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Antenor Angeloni: "É chance zero"

Na entrevista exclusiva à Toda Sexta, empresário justifica o seu "não" para uma suposta volta ao comando do Criciúma
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 16/10/2020 - 16:00 Atualizado em 16/10/2020 - 16:09
Fotos: Guilherme Hahn / Toda Sexta / Especial / 4oito
Fotos: Guilherme Hahn / Toda Sexta / Especial / 4oito

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A revista e jornal Toda Sexta apresentou, em sua edição 003 que circulou na sexta-feira passada, 9, uma entrevista exclusiva com o empresário Antenor Angeloni, que recebeu os jornalistas Denis Luciano e Guilherme Hahn em sua confortável residência, no Bairro Lote Seis, em Criciúma, para contar histórias da sua vida, falar do seu cotidiano e responder a dúvida de muitos torcedores sobre o Tigre: se ele toparia voltar ou não. Antenor abriu o jogo, tratou de vida pessoal e contou detalhes da rotina que vem vivendo. O 4oito reproduz o conteúdo. Confira:

O ano era 2009. O estádio, caindo aos pedaços literalmente. As dívidas se avolumavam. Os credores, até sem esperança estavam. O Criciúma agonizava. Claro que o assunto era recorrente nas mesas de carteado de fim de tarde na antiga Casa do Baile. Entre um coringa, um às, um valete e uns goles, os amigos provocavam. “Vai, pega, dá jeito naquilo lá”. 

Os jantares na bela casa nos altos do Lote Seis, para os mais íntimos, reforçaram aquela blitz de meses. “Pô, Arnaldo, que teimoso”, disse Antenor algumas vezes. Até que, pela insistência, ele foi vencido. E lá estava de novo o Angeloni puxando o Tigre do atoleiro. Ele que presidiu o Comerciário em 1963, ainda jovem e começando a plantar o império que ergueu depois. Voltou em 1978, conduzindo a mudança para Criciúma Esporte Clube. E em 1984, quando deu o amarelo, preto e branco à camisa, transformando o azul em tricolor.

Era chegada a hora da quarta e decisiva passagem. “Voltei, tinha um dinheirinho, resolvi ajudar”, aponta, com a simplicidade peculiar. Afinal, todos sabem que está longe de ser “dinheirinho” a farta e afortunada colheita que Antenor colheu de uma vida de trabalho em supermercado, e que hoje garante uma velhice muito confortável.

Em 2010 começava, com Antenor Angeloni à época com 75 anos, a história de meia década que fez o Criciúma do futuro. Contas pagas, “e quanta conta, tinha fila no estádio”, lembra. Essa e tantas histórias foram contadas pelo seu Antenor, do alto da sua simplicidade, na impecável e reluzente sala de sua ampla e confortável residência em Criciúma, durante conversa de uma hora com a reportagem de Toda Sexta.

Sem volta

O irmão Arnaldo segue provocando. Cinco anos depois da saída de Antenor, que despediu-se do Criciúma em fins de 2015, o irmão bem que quer os Angeloni dentro do Tigre de novo. “É, o Arnaldo quer mesmo”, confirma. “Mas eu não quero. Quando o assunto vem, eu corto”, garante. As razões para o não são claras: “estou com muita idade, não tenho mais saúde nem vontade. Já dei a minha contribuição. O Arnaldo até quer, mas ele só vai se eu for junto. Eu já disse para ele ir sozinho. Daí ele não topa”.

E nesse ponto Antenor não titubeia ao desfiar tudo o que fez pelo Tigre: “a ideia da troca do nome foi minha. Tinha muita gente contra. Fizemos e deu certo. Depois, as cores, a gente fez, funcionou. E agora, fizemos um CT bonito, gastamos muito no time, colocamos na Série A. Ficamos o quanto deu lá. E ainda assim tinha crítica”. Por isso, resposta seca quando a pergunta é sobre saudades do Criciúma: “não tenho”. “O Jaime (Dal Farra, sucessor dele) gastou muito, não ganhou nada. Tem que ganhar pra ter alguma alegria”, completou, sem negar que não parte somente do irmão Arnaldo a provocação para um retorno. “Tem mais gente pedindo. Eu não vou”.

