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Fundão não garante vitória eleitoral

Por Upiara Boschi Edição 07/01/2022
Foto: Divulgação
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Esperteza, quando é muita, come o dono, ensinava Tancredo Neves. O mês de julho de 2021 foi marcado pela repercussão negativa junto à sociedade com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com o inacreditável jabuti que permite a ampliação do fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões. Marcado também pelas infelizes tentativas dos políticos que patrocinaram a brincadeira de arranjar desculpas e culpados para a artimanha aprovada no Congresso Nacional às vésperas do recesso parlamentar. 

Mas, como dizia Tancredo, a esperteza e o aumento absurdo do fundão não são garantia de nada. As eleições de 2018 mostraram que mesmo com o doping do dinheiro público, a vitória na corrida eleitoral depende muito do desempenho, da qualidade e do perfil dos atletas. Basta observar os resultados da disputa em Santa Catarina pelas 16 cadeiras de deputado federal. 

Claro que a Onda Bolsonaro causou distorções, ajudando a eleger quatro parlamentares (Caroline de Toni, Coronel Armando, Daniel Freitas e Fábio Schiochet) com nenhum real de fundo eleitoral ou partidário naquele disputa, assim como Gilson Marques (Novo). É bem mais fácil abrir mão do que não se tem - Psl e Novo tinham recursos irrisórios de fundo eleitoral naquele ano. De qualquer forma, impressiona a quantidade de candidaturas irrigadas por dinheiro público que ficaram pelo caminho. 

Vou dar um destaque especial ao Mdb, que naquela época era o partido com maior fatia no fundo eleitoral e no fundo partidário - consequência de ter elegido a maior bancada de deputados federais em 2014. Em 2018, a cúpula nacional do partido fez uma aposta em uma tentativa de perpetuação da espécie. Descarregou as verbas a que tinha direito nos deputados federais e ex-deputados federais que ocupavam as primeiras suplências, deixando a míngua novatos na disputa e parlamentares estaduais. Coube a cinco catarinenses uma cota de R$ 1,3 milhão para cada campanha: Celso Maldaner, Rogério Peninha, Ronaldo Benedet, Edinho Bez e Valdir Colatto. Apenas os dois primeiros se elegerem - Peninha na última vaga do partido, apesar de ser um dos primeiros bolsonaristas do Estado. O mais votado emedebista, com folga, foi o novato Carlos Chiodini, sem dinheiro público na campanha. 

Os dez deputados federais eleitos com dinheiro do fundão em 2018 somaram R$ 11,03 milhões da bolsa-candidato para custear as vitórias. A liderança nesse ranking ficou com Angela Amin (Progressistas), com R$ 2,3 milhões, e Geovânia de Sá (Psdb), com R$ 2 milhões, seguidas por Maldaner, Peninha e Carmen Zanotto (Cidadania), com 1,16 milhão. Foram as candidaturas eleitas que receberam mais de R$ 1 milhão.

No entanto, a turma do milhão do fundão teve cinco candidatos derrotados. Além dos três emedebistas já citados, há Leodegar Tiscoski (Progressistas), que recebeu R$ 1,95 milhão para ficar com a quarta suplência da coligação Psd/Progressistas, e Angela Albino (Pcdob), beneficiada com R$ 1,14 milhão e dona da terceira suplência de uma coligação com sete partidos. Ambos tiveram praticamente a metade da votação que precisavam para se eleger, mesmo abonados pelo fundo eleitoral.

No entanto, é importante observar que algumas das candidaturas de fundão que ficaram pelo caminho foram vítimas do tão criticado sistema de votação proporcional - aquele que divide as vagas no Legislativo de acordo com a votação dos partidos (coligações até 2018) e não pelo desempenho individual dos candidatos. Se entrassem os 16 mais votados - como prevê a regra do distritão - dois candidatos com nenhum dinheiro público nas campanhas (Coronel Armando e Gilson Marques) perderiam suas vagas para candidaturas com o carimbo do fundo eleitoral. Não é à toa, leitor, que enquanto engendravam na moita a aprovação do aumento do fundão, a Câmara dos Deputados também forçava a aprovação do distritão. Eleição mais cara é para quem pode pagar a conta.

Artigo publicado em julho 2021, articulista está em férias

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