Reta final do ano, período marcado por aumento de gastos e menor controle do orçamento, o planejamento financeiro ganha ainda mais relevância. O tema foi abordado em entrevista no programa 60 Minutos, da Rádio Som Maior, com Ana Leoni, CEO da Planejar, a Associação Brasileira de Planejamento Financeiro, e uma das principais referências do país na área.
Segundo Ana Leoni, o Brasil conta, hoje, com mais de 11 mil profissionais certificados CFP (Certified Financial Planner), credencial internacional concedida pela Planejar. O país ocupa a quinta posição mundial em número de certificados, atrás de Estados Unidos, China, Japão e Canadá.
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Apesar do volume expressivo, a proporção ainda é baixa quando comparada a outros países. Nos Estados Unidos, existe um planejador CFP para menos de dois mil habitantes. No Brasil, a média é de um profissional para quase 12 mil pessoas, o que indica amplo espaço para crescimento.
A íntegra da entrevista:
Mesmo assim, a contratação de planejadores financeiros ainda é pouco comum. Pesquisa citada por Ana mostra que apenas uma parcela pequena da população recorre a esse tipo de serviço, inclusive entre pessoas que se consideram organizadas financeiramente.
Planejamento vai além de investimentos
Um dos principais equívocos, segundo a especialista, é associar planejamento financeiro apenas a investimentos. O conceito envolve também organização de dívidas, definição de metas de curto e longo prazo, planejamento sucessório e contratação de seguros patrimoniais e de vida.
Dados apresentados durante a entrevista mostram que o Brasil tem baixa adesão a seguros, mesmo eles sendo instrumentos fundamentais de proteção financeira. Em seguros de vida, por exemplo, cerca de 81% dos sinistros estão ligados a doenças, e apenas 19% a eventos súbitos, como acidentes. Para Ana, isso reforça que o seguro é um mecanismo de proteção em vida, não apenas um recurso deixado após a morte.
Cultura do consumo e dificuldade de pensar no futuro
Ana Leoni destacou que a relação do brasileiro com o dinheiro é fortemente influenciada por fatores culturais, sociais e emocionais. No Brasil, o consumo costuma ser mais valorizado do que a poupança, o que enfraquece o planejamento de longo prazo.
Outro obstáculo é a dificuldade de se projetar no futuro. Segundo a especialista, o cérebro humano tende a tomar decisões baseadas no presente, o que dificulta abrir mão de gastos imediatos para beneficiar uma versão futura de si mesmo. Ainda assim, estatísticas indicam que a chance de viver longamente é muito maior do que a de morrer repentinamente, o que torna o preparo financeiro essencial.
Os números reforçam o alerta: apenas 42% dos brasileiros possuem algum tipo de reserva financeira. Entre pessoas de alta renda, cerca de 30% não têm nenhum recurso investido. Mesmo em classes mais baixas, cerca de 17% conseguem manter alguma forma de poupança, segundo dados da Anbima.
Certificação CFP como selo de qualidade
Durante a entrevista, Ana explicou por que o CFP é considerado um selo de excelência. A certificação exige aprovação em um exame com taxa média de sucesso em torno de 20%, comprovação de experiência prática, aplicação dos conhecimentos em casos simulados e adesão a um rigoroso código de ética.
O processo pode levar de seis meses a vários anos, dependendo do profissional. Estudos mostram que planejadores CFP tendem a ter maior renda, retenção de clientes e relacionamento de longo prazo.
Para quem busca um planejador financeiro, a orientação é direta: perguntar se o profissional possui a certificação CFP e consultar a lista disponível no site da Planejar, que reúne profissionais certificados atuando em bancos, assessorias, consultorias independentes, seguradoras e escritórios especializados.
Erros comuns e o primeiro passo
Na avaliação de Ana Leoni, o maior erro é acreditar que planejamento financeiro não é necessário ou não se aplica à própria realidade. Outro equívoco frequente é confundir renda alta com segurança financeira.
“A pessoa pode ganhar muito e gastar ainda mais. Isso não é riqueza, é desorganização”, afirmou. Por outro lado, quem tem renda menor, mas consegue poupar regularmente, pode apresentar maior estabilidade financeira.
Como orientação principal, Ana resume em uma palavra: começar. O planejamento não precisa ser perfeito nem imediato. Dívidas e desorganização não surgem da noite para o dia, e a solução também exige tempo. Buscar ajuda profissional pode acelerar o processo e evitar decisões equivocadas.
“Planejamento financeiro não é rigidez, é método. Ele serve para dar direção e segurança”, concluiu.
Sobre a Ana Leoni
Com mais de 30 anos de atuação no mercado financeiro, a especialista contou que ingressou no setor em 1994, logo após o Plano Real, de forma quase acidental. Formada em Comunicação Social, entrou em busca de emprego e encontrou uma carreira.
Ao longo do caminho, atuou em assets independentes, bancos na área de private banking e instituições ligadas à educação financeira, como a Anbima. Também integrou o Comitê Nacional de Educação Financeira, que ajudou a formular a Estratégia Nacional de Educação Financeira do Brasil.
Atualmente, além de comandar a Planejar, Ana atua como colunista do Valor Invest, comentarista da Rádio CBN e é cofundadora da Bem Educação, empresa voltada à educação financeira de jovens em escolas.
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