Para consolidar a convicção de que ele não volta para o Criciúma, basta também lembrar de algumas das suas máximas nos tempos de Tigre: “ninguém ajuda”, “é uma encrenca”, “só sai dinheiro, não entra” e por aí vai. Mas, claro, ficaram algumas alegrias. “O Argel foi um amigo que eu fiz, o Cláudio Gomes me ajudou muito, trabalhou muito, o Cícero Souza, o Homero Santarelli”, citou, alguns.

O contato mais recente com o Tigre foi a homenagem que recebeu no CT, agora com o seu nome. “Fui contra. Podiam colocar um nome genérico”, minimizou, ao seu estilo. Mas, claro, ele gostou.

Do empréstimo ao império 

“Faz seis meses que eu não saio de casa”. Antenor Angeloni está seguindo à risca o isolamento social. O que para ele não chega a ser um grande sacrifício. Caseiro, faz da pandemia a razão para o que gosta: curtir a sua bela casa. E, como todo homem maduro, de 85 anos e com tanto que já viu e viveu, cultiva lembranças. Uma delas, contar com orgulho como encabeçou, com o irmão Arnaldo, a construção de um verdadeiro império de supermercados, uma das maiores redes do Brasil.

“Poxa, o Filhinho morreu né”. Pois é, o Antenor já estava isolado, em maio último, quando soube da morte de Abílio Paulo Filho, antigo amigo e nome que remetia a alguém que impulsionou a sua história de sucesso. “A gente tinha o mercado ali na 6 de Janeiro”, recorda, lembrando a loja onde a Rede Angeloni nasceu em 1958. “Passou uns anos, eu e o Arnaldo trabalhávamos dia e noite ali, arrumando tudo, os produtos, servindo, atendendo. Dava um trabalho danado. Daí o meu sócio queria vender a loja para alguém”. 

Começou então um desafio para Antenor. Empreender de fato. “Eu era um sócio sem dinheiro. Daí procurei o seu Abílio Paulo, que já me conhecia ali da praça. Ele me emprestou o dinheiro. Ele tinha muito. Comprei a loja e tocamos o negócio, eu e o Arnaldo, sem sócios”. Com o trabalho incansável e um pouco de sorte, logo o empréstimo do seu Abilio foi pago, e os caminhos se abriram. “Mas ficamos uns 15 anos cuidando daquela loja, até conseguir o primeiro milhão para crescer”. Veio o Angeloni de Lages, de Laguna e a chegada em Florianópolis. “Ali eu percebi que a gente estava ficando rico”, contou, rindo.

Antenor viveu cada instante do crescimento da sua rede. Fazia questão de escolher os terrenos, de negociar as compras, de participar de cada ponto das obras de construção das lojas. “O Angeloni tem que ser diferente, tem que ter qualidade”. E foi com essa máxima que superou cada crise. Venceu as mudanças de moedas, a inflação. Começou vendendo com caderninho de fiado e produtos a granel na fiambreria. “Aquele prédio ali ainda é nosso”, recordou, citando o lugar onde o Angeloni nasceu há 62 anos. “Teve crise que até ajudou”, reconheceu, lembrando os tempos dos remarcadores, em que, pressionado pela inflação, precisava trocar preços a toda hora.

Há uma década, em dezembro de 2010, quando já estava pagando contas e arrumando a casa no Tigre, Antenor descerrou a fita da nova loja da Centenário, no lugar do antigo Center. Espaço amplo, moderno. “Para quem dizia que eu fiquei anos sem entrar lá, não é verdade. Acompanhei tudo”. 

