai - Não tem como trocar colchão?

Secretária - Eu vou ver o que estão fazendo na creche.

Pai - Está tudo num saco para lavar.

Secretária - Vou ver o que estão fazendo na creche, vou ver se a empresa já foi lá passar ozônio, um gás para limpar tudo, tanto na creche quanto na escola. Se tiver alguma bactéria ali vai morrer tudo.

Pai - Ah e as crianças vão morrer também, não tem vacina secretária.

Secretária - Não, a bactéria.

Pai - Deixa eu te falar, não estão vacinando, estão dando um remédio pra criança com vírus não transmitir para a outra. Estão neutralizando o vírus, ele não mata mas também a criança pode adoecer. Os caras da Vigilância acabaram de falar isso pra gente.

Secretária - O prefeito falou que só quem pode falar, dizer o que estão fazendo, é a Michele. Eu vou ligar para a Michele e vou dizer para ela entrar em contato com vocês. Eu estou entrando numa entrevista agora...

Pai - Tu acha que não é mais urgente que a tua entrevista?

Pai - Está bom secretária, a gente corre atrás de vocês, na hora a gente só tem que esperar. Quando vocês precisam a gente tem que abrir as pernas.

Secretária - Eu acabei de sair da entrevista, o Acélio está indo para o local, a Michele está indo para o Boa Vista.

A Secretaria de Saúde reforça que não há mais crianças sob cuidados no HMISC com suspeita de meningite. A Afasc reitera a programação de reabertura do CEI Aníbal Maria de Francia nesta sexta-feira, 27.