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Caso Kiss: “Todo mundo sabia”, diz vocalista sobre uso de pirotecnia em shows

Marcelo de Jesus dos Santos, da Banda Gurizada Fandangueira, afirmou que todas as vezes em que o grupo musical tocou na Boate Kiss utilizou pirotecnia
Por Redação Porto Alegre, RS, 09/12/2021 - 16:13 Atualizado em 09/12/2021 - 16:14
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

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“Todo mundo sabia, nunca foi escondido de ninguém”. Marcelo de Jesus dos Santos, o vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, afirmou nesta tarde ao Juiz Orlando Faccini Neto que todas as vezes em que o grupo musical tocou na Boate Kiss utilizou pirotecnia.

“Dia 27 nunca saiu de mim. Eu acordo e durmo pensando no dia 27. Não tô bem, eu nunca tive bem”, afirmou o músico. O interrogatório dele foi o último dos quatro acusados, antes do início da fase de debates.

A partir de agora, o Ministério Público e as defesas dos quetro réus terão a oportunidade de apresentar aos jurados as suas teses defensivas. Ao todo., serão nove horas, entre debates, réplica e tréplica.

27 de janeiro

Marcelo e o irmão, Márcio, que era percussionista da banda, chegaram juntos, por volta da 1h30min de 27/01/13. “Tinha bastante gente”, afirmou, sem classificar que a casa estava superlotada. “Todas as vezes em que tocamos na Kiss estava bastante cheio”.

Abriram-se as cortinas, começou o show da Gurizada Fandangueira. Os fogos de artifício que estavam colocados no chão do palco, foram acionados. A banda tocou um bloco musical. A música “Amor de Chocolate”, do cantor Naldo, não fazia parte do repertório. Foi feita uma introdução, Luciano alcançou o artefato para Marcelo que, de frente para o público, começou a balançar a mão para o alto, de um lado e do outro. Luciano acionou o fogo de artifício.

De repente, uma pessoa alertou Marcelo de que estava pegando fogo. Um rapaz subiu no palco e entregou um extintor de incêndio. “Larguei o microfone, peguei o extintor na mão. Eu gritei 'fogo, fogo, sai'. Quando me deram o extintor, eu achei que ia apagar. Só tive uma chance, mas o extintor não funcionou”. Ele disse que quando pegou o equipamento, caiu o pino. Mais duas pessoas tentaram utilizá-lo, mas sem sucesso.

Marcelo lembrou que, nesse momento, entrou em desespero. Alguém gritou: "'Vai vir mais extintor'. E não veio”. Luciano jogou água, o que aumentou o fogo. “As pessoas correndo, querendo sair. Eu olhava e não podia fazer nada”. Não viu se os seguranças da casa noturna orientaram o público.

Não havia mais quase ninguém na boate. Marcelo pensou que ia morrer. “Não me lembro mais de nada. Quem me tirou de lá foi o meu irmão. Se ele não tivesse me visto voltando, eu ia voltar para o fogo”, afirmou, chorando. “Quando acordei lá fora, era uma cena de guerra. Pessoas chorando, eu não conseguia assimilar onde eu estava. Quando olhei, eu estava no meio das pessoas mortas”.

Artefatos

Os fogos de artifício não eram utilizados em todos os shows porque não eram todos os lugares que autorizavam o seu uso. Na Absinto Hall, boate de propriedade de Mauro Londero Hoffmann, isso ocorreu uma vez, mas depois foi proibido.

“Eu confiava plenamente no que estava fazendo”, afirmou. Para ele, na noite, na Kiss, pensava estar usando vela de bolo na apresentação.

Colegas

Luciano, “uma pessoa 100%, um cara do bem”. Ele estava na banda há uns 7 meses. Danilo, o gaiteiro e líder da banda, foi uma das 242 vítimas fatais do incêndio. “Era meu irmão”. Era ele quem montava o repertório da banda e fazia as negociações em nome da banda.

Sequelas

Na noite do incêndio, Marcelo respirou fumaça e ficou intoxicada. Ele disse que acabou sendo preso e não foi submetido a nenhum tratamento médico contínuo. Afirmou que evitava buscar atendimento para que sua identidade não fosse descoberta. “A médica queria me encaminhar para o mesmo local onde outras vítimas da Kiss se tratavam e eu não quis ir, de vergonha”.

Marcelo e a família tiveram Covid-19 recentemente. Ele e a mãe pioraram e foram para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e, posteriormente, para o hospital. O músico só conseguiu um leito de UTI porque a mãe faleceu, liberando a vaga.

Teve dificuldades para conseguir serviço e teve ajuda de um ex-patrão. Atualmente não está trabalhando, ainda se recuperando da Covid.

Marcelo tem duas filhas e, uma delas, quando tinha 6 anos, chegou da escola, o abraçou e perguntou: “'Pai, tu matou o tio do meu colega?' Só abracei e dei um beijo nela”. Para eles, todos os que estavam na boate naquela noite são vítimas.

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