Ir para o Conteúdo da página Ir para o Menu da página
Carregando Dados...
DEIXE AQUI SEU PALPITE PARA O JOGO DO CRICIÚMA!

Passos guiados com amor: como morador de SC e cão-guia vencem desafios diários juntos

Uma história de parceria, superação e confiança que transforma a rotina em autonomia

Por Maryele Cardoso Criciúma, SC, 12/12/2025 - 13:30 Atualizado há 1 minuto
Alexandre e Dakar caminhando na igreja de Cocal do Sul. Foto: Maryele Cardoso.
Alexandre e Dakar caminhando na igreja de Cocal do Sul. Foto: Maryele Cardoso.

Quer receber notícias como esta em seu Whatsapp? Clique aqui e entre para nosso grupo

Com passos calmos, atentos, construídos com uma suavidade firme, a sintonia entre Alexandre Rzatik e Dakar, deficiente visual e cão-guia, possui um ritmo único, proporcionando um horizonte de possibilidades e liberdade. Ela empresta seu corpo, seus olhos e sua percepção. Ele, recebe uma nova maneira de "ver" a vida. Juntos, formam uma dupla perfeita, que se completa e inspira aqueles que, mesmo com olhos saudáveis, precisam enxergar o valor de viver de verdade.

O que os olhos de Alexandre não veem, o coração sente em dobro, principalmente ao lado da sua fiel companheira. Com uma sensibilidade aguçada e uma percepção singular, o tutor, que é morador de Cocal do Sul, afirma que, com Dakar, tudo fica melhor e com mais sentido. "Eu não enxergo, mas com a Dakar, consigo ver novamente", fala com emoção.

LEIA MAIS:

Há seis anos, a labradora fêmea acompanha o pedagogo em seus compromissos. Com uma esperteza fora do comum, quando está com o colete de serviço, muda seu comportamento, ficando de guarda ao lado do tutor, mesmo quando o momento é de calmaria. "Ela sente tudo ao seu redor e ao meu redor, quando fico sentado, fica do meu lado deitadinha, chega até a dormir. Quando levanto para ir a algum lugar, já levanta e me acompanha", explica.

Porém, quando está sem o colete de serviço, Dakar volta a ser um cão "normal", com muito carinho para dar e atenção para receber. "Quando estou dando aula, tiro o colete de serviço dela para ela ficar mais à vontade. Os alunos chamam escondido e ela vai até eles, ainda brinco com eles dizendo que estou percebendo eles chamando ela", conta com um sorriso no rosto.

Dakar aguardava Alexandre concluir as compras na farmácia. Foto: Maryele Cardoso

Uma nova realidade apenas com a escuridão

Quando Alexandre tinha 14 anos, estava brincando no quintal da sua casa, no bairro Pio Corrêa, em Criciúma, quando algo inesperado aconteceu, ele foi atingido por um tiro de arma de fogo. "Fui atingido por uma bala perdida no lado esquerdo da cabeça, atingindo o nervo óptico. Não sei nem de onde veio, mas era alguém brincando com a arma perto e acabou me atingindo", conta.

Depois disso, ele precisou escolher dois destinos, permanecer vivo e seguir em frente ou perder a vontade de viver. "Rapidamente, minha família buscou tratamento, viajei o Brasil todo em busca de recursos e cheguei a ter o corpo todo paralisado, mas foi na escola de deficientes visuais que encontrei o que precisava", explica.

Depois disso, encontrou uma nova oportunidade na escola e percebeu que não era o único com deficiência visual. Assim, ganhou um mundo inteiro para explorar através dos estudos. "Estudei no Colegião e, na sala de recursos, encontrei um refúgio para o meu aprendizado e também percebi que tinha outras pessoas com deficiência. Ganhei a oportunidade de um dos professores para fazer um cursinho pré-vestibular e entrei para a faculdade de pedagogia", fala. "Até aquele momento, não acreditava que poderia fazer uma faculdade, formar uma família e ter uma vida como qualquer outra pessoa", completa.

Dakar prestando serviço nas ruas de Cocal do Sul. Foto: MKaryele Cardoso

Os novos olhos com cão-guia

Com diploma na mão e uma vida cheia de compromissos, o pedagogo foi participar de um curso em São José e, ao final do evento, notou uma comunidade de cães-guia no Brasil. Naquela época, em meados de 1998, não existiam escolas de cães-guia no Brasil. "Liguei para o número do anúncio e falei com o instrutor Moisés. Depois passei um mês nos Estados Unidos para me habituar com o cão-guia, receber as instruções e trazer para casa minha nova companheira", conta. Save, uma labradora fêmea, prestou serviços para Alexandre por 12 anos. Após esse período, aposentou-se. "Foi um momento bem delicado, ela era um membro da família, mas cumpriu o seu papel muito bem", fala.

Depois disso, ele ficou dez anos sem um cão-guia, até que chegou o dia em que sentiu a falta de um novo companheiro. "Minha rotina era de bastante compromissos, então resolvi buscar outro cão-guia. Na época, já existia uma escola de cães-guia em Balneário Camboriú, mas veio a pandemia e precisei esperar mais um tempo", relembrou. 

A Dakar, também uma labradora fêmea, veio para substituira Save. Segundo o tutor, existe uma diferença enorme entre ter e não ter o recurso humanizado. "A Dakar tem a cama dela especial, dorme no meu quarto, cuido dela como um membro da família, pois com ela tenho mais liberdade, mais autonomia e ela é minha companheira de todas as horas", afirma.

Tecnologia que traz acessibilidade

Com a chegada da inteligência artificial, a famosa IA, também chegou um cenário repleto de novas oportunidades. Entre elas, ferramentas para auxiliar no cotidiano, principalmente para aqueles que possuem alguma dificuldade ou limitação. 

Além do cão-guia, a tecnologia assistiva tem sido uma opção para melhorar esses obstáculos. Entre eles, impressoras Braille, computadores adaptados, softwares de acessibilidade e dispositivos inteligentes. Uma das inovações recentes está chamando a atenção daqueles que não enxergam, como os óculos inteligentes, desenvolvidos em parceria entre a Meta e a Ray-Ban. "Esse óculos foi criado originalmente voltado ao público geral, para fotos, vídeos e comandos básicos, mas o equipamento passou a oferecer recursos que auxiliam pessoas com deficiência visual, como descrição de ambiente, identificação de objetos e interação por voz", explica o pedagogo.

Alexandre utilizando o óculos inteligente na farmácia. Foto: Maryele Cardoso

Alexandre ainda afirma que a evolução da inteligência artificial aplicada à acessibilidade representa uma nova etapa para pessoas com deficiência, proporcionando uma nova forma de capacitação e inclusão na sociedade. Para ele, o desafio é convencer o poder público de que essas ferramentas são de utilidade pública para pessoas cegas. "É preciso convencer gestores públicos a reconhecer esses dispositivos como tecnologia assistiva oficial, possibilitando que pessoas cegas tenham acesso facilitado a equipamentos que ampliam autonomia, permitem navegação independente e contribuem para uma vida mais digna", finaliza.

 

Copyright © 2025.
Todos os direitos reservados ao Portal 4oito