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Quando a inclusão e a moda dão as mãos

Professoras e alunas receberam mulheres com deficiência para uma produção que vai além do vestir
Por Vanessa Amando Criciúma, SC, 20/03/2019 - 07:55
Fotos: Jéssica Pereira / Especial / Divulgação
Fotos: Jéssica Pereira / Especial / Divulgação

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A inclusão social para deficientes físicos, principalmente no mundo da moda, foi pauta para uma atividade extracurricular do curso de Design de Moda Senai/Unesc. A ação aconteceu na tarde dessa terça-feira, dia 19, na sede do Senai em Criciúma, onde um grupo de mulheres com algum tipo de deficiência física foi recebido para um bate-papo sobre a importância das mulheres deficientes conquistarem seus espaços na sociedade e, ainda, para uma sessão de fotos de moda.

A coordenadora do curso de Design de Moda Senai/Unesc, Charlene Vicente Amâncio Nunes, explica que a atividade faz parte de um projeto do curso chamado “Moda é para todos”. O objetivo da ação é mostrar que todos podem e devem estar inseridos no mundo da moda, inclusive participando de editoriais de moda, independente dos padrões de beleza impostos pela sociedade.

“Fizemos uma ação semelhante no Nações Shopping. Abrimos espaço para pessoas com todos os tipos de perfis que quisessem ser fotografadas e foi bem bacana. Agora resolvemos realizar o projeto com mulheres deficientes físicas. O curso tem uma parceria com o Centro Especializado em Reabilitação (CER) da Unesc, onde elas são atendidas. Nosso papel enquanto instituição de ensino é promover ações como essa, de inclusão, socialização”, conta Charlene.

A coordenadora ressalta que é uma iniciativa para trabalhar a autoestima e a autovalorização das mulheres. “Também já fizemos fotos inclusivas com mulheres em tratamento de câncer, depois realizamos uma exposição dessas fotos. Elas ficam animadas, têm a autoestima elevada. É importante pensar a moda além da questão estética, entrando na questão social também, mostra que a moda é possível para todos”, pontua.

Uma experiência nova

Além dela, professoras e alunas do curso ficaram responsáveis por toda a produção de moda, com roupas, acessórios, além das fotos. Franciele Rebelo e Mayara Ugioni Nart estão na 7ª fase e produziram as mulheres. Esta foi a primeira experiência de Mayara com deficientes físicas. Franciele, que trabalhou em hospital, já teve contato, mas não através da fotografia.

“É importante saber lidar com todo tipo de público. Também serve para a gente se impor, nós e elas, não aceitando só o que a sociedade impõe, mas mostrando que podemos fazer mais. Sem contar que estamos colaborando para a autoestima delas e isso é muito positivo, é uma forma de incentivo, a deficiência não deve impedir isso”, avalia Franciele.

Percalços no caminho

Desde outubro do ano passado, Samara Tavares Michele Dutra, de 31 anos, é uma das pessoas atendidas no CER/Unesc. Ela conta que, em abril de 2018, uma infecção generalizada após uma cirurgia bariátrica mudou sua vida. “Fiquei na UTI durante um tempo por causa da infecção. Alguns membros necrosaram e foi necessário amputar, como o pé direito, os dedos do pé esquerdo e também das mãos”, relata. Desde então ela usa cadeira de rodas e conta com a ajuda do marido para realizar algumas atividades.

O convite para participar da produção de moda no Senai foi recebido com felicidade. Samara também ressalta as dificuldades que encontra enquanto deficiente física na hora de comprar roupas. Segundo ela, falta acessibilidade e espaço nas lojas. “Às vezes a cadeira não passa, os provadores também são pequenos. Meu marido que me ajuda nisso, mas também já fui em lojas que comprei roupas apenas olhando mais ou menos o que daria em mim porque provar só consegui em casa”, lembra.

Conquistar espaços na sociedade

Membro da Associação dos Deficientes Físicos de Criciúma (Judecri) e professora paratleta, Rindalta de Oliveira foi convidada para participar da iniciativa do curso com o intuito de falar com as mulheres deficientes físicas sobre autoestima, empoderamento feminino e, principalmente, sobre como é importante que elas não desanimem e conquistem seus espaços na sociedade, independente do setor.

“Enquanto estivermos trancadas dentro de casa, desanimadas, nada será feito, mas precisamos que muito ainda seja feito por nós. O deficiente físico costuma ser invisível na sociedade, mas isso precisa mudar. A mulher deficiente física tem que sair, mostrar a cara, ir atrás dos seus direitos e também conquistar espaços na sociedade, seja no mercado de trabalho, na moda, nas ruas. A deficiência não pode nos impedir”, destaca Rindalta.

Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

Ela recorda, inclusive, que esta é uma luta antiga, tanto no Brasil, como fora dele. Sobre o mundo da moda, Rindalta reforça que deficientes físicos encontram dificuldades. “É muito importante discutir o papel do deficiente físico na moda, ainda mais as mulheres, que costumam se preocupar mais com isso. Temos dificuldades para encontrar roupas adequadas para as nossas condições, mas também temos problemas de acessibilidade para chegar às lojas, entrar nos provadores. Isso precisa ser revisto”, conclui a professora.

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