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Por que o teste do coronavírus pode dar negativo nas pessoas infectadas?

Pneumologista Renato Matos explica como é feito o exame, após morte de Covid-19 em Criciúma ter resultado inicialmente negativo
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 02/04/2020 - 09:40 Atualizado em 02/04/2020 - 09:47
Foto: Divulgação
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A primeira vítima do coronavírus em Criciúma foi confirmada nesta quinta-feira, 2, após o primeiro teste, cujo resultado foi divulgado no começo da tarde de quarta, ter dado negativo. Particularidades da medicina apontam para essa possibilidade: dos exames apresentarem resultados falsos. De acordo com o pneumologista Renato Matos, os exames para o  vírus têm uma sensibilidade de 60% e a análise clínica auxilia no diagnóstico.,

"Medicina é complicada. Vamos usar um exemplo: quando a pessoa fez o teste ergométrico, aquele de esteira, a pessoa tem a doença, já se sabe por exames posteriores que ele tem problemas cardíacos. A probabilidade do teste ergométrico mostrar que tem a doença é de 68%. Em torno de 30% das pessoas que tem comprovadamente doença isquêmica no coração, tem o teste negativo", exemplifica o médico.

"É a sensibilidade do teste: a probabilidade do teste dar positivo na pessoa que tem a doença. Qual é a sensibilidade descrita em casos de coronavírus? Em torno de 60%. Existe um dado bem chamativo: aquele oftalmologista chinês, que descreveram a doença e acabou morrendo com o coronavírus, ele fez diversos testes. O sétimo deu positivo e em seguida ele morreu. Não é um exame exclusivo que vai dar o diagnóstico", completou Renato.

No caso do empresário vítima de Covid-19 em Criciúma, foi feito inicialmente um teste com a análise nasal, o que seria, segundo o presidente da Unimed, Leandro Avany Nunes, provável que apontasse negativo, devido à evolução do vírus no paciente. O segundo exame, que fez coleta na traqueia, deu positivo.

"É usado um supercotonete, comprido, se coloca no nariz, lá atrás. É muito desagradável, tem que girar 180 graus para tentar coletar o material. Depois se coloca na orofaringe, é como colocar o dedo na garganta e dá vontade de vomitar. Isso para uma pessoa que está bem, imagina numa pessoa que está quase parando, agitada e confusa. Tem uma série de detalhes técnicos que as pessoas não conseguem mensurar", detalhou Renato sobre o modo de coleta dos exames.

Um estudo da Radiology aponta que a análise da coleta nasal tem sensibilidade de 60% nos casos positivos (ou seja, 60% das pessoas positivas serão detectadas neste exame), enquanto na análise da orofaringe é de 30%. Por isso, entre as formas de testar está a análise das duas coletas, com o cruzamento dos dados. A mesma publicação indica que a coleta de material dos brônquios por meio de endoscopia é 93% positiva. Nesse estudo foram testados 1014 pacientes. 

"São testes que estão começando a ser feitos agora, com procedências diversas. Se coleto de dois lugares a probabilidade de dar positivo a princípio deve aumentar. Por isso a coleta em mais de um lugar. Atualmente é coletado material da cavidade nasal e da garganta", explicou Renato.

Sobre o caso do empresário Evaldo Spassoli, Renato deu mais detalhes sobre os procedimentos adotados e os resultados obtidos. "O "cotonete" (de análise nasal) deu negativo. Como ele estava entubado, um tubo que vai até a traqueia, conseguiram coletar material diretamente das vias aéreas inferiores e este deu positivo. A tomografia é mais sensível, tem maior probabilidade de mostrar-se alterada quando o paciente tem coronavírus. Mas tomografia alterada por si só não faz o diagnóstico definitivo", esclareceu. "Se tenho um paciente internado com todos os sintomas e a tomografia sugere fortemente que seja coronavírus já tenho elementos para isolar e eventualmente tratar o paciente", acrescentou.

O médico lamentou as respostas que tem visto nas redes sociais. Com o isolamento total da população, há movimentações de descrédito ao potencial da pandemia. Principalmente de empresários e autônomos, que ainda aguardam as medidas de apoio econômica do governo federal. 

"Meu filho é médico e trabalha em UTI. Ele me disse outro dia: 'pai, a gente vê tudo isso acontecer, as pessoas morrendo, meus professores sendo entubados, colocando a pele em risco e tem que ficar todo o dia em rede social discutindo, que as pessoas não acreditam e acham que isso é conversa para assustar'. Está na hora das pessoas se darem conta que estamos vivendo uma situação que pode sim ser muito complicada. Os países ricos estão perdendo, porque nós seríamos diferentes? Por que essa coisa raivosa de rede social achando que se aumenta a situação?", questionou Renato.

Atualmente, o país com maior número de casos confirmados de coronavírus é os Estados Unidos. São mais de 215 mil casos e mais de 5 mil mortes: a estimativa é de que mais de 100 mil pessoas podem perder a vida no território norte-americano. 

"Inicialmente, o governo Trump apostou que a doença não chegaria. Essas medidas, que tomamos de forma mais precoce, lá não foram tomada. Os Estados Unidos é um país em que todos se dirigem, então o fluxo inicial de pessoas da China e da Europa foi muito grande. O nosso receio é de que sejamos o próximo. O país mais rico está se dobrando ao vírus, não está com condições de combatê-lo. Estão com problemas imensos de ventiladores e leitos. E quando chegar aqui, o que é que nós faremos em uma situação dessas?", levantou Renato.

"O isolamento está funcionando. O fato de nós termos poucos casos aqui significa que o que está sendo feito está funcionando, não que a doença não possa vir pra cá. As pessoas não estão percebendo isso, nós podemos ter um problema imenso de saúde. A nossa rede não está preparada. Hoje em São Paulo estão fazendo hospital no Pacaembu. Será que são tão mal informados assim? Será que alguém faria hospital no Pacaembu por uma fake news? Ninguém tá querendo forçar a barra e mostrar que está correto. Estamos seguindo a tendência mundial, estamos seguindo a ciência", completou o pneumologista. 

Tags: coronavírus

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