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Evandro elogia Dal Farra e sugere "democracia na sucessão"

Da sua trajetória no passado aos planos futuros, passando por pandemia e presidência do Criciúma, diretor do Tigre falou ao 4oito
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 28/05/2020 - 14:25 Atualizado em 28/05/2020 - 14:28
Evandro Guimarães em entrevista à Rádio Som Maior em janeiro / Arquivo / 4oito
Evandro Guimarães em entrevista à Rádio Som Maior em janeiro / Arquivo / 4oito

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Evandro Guimarães é um cara de história no futebol nacional na década de 90. Zagueiro sério, orgulha-se dos feitos enquanto jogador, exaltando o bom porte físico e o fato de que "não aliviava" para os atacantes. Neste ano, durante um treino da pré-temporada, em conversa com os setoristas do Criciúma, o atual diretor executivo do Tigre lembrou da final de Campeonato Brasileiro que disputou enquanto defensor do Vitória. Dentro do Maracanã, marcou o atacante Renato Portaluppi, autor do gol do título do Flamengo naquele ano. "Eu dizia para ele que não ia aliviar não e que era para ele ter cuidado", diverte-se Evandro.

Pelo Tigre, Evandro foi tricampeão catarinense e campeão da Copa do Brasil, entre os anos de 1989 e 1991. Os tempos de glória enquanto jogador refletem no trabalho do hoje dirigente. Ele chegou ao Criciúma no fim do ano passado para comandar um processo de retomada do Tigre campeão, que há muito ficou pelo caminho, evidenciado pelo amargo rebaixamento no fim do ano passado. Foco, sede por vitória e time forte fisicamente é o mantra que Evandro repete e quer no atual elenco. 

No time de 1991, Evandro está na foto dos campeões. É o terceiro da esquerda para a direita, na fila do meio

Na última terça-feira, 26 de maio, a reportagem do Portal 4oito procurou o diretor para falar sobre o possível retorno do futebol catarinense em meio à crise do coronavírus. Com o Tigre no aguardo da definição de um novo calendário para retomar as atividades presenciais, o diretor segue atento ao mercado. Foi mais de uma hora de conversa por telefone e assuntos diversos foram abordados, relacionados ao Criciúma, à pandemia e ao futebol.

Evandro falou sobre a gestão do Tigre, a ausência de títulos nos últimos anos e o processo de sucessão do presidente Jaime Dal Farra. Enquanto elogiava a administração extra-campo do presidente do Tigre, Evandro se surpreendeu sobre a possibilidade levantada no fim do ano passado de o Cruzeiro perder os títulos da Copa do Brasil por doping financeiro, o que foi descartado na terça-feira pela CBF. Sobre a sucessão no Tigre, o diretor pediu um processo mais democrático e com a participação do torcedor.

"As pessoas tem que falar mais a verdade, ser menos coniventes. Tudo que dão palpite é com algum interesse, tem que parar com isso", disse. 

Time de 91 é modelo

Desde que apresentado como diretor executivo, Evandro Guimarães ressalta o trabalho feito no fim da década de 80 e começo da década de 90 no Criciúma. Foi o período mais vitorioso do clube, com o tricampeonato consecutivo do Catarinense, quebrando uma hegemonia temporal do Joinville, e o inédito título da Copa do Brasil, até hoje o único campeonato nacional conquistado por um clube de Santa Catarina.

Enquanto diretor, Evandro inspira-se naquela formação do grupo de jogadores, sempre focado em novas conquistas. "A nossa geração foi importante por causa disso, manteve uma rotina vencedora. Ganhamos quatro anos de títulos, um atrás do outro. Três estaduais, Copa do Brasil, semifinal de Copa do Brasil, Libertadores. Poucos conseguem isso, você ganha um ano e no outro paga a conta. Hoje é cada vez mais difícil ter uma hegemonia", afirma. 

"O Criciúma deu certo lá atrás com jogadores desconhecidos. Depois vieram jogadores conhecidos e não deu. Time de 2002 também foi montado assim, sem ninguém conhecido em um momento de dificuldades. Tem horas que faz apostas e dá errado, tem outras que dá certo. Quando contrataram o time nosso, o de 89 não foi programado, mas foi o melhor time fisicamente que eu vi na vida", exalta.

