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Da periferia para Harvard: a história de uma das deputadas mais votadas de SP

Aos 24 anos, Tabata Amaral foi eleita deputada federal com mais de 264 mil votos
Por Redação São Paulo, 16/10/2018 - 12:02 Atualizado em 16/10/2018 - 23:23
(foto: Pedro Ladeira/ Folhapress)
(foto: Pedro Ladeira/ Folhapress)

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As Eleições 2018 foram surpreendentes, não só em Santa Catarina, mas em todo o Brasil. Em São Paulo a sexta deputada federal mais votada foi uma jovem de 24 anos. Tabata Amaral, do PDT, saiu da periferia para a universidade de Harvard, nos Estados Unidos e, de volta ao Brasil, foi para a Câmara Federal, eleita com 264,4 mil votos.

A jornalista Amanda Farias entrevistou a deputada federal para o Programa Adelor Lessa, confira:

Amanda- Por que decidiu voltar ao Brasil para disputar as Eleições?

Tabata- Para responder, tenho que falar um pouco sobre as oportunidades que eu tive. A minha vida foi completamente transformada pela educação. Eu venho da periferia de São Paulo, fui fazer faculdade em Harvard com bolsa. E, enquanto eu podia escolher o que eu faria na faculdade, vi diversas pessoas ao meu redor, pessoas muito queridas, morrendo pelas drogas, pelo álcool, pela violência e pelo crime. Então, quando você percebe tão forte na pele a diferença que a educação faz, mas também a sua falta, principalmente longe dos grandes centros, você se sente movida a fazer alguma coisa. Eu vivi os dois lados da desigualdade. Trabalho com educação há muitos anos pelas oportunidades que eu tive e a decisão de entrar para a política veio com um aprendizado muito forte depois de ter trabalhado como professora e pesquisadora em várias áreas da educação e entender que não faltam diagnósticos, bons exemplos, não faltam pessoas querendo fazer acontecer, falta vontade política. E quando você percebe que o que faz a diferença é a política ou você joga a toalha e vai embora ou tenta transformar a política. E é deste sentimento que surgiu a minha candidatura.

Amanda- Qual a diferença da educação no Brasil e nos EUA?

Tabata- Acho que uma primeira coisa que fica muito forte é como a visão de mundo é diferente. A gente tem uma visão da educação e da faculdade muito técnica. Então, você faz física para ser professor ou pesquisador. Faz licenciatura para dar aulas e por aí vai. Já nos EUA a formação é muito mais ampla. Eu aprendi a programar, aprendi sobre psicologia, fiz aulas de economia e acredito que tudo isso faz da gente um profissional mais completo. E eu que sou formada em ciência política e astrofísica, brinco que os problemas da política brasileira são muito mais complexos do que os da astrofísica. Acho que faz muita falta ter uma formação ampla.

Uma segunda diferença é que na faculdade eu via meus colegas com melhor desempenho se esforçando muito para estágio na Casa Branca ou em algum governo local. Enquanto, quando decidi fazer estágios, durante a faculdade ainda, em secretárias municipais de educação, os meus colegas achavam estranho. Aqui é pouco comum que as pessoas que tiveram oportunidade e se prepararam, quererem entrar para a política.

Amanda- Por que escolheu este exato momento para entrar para a política?

Tabata- Mas do que nunca está faltando no Brasil o caminho do diálogo, o caminho das pessoas que conversam com o cidadão comum, que olham para os estudos e que querem além do extremismo e polarização. E pensar no que funciona, em soluções, no combate à desigualdade. Então, eu acho que, mais do que nunca, ter pessoas que questionam os dois extremos, faz diferença na política. Eu sei que a minha principal missão no Congresso será dialogar, ser propositiva e um meio que vai estar polarizado e dividido pelo ódio.

Amanda- Como espera encontrar o Congresso quando entrar em 2019?

Tabata- Com certeza, será um Congresso mais conservador, mas eu volto a falar sobre a questão da divisão. Porque será um Congresso muito dividido. As maiores bancadas serão do PSL e do PT. Então, como que a gente, em meio a isso tudo, consegue não ficar apenas nos ataques, mas trazer pautas que avançam o país? Um risco que a gente tem nos próximos anos é um Congresso paralisado por esse ódio que não consegue se unir em pautas básicas. Então, eu vejo como missão importante que eu terei: dialogar com todos os lados e com a população. A gente tem problemas no Brasil que não podem esperar quatro anos. Eu fico muito feliz de ter essa oportunidade e é melhor a gente poder estar lá dialogando e questionando, do que do lado de fora.

Amanda- Em meio aos dois extremos encontrados no Congresso, em que posição você vai se encontrar?

Tabata- Na posição pró-educação, pró-combate à desigualdade e contra a corrupção. Porque eu acho que essas são bandeiras que não tem lado. O meu papel vai ser o de ir além da polarização e além desta guerra que estamos vivendo e falar de pautas que vão além disso tudo. Que talvez não sejam as mais glamorosas, não sejam as que tem maior espaço, mas que de fato tem impacto e mudam a vida das pessoas. Então, eu vou falar de uma reforma do ensino médio, da carreira do professor, do financiamento da educação. Porque a gente ainda é um país que não ensina a ler e escrever plenamente e que não ensina frações. Este é o nível da nossa educação pública.

Amanda- Onde você pretende chegar na política?

Tabata- Meu maior sonho é que a gente tenha a melhor educação pública do mundo. É um sonho ousado, é um sonho grande, mas é isso que vem me movendo até aqui. Eu não consigo dizer hoje qual vai ser a minha melhor contribuição a cada ano para a educação, mas entendo que nos próximos quatro anos como deputada federal eu vou conseguir ampliar muito a voz da educação e usar um megafone para questionar tudo o que está acontecendo de errado, toda a desigualdade que temos na educação pública, toda a falta de qualidade e tentar avançar essas pautas que são importantes no discurso para todo mundo, mas nunca se concretizam de fato.

Amanda- O que os jovens esperam dos políticos?

Tabata- Na minha visão, essa nova geração está esperando políticos que não visitem as pessoas apenas de quatro em quatro anos, mas que de fato as ouçam durante o mandato, que deem transparência e que digam o que estão fazendo. É uma via de mão dupla. Eu me comprometi a ter um gabinete itinerante que vai viajar o estado inteiro durante o mandato para levar formação política e para ouvir as pessoas. Além disso, usar um aplicativo para que as pessoas possam acompanhar as minhas votações e estar sempre nas redes sociais dialogando com as pessoas, porque acho que este contato próximo está fazendo falta hoje. Já não há espaço para políticos que surgem a cada quatro anos e que não se sentem no dever de dar um retorno para o eleitor sobre o que está fazendo, sobre como está gatando e quais as bandeiras está levando ao Congresso.

Amanda- Você acha que os jovens estão se envolvendo mais na política atualmente?

Tabata- Acredito que sim, porque a geração que veio antes da gente deixou a política para os políticos. E a gente viu que ao deixar a política para os políticos, deixamos nosso futuro junto. Espero que a essa juventude seja mais engajada e acho que uma boa demonstração do meu bom trabalho é ver cada vez mais gente comum e gente como a gente se candidatando e se elegendo.

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