Dona de um capital político “pessoal e intransferível”, a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) consolidou-se como uma das principais referências do conservadorismo e da defesa das pautas de direita em Santa Catarina. Eleita em 2018 com 34.825 votos e impulsionada pelo apoio da família Bolsonaro, Ana viu sua votação quintuplicar quatro anos depois, em um estado que se identifica fortemente com a direita fortalecida após a eleição de Jair Bolsonaro. Na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), Ana adota uma postura combativa, especialmente no que chama de “luta contra o feminismo”. Além disso, posiciona-se contra a cota de 30% que obriga os partidos políticos a destinarem ao menos três das dez candidaturas a mulheres, conforme a regra 70/30.
300 mil para Criciúma
Na semana passada, a deputada cumpriu agenda parlamentar na região Sul do estado. Em Içara, visitou a prefeita e correligionária Dalvânia Cardoso, a quem convidou para disputar uma vaga na Assembleia em 2026. “Gostaria de ter mais mulheres de direita comigo no Parlamento”, justificou. Em Criciúma, reuniu-se com o prefeito Vagner Espíndola (PSD) e destinou R$ 300 mil em emenda parlamentar para o município, verba solicitada por seu aliado local, o vereador Obadias Benones, a quem ela se refere como seu “braço direito” na cidade. Na quarta-feira (16), Ana foi entrevistada no programa Cá Entre Nós, da rádio Som Maior. Durante a conversa, falou sobre as eleições de 2026, antifeminismo, avaliou o governo Jorginho Mello e comentou possíveis nomes para a próxima corrida presidencial.
A seguir, os principais trechos da entrevista. Você também pode ouvir a conversa neste link.
Candidatura à reeleição estadual
Questionada sobre a possibilidade de disputar uma vaga federal (seja na Câmara ou no Senado) em 2026, Ana afirmou que é pré-candidata à reeleição como deputada estadual e defendeu o respeito a uma "fila" interna dentro do grupo político bolsonarista.
“Se a vaga ao Senado estivesse aberta, e fosse o momento certo de discuti-la, a ideia de defender Santa Catarina em Brasília certamente me seduziria. Mas há pessoas à minha frente nessa fila. Uma delas é a deputada Carol de Toni, que foi presidente da CCJ, hoje é líder da Minoria. Este é o momento dela.”
E concluiu:
“Na política, vence quem tem mais paciência.”
Antifeminismo
Ana também comentou seu posicionamento antifeminista, tema central em seus livros e atuação parlamentar. Segundo ela, sua obra "reinaugurou" o movimento antifeminista no Brasil.
“Já existiram outras mulheres antifeministas, mas estavam apagadas. Antes de eu publicar esse conteúdo, não havia contraponto na mídia, na universidade, na imprensa ou na política para aquela mulher que gosta de política, de liderar, de trabalhar, mas não se identifica com o discurso coletivista e de esquerda que representa o feminismo.”
Para a deputada, o Brasil não está atrasado em infraestrutura e saneamento, mas também no equilíbrio de ideias, principalmente no debate entre feminismo e antifeminismo.
Bancada feminina na Alesc
Ana também comentou sua tentativa de extinguir a Bancada Feminina na Alesc, hoje composta por apenas duas deputadas — número inferior ao mínimo de cinco parlamentares exigido pelo regimento interno para formação de uma bancada. Ela apresentou um projeto para extinguir o grupo, mas não obteve os 14 votos necessários. A proposta recebeu 10 votos favoráveis.
Avaliação do governo Jorginho Mello
Provocada a avaliar o governo estadual, Ana "desfiou um rosário" de elogios a Jorginho Mello.
“O melhor governador do Brasil é Jorginho Mello”, declarou.
No entanto, pontuou discordar da indicação de Carlos Chiodini (MDB) para um cargo no primeiro escalão, embora tenha dito compreender os motivos da articulação política.
Cotas para mulheres na política
Ana voltou a criticar as cotas de gênero na política, classificando a medida como ineficaz e desrespeitosa com a meritocracia. Para ela, mulheres devem ocupar espaços por competência, e não por obrigação legal.
Eleição presidencial de 2026
Diante da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, Ana foi questionada sobre possíveis nomes da direita para a disputa presidencial. Citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como alternativa viável, mas demonstrou ceticismo quanto ao futuro político do grupo.
“A família Bolsonaro me acolheu quando ninguém queria me dar atenção. Tirando o carinho que tenho por eles, analisando a conjuntura, se quem participou do suposto golpe de 8 de janeiro está pegando 17 anos de prisão, qual será a punição que estão preparando para o presidente Bolsonaro?”
“Existem muitas forças tentando empurrar o nome do Tarcísio. É triste, mas a direita ainda não tem um quadro consolidado para o ano que vem. Vou trabalhar para que Bolsonaro escolha quem nos representará. Política não é a arte do ideal, é a arte do possível”, finalizou.