"Eu sempre tinha sido o melhor teste físico de todos os clubes que trabalhei. No criciúma eu era o quinto e o sexto. Até hoje os caras agradecem de ter feito parte daquele time, todo mundo cresceu junto. Mentalmente era muito forte, olha o que cada um faz hoje em dia, muitos são técnicos. Era mental e fisicamente forte", acrescenta. Se o time não tivesse sido desfeito teria sido campeão em 92 também. Nós desmartelamos o Joinville, desmontou, que era o time mais temido deles", ressaltou. 

Evandro Guimarães teve outra passagem pelo Criciúma, como coordenador das categorias de base, até agosto de 2012

Gestão Dal Farra

A exaltação sobre o time de 91 surgiu enquanto Evandro defendia a gestão de Dal Farra. Para o diretor executivo, o Tigre é referência de administração no país, em termos de estrutura e de planejamento financeiro. "Vejo como estão outros clubes, respirando por aparelhos, porque a dívida é enorme e a estrutura comprometida. Aqui está tudo preservado, a saúde financeira está muito bem. Se falar em modelo de gestão desde o Angeloni até agora, a forma como o clube alcançou há 10 anos, o clube está pronto para que venha o próximo gestor e desenvolva um bom trabalho", disse.

Para o diretor, o desafio agora é conciliar o sucesso fora de campo com os resultados dentro dele, que não chegaram na gestão de Dal Farra. "Tem que diferenciar o que funcionou e o que não funcionou. No Criciúma o administrativo foi bem, você não pode mudar. O clube cresceu como marca, está preparado para o futuro. Tem que ser discutido o modelo de gestão", afirmou Evandro. 

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A boa estrutura administrativa, de acordo com Evandro, vai ser importante para a retomada do Tigre pós-pandemia. "Quem tinha dívida realmente e enfrentou essa crise, muito clube não vai sobreviver. Campeonato do ano que vem vai ser muito diferente, vai ter clube que vai deixar de existir. Tem o São Caetano, que já jogou final de brasileiro, que anunciou que não vai jogar a Série D. Todo mundo fica ligado", alertou. 

"É importante ganhar título, mas a gente não pode colocar que tá tudo errado no Criciúma, que tem uma saúde administrativa e financeira", ponderou o diretor.

Evandro ao lado do antigo companheiro Wilsão em um treino do Tigre no CT Antenor Angeloni

Cruzeiro

Um dos assuntos que movimenta os bastidores do futebol nacional é o Cruzeiro. O clube de Belo Horizonte, hexa-campeão da Copa do Brasil, tri-campeão brasileiro e bi-campeão da Libertadores, vive a maior crise da história, com dívidas gigantes e participando, pela primeira vez, de uma Série B de Brasileirão. A crise é tão grande que o time poderá começar a competição com seis pontos a menos por dívidas não pagas. 

Natural de Belo Horizonte, Evandro jogou no Cruzeiro no começo de carreira e foi diretor do América Mineiro. Mantendo laços com Minas Gerais, inclusive com o número de celular ainda com o código 31, da capital mineira, o diretor do Tigre lembrou do Cruzeiro para elogiar a gestão Dal Farra. 

Evandro citou ainda o caso Gum, que estava acertado com o Tigre, mas foi liberado para assinar com o CRB por uma oferta que fugia da realidade do clube. O diretor ficou entusiasmado com a possibilidade da retirada dos dois títulos da Copa do Brasil do Cruzeiro, em 2017 e 2018, enquanto aumentava a dívida até chegar a este momento de quase falência. De acordo com o dirigente, trata-se de doping financeiro. 

"Isso tem que acontecer (perda dos títulos). Se o clube for campeão e não paga as contas, ele foi campeão com as forças que ele não tinha. As contas têm que fechar no ano seguinte. Tem que começar a cobrar, senão os outros pecam por fazer as coisas dentro da lei", apontou. "É pela moralidade do futebol. Ninguém é punido no Brasil. O que fizeram no Cruzeiro foi um absurdo. Se o Cruzeiro não cai para a Série B, ia fechar, porque o buraco ia aumentar. Teria mais um ano de gestão dos caras que fizeram essa falcatrua. Fico revoltado com esse tipo de situação, caras que ficam falando mentiras e iludindo todo mundo", atacou Evandro.

