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A Nau dos Insensatos

Por Benito Gorini 29/09/2022 - 09:00 Atualizado em 29/09/2022 - 10:43

Com a proximidade das eleições me vem à mente três obras de arte intimamente relacionadas aos políticos. O pintor holandês Hieronymus Bosch externava seus sentimentos de forma bastante peculiar. Embora tenha vivido durante a Alta Renascença, contemporâneo de Michelangelo, da Vinci e Rafael, sua temática situava-se na idade média. Bosch era um moralista com uma visão pessimista da humanidade, julgando que o ser humano, pelos atos que praticava, estava definitivamente condenado às trevas. Os temas dos quadros de Bosch são alegorias sobre os pecados, as virtudes e a insensatez dos seres humanos. Sua pintura era tão bizarra que elementos fantásticos, demônios, criaturas meio humanas, meio animais, povoavam um ambiente arquitetônico e paisagístico imaginário. Suas obras influenciaram os poetas simbolistas e pintores expressionistas e surrealistas. O perfil psicológico de seus personagens também auxiliou Freud a desenvolver seus conceitos psicanalíticos.  Particularmente interessante é a tela “A Nau dos Insensatos”, exposta no Louvre, na qual Bosch retrata características como a luxúria, a gula, as falcatruas e os interesses escusos. 

A Nau dos Insensatos, também conhecida como a Nave dos Loucos, de Bosch (Museu do Louvre)

O pintor Ambrogio Lorenzetti, natural de Siena, decorou com afrescos os salões do Palácio Público, em frente a bela Praça do Campo, onde desde a idade média se realiza a corrida do Pálio. Os afrescos mais conhecidos de Lorenzetti são “O Bom Governo na Cidade e no Campo”, onde se notam os efeitos de uma boa administração, como grandes colheitas, um comércio ativo, a construção de casas, a felicidade do povo e “O Mau Governo”, onde os governantes são condenados ao inferno pelo sofrimento imposto aos seus súditos. As obras de arte estavam expostas no palácio, sede do governo, para mostrar aos representantes do povo a sua enorme responsabilidade no desempenho de suas funções.  Lorenzetti , contemporâneo de Giotto, o grande mestre da período gótico e precursor da pintura renascentista, morreu em 1348, vitimado pela peste negra que dizimou a Europa, matando 1/3 de sua população. Infelizmente o segundo afresco é muito mais apropriado ao momento que estamos vivendo. Os 2 candidatos que lideram as pesquisas  têm graves antecedentes. Um deles, condenado em 3 instâncias, teve seus julgamentos anulados por manobras e filigranas jurídicas. E o outro, com várias ações sendo julgadas no STF, adotou e incentivou práticas totalmente condenadas pela comunidade científica mundial no combate à pandemia. O futuro que nos reserva é sombrio. Tristes Trópicos, como diria Lévi-Strauss. 

Alegoria do Mau Governo, de Ambrogio Lorenzetti, no Palazzo Pubblico de Siena
A Fonte Gaia, com esculturas de Jacopo della Quercia, em frente ao Palazzo Pubblico (Arq, pessoal)

 

Portanto, caro eleitor, reflita sobre estes assuntos no próximo domingo.

Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Não venda seu voto nem se deixe enganar por propostas, projetos e promessas mirabolantes, típicas das campanhas eleitorais. Eleja pessoas idôneas, honestas, com um projeto de governo voltado para a  geração de empregos, a saúde,  a educação, a cultura e a preservação ambiental  (embora sejam poucas, certamente   elas existem). Vote com consciência para não aumentar os passageiros do barco de Bosch.

 

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