“O Antenor quer descansar”

“Eu já trabalhei muito na vida”. É por aí que Antenor envereda quando provocado, mais uma vez, a voltar ao Criciúma. “Nem no escritório do Angeloni estou indo mais. Ia um pouco antes da pandemia. O Antenor quer descansar. E merece”.

Um dos passatempos de Antenor Angeloni, somando a reclusão da idade aos cuidados com o coronavírus, é caminhar pela casa. “Ando por ali”, disse, apontando para o entorno da piscina, com uma bonita grama e cercado de muito verde. “Gosto de caminhar pela casa, pelos gramados, respiro, gosto daqui”. Em muitas das caminhadas, tem a companhia da gata, a felina levemente obesa que muito carinhosa que, não faz muito, passou a lhe fazer companhia. “Gosto dela”, comentou, enquanto o bichinho se roçava em suas pernas.

E é no seu canto que Antenor cultiva outro prazer, que lhe faz brilhar os olhos: os vinhos. A famosa adega do Antenor guarda verdadeiras preciosidades, que ele conhece não somente pelo nome, mas pelo sabor, procedência e, claro, custo. Não são poucas as garrafas importadas, com valores de cinco dígitos, que ele vez por outra resgata, deixa sobre a mesa descansando à tarde para, à noite, apreciar em suas finas taças. Ele conhece os rótulos, sabe das procedências e reconhece: a maioria absoluta dos vinhos caríssimos da sua adega não são vendidos no seu supermercado. “Eu compro da França”. Para acompanhar, nada melhor para ele que um bom jantar preparado por sua esposa, que encara o fogão, e muito bem. “A Vandressa faz uma boa massa”, citou. É com ela que Antenor compartilha o sossego da velhice em casa. 

Antenor reconhece que é bom de garfo. “Gosto de comer bem e de dormir bem”. Aí, mais duas pistas do que anda recheando o cotidiano de Antenor, que também é um bom leitor. Vai de Guerra e Paz, de Tostói, a O Velho e o Mar, de Hemingway, algumas de suas leituras favoritas. Saúde para a mente, saúde no corpo. “Sou de poucos remédios, tomo um que outro para a pressão, e o médico vem sempre me ver”. Sim, ele gaba-se de gozar de boa saúde se aproximando das nove décadas de vida. Vai a 100 anos, seu Antenor? “Deus que sabe”, respondeu.

Ele planeja manter a clausura por um bom tempo. Ele não sairá de casa, por exemplo, no próximo dia 15 de novembro. “Eu não voto faz três eleições. Quando tiver um candidato que eu gosto, eu vou lá e voto”. Mesmo a projeção a partir dos anos 60 no comércio não o atraiu para a política. “Nunca fui convidado por partido, sempre me mantive distante”. E assim continua sendo.

Mas o Antenor do sorriso discreto sofreu um duro golpe recente da vida. Que ainda o abala fortemente. “Eu já superei, já entendi”. Mas ele diz isso com os olhos marejados ao lembrar do filho Roberto, o primogênito dos três. “Era o mais próximo de mim, que vinha todo fim de semana, ficava sábado e domingo aqui comigo, conversava, almoçava, ouvia as histórias”. Roberto Angeloni acidentou-se no fim da manhã de 28 de junho último na BR-101, em Biguaçu, falecendo no local. Foi um choque. “O natural da vida é o pai partir antes do filho. Mas, só me resta entender”, resignou-se. Deixou o pai, mais os irmãos Cristina e Henrique. “Sinto saudades dele”. Prova que a fortuna não o torna livre das angústias pessoais. Pelo contrário.

“Mas eu sou uma pessoa feliz”. Com essa frase, e com a certeza de que mais tarde abriria outro de seus valiosos vinhos, e saborearia novamente outra massa bem preparada por Vandressa, que Antenor agradeceu a visita de Toda Sexta. “Se tenho sonhos? Acho que já realizei todos. Quero só uma vida sossegada agora”.

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