Evandro na época em que trabalhou no América (MG), pouco antes de voltar para Criciúma

Apesar da possibilidade da perda dos títulos, levantada ainda em setembro do ano passado, dirigentes da CBF manifestaram-se recentemente afirmando que a possibilidade foi descartada pela Confederação.

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Sucessão de Dal Farra

O assunto foi tratado com cautela por Evandro. Focado no futebol, o diretor limitou-se a pedir mais democracia para o novo modelo de gestão que será adotado pelo Tigre, ainda sem acordo com possíveis investidores. "Tem que ser discutido o modelo de gestão e abrir para o torcedor. Temos que começar a ouvir como que pode envolver os torcedores nessa discussão", afirmou. Ele destacou que os pontos positivos e negativos devem ser expostos para a tomada de decisão e questionou a gestão empresarial no futebol. 

"Quer empresa mesmo? Que se diga: o risco é esse, esse e esse. No Figueirense o cara queria tirar o time (do Campeonato, após ser afastado pelo conselho por má gestão), porque era só negócio. Não pode ter essa prerrogativa. No Brasil os caras são irresponsáveis. Tem que ter o compromisso de torcedor com o clube para que as coisas funcionem bem. Empresa, com a frieza que tem, não pode gerir um clube. Não pode ser de alguém que possa fechar uma falencia e fechar o clube da noite para o dia", afirmou. "O financeiro é um componente e não um objetivo. Dinheiro é um catalisador e não um fim", acrescentou.

"Não é a minha área, não quero saber como está. Eu sei que tem que aumentar (a participação do torcedor) no Criciúma. Com a velocidade de tecnologia e informação, tem que dar a condição para quem realmente é dono do clube e abrir o debate. Tem que ser uma coisa mais democrática. Tem que ter participação do torcedor. Tem que dar a responsabilidade para todo mundo, criando mecanismos e ferramentas para isso", concluiu sobre o tema.

Evandro com o superintendente de futebol Serginho Lopes na apresentação, em janeiro

Evandro citou, ainda, o modelo do América-MG, clube em que ele trabalhou entre 2014 e 2018 como dirigente. No Coelho, criou-se um grupo gestor, inicialmente com nove ex-presidentes e posteriormente com redução para cinco, que tirou o clube da Série B do Campeoanato Mineiro e o levou à Série A do Campeonato Brasileiro. As decisões do clube são tomadas por meio de votação em que a maioria decide. Para o diretor executivo, esse é um modelo que poderia dar certo no Tigre. 

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Futebol durante a pandemia

Alguns clubes catarinense treinam presencialmente e o futebol deve voltar no Estado, ainda com data indeterminada, com os portões fechados. À reportagem, Evandro Guimarães posicionou-se contrariamente ao retorno do esporte enquanto cresce o número de contaminações de coronavírus no país. 

"Enquanto tiver crescendo os casos de coronavírus, acho que não pode voltar o treino. A coisa é muito séria. O Criciúma por ter centro de treinamento amplo, tem como dentro de protocolo bem efetuado, em um momento em que os casos estejam começando a diminuir, penso que sim. Mas não pode ser agora. Tem time que tá voltando e nem tinha feito o teste. Os caras apresentaram sem teste, sem nada. Você tem que fazer o teste e esperar um tempo para depois começar os treinamentos físicos em grupos pequenos", opinou.

Evandro e os riscos da volta do futebol durante a pandemia

O diretor teme que, se retornar agora, o Campeonato volte a ser paralisado por questões sanitárias. "Qualquer sinal de contágio para, higieniza tudo de novo e faz os testes novamente. Você faz o jogo e aparece algum adversário doente, tem que parar, testar. Se aparece um atleta que nao se sabe onde contaminou, novamente testa e para, até ter os resultados. A coisa é muito complicada. Tem que estar diminuindo, porque se não toda hora tem que parar e esperar teste", aponta. 

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