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Projeção para o fim da pandemia é incerta, afirma pesquisador

Médico e pesquisador do Hospital Universitário da USP, Márcio Bittencourt, concedeu entrevista ao programa Adelor Lessa na manhã desta sexta-feira
Por Vitor Netto Criciúma - SC, 17/07/2020 - 09:50 Atualizado em 17/07/2020 - 10:00
Foto: Divulgação
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Santa Catarina passa pelo pior momento do enfrentamento do coronavírus. Os números alarmam diariamente, quando o Estado registrou, nesta quinta-feira, 16, 49,7 mil casos e 588 mortes por Covid-19. Para o médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paul (USP), Márcio Bittencourt, fazer uma projeção de quando a pandemia vai acabar ou passar, é algo incerto e o desenvolvimento da doença depende exclusivamente da atuação das pessoas e dos representantes públicos. 

"Fazer projeção do que vai acontecer daqui a para frente, não é uma coisa muito fácil, principalmente depois de chegar em uma fase de transmissão tão intensa como a gente está. Agora acho que a coisa que mais define para onde a gente vai, são as próprias atitudes. Então fazer uma projeção, é ter que imaginar o que as pessoas vão fazer", explicou Bittencourt ao programa Adelor Lessa na manhã desta sexta-feira, 17, na Rádio Som Maior. 

O pesquisador explica que as atitudes das pessoas de todos os cenários ajudam a tentar diminuir a curva de contaminação. "As pessoas têm entenderem o que elas têm que fazer para controlar, desde o prefeito, governador e presidente até o cidadão. É cada um fazendo a sua parte. Se fizerem isso, vai ser uma projeção, se não fizerem vai ser outra. Então tentar adivinhar para onde vai é correr a situação da doença é o risco de errar, porque adivinhar o que as pessoas vão fazer é muito difícil", afirmou. 

Conforme Bittencourt, acreditar que estamos caminhando para o caminho certo do fim, é uma estratégia ruim. "O vírus não decide sozinho, ele tem um padrão de contaminação e transmissão que depende das nossas atitudes. Se a gente decidir de voltar tudo ao normal, como era antes, vai piorar mais rápido ou devagar, depende da forma que a gente voltar", enfatizou. 

O clima frio e a transmissão do vírus

O médico explica que atualmente não se têm estudos que comprovem que a transmissão do vírus pode ser mais propícia no inverno, mas as atitudes que as pessoas realizam acabam afetando no contágio. "Até hoje não temos uma literatura que afirme que o vírus tem um padrão sazonal a distribuição por estação do ano, como a gripe, por exemplo. Mas tem atitudes que a gente toma no inverno, naturalmente facilitam a vida do vírus, como ficar em ambiente fechados e menores, então alguns componentes de atitudes, devem tornar a vida do vírus mais fácil de agir no inverno". 

A transmissão e o contato entre as pessoas 

A transmissão do vírus pode se dar de várias maneiras. O que depende do contágio é como cada pessoas se preserva e preserva a saúde das pessoas de sua convivência. "As pessoas têm que entender o que significa cada coisa: o vírus se transmite de pessoa para pessoa. Se eu entro em contato com uma pessoa que não está infectada, não transmite. Se eu entro em contato com uma pessoa infectada, transmite. Basicamente é assim que funciona", comentou. 

Para ele, o ideal seria diminuir o contato entre as pessoas. "Então se a gente diminuir toda a comunicação entre as pessoas, se todo mundo encontrar com menos pessoas, no global a gente diminui a chance de transmissão. Uma pessoa que encontra 50 pessoas na rua, ou um político que encontra 100 pessoas na rua, tem mais chance de pegar e mais chance de transmitir para alguém. Se você fica em casa tem menos chance de pegar e transmitir", completou. 

A transmissão dentro de casa é algo que também preocupa dos pesquisadores, já que uma pessoa com sintoma deve ter cuidados extras, até mesmo com os seus familiares. "É obvio que se eu se trancar em casa e tiver uma pessoa infectada dentro de casa, é claro que a chance de transmitir existe. Então a orientação é ficar em casa para diminuir essa transmissão global. Mas a segunda orientação, é que se você tem qualquer sintoma, não é só ficar em casa. É ficar sozinho isolado sem encontrar com ninguém", enfatizou.

A utilização em massa de medicamentos

De acordo com Bittencourt, a falta de informação faz com que as pessoas tomem atitudes precipitadas, principalmente na questão dos medicamentos. "A parte da medicação, que o pessoal está dizendo que possa funcionar, ela é realmente muito ruim. É o que a gente chama de falta sensação de segurança. A pessoa toma e acha que ela não vai pegar, ou pior, ela acha que se ela tem a doença ela não vai piorar", afirmou. 

Os infectados que ficam em casa com o medicamento também preocupam os médicos. "A gente viu e que é perigoso, que essas pessoas acreditam que que a doença vai melhorar porque ela tem o remédio e então essas pessoas tem chegado no hospital pior ainda, mais graves e tem risco de piorar ainda mais, porque atrasaram a chegada no hospital", conclui. 

O segundo problema apresentado pelo médico são os efeitos colaterais dos medicamentos, principalmente aqueles que não agem contra a doença. "Se o beneficio é nenhum, qualquer efeito colateral é grave. E além de que o efeito colateral na vigência da infecção pode ser maior ainda", comentou. 

O caso dos efeitos colaterais tem o mesmo sentido na profilaxia. "A pessoa toma o medicamento achando que se protege, mas então ela pega a infecção e acha que não pegou. E mesmo com sintomas, ela transmite para outra pessoa, então acaba destruindo toda a cadeia de proteção", afirmou. 

Gastos exagerados em medidas que não funcionam 

Bittencourt comentou que há políticos que estão realizando medidas, incluindo os com medicamentos, que não tem eficácia e gastam dinheiro que poderiam ser aplicadas em outras ações preventivas. Ele cita como exemplo o município de Itajaí, onde o prefeito aplicou um protocolo do uso da ivermectina como tratamento profilático. 

"A prefeitura de Itajaí gastou R$ 4,4 milhões em uma coisa que não funciona, enquanto poderia estar fazendo coisas que não gastam e que funcionam. A gente tá alocando mal o pouco dinheiro que a gente tem. A gente tá comprando o que não funciona, ao invés de fazer o que funciona. 

Conforme o médico, os outros pesquisadores também precisam avaliar as pesquisas que vão realizar. "Realizaram três novos estudos e nenhum mostrou estudo eficaz com a hidroxicloroquina. E os outros remédios, os pesquisadores não querem nem testar, pois tem pouco dinheiro e a chance de funcionar é tão pequena, que não vão gastar o pouco que tem, para testar uma coisa que não vai funcionar", enfatizou.

Fim da curva

O médico não apontou datas para "acalmar" a situação do coronavírus em Santa Catarina. "Eu não gosto de dar data para nada. Eu acho que não é uma coisa que vai ser rápida. A curva que o esta está, não falamos menos de um mês apenas. Pode ser dois ou três. Depende da atuação das cidades e da população. Se acharem que está tranquilo não vai funcionar", pontuou. 

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