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"Os médicos colocam suas vidas em risco e o poder econômico, o que faz?", questiona pneumologista

Para Renato Matos, isolamento total deveria durar mais uma semana para ter-se noção real da epidemia do coronavírus no Brasil
Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 27/03/2020 - 10:00 Atualizado em 27/03/2020 - 10:13
Foto: Arquivo / 4oito
Foto: Arquivo / 4oito

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A decisão do governador Carlos Moisés (PSL), de permitir a volta gradual da atividade comercial - os bancos e lotéricas a partir da próxima segunda-feira e lojas a partir da quarta - divide as fontes médicas usadas pela Rádio Som Maior e Portal 4oito neste período crítico do coronavírus. Para o médico pneumologista Renato Matos, a decisão pode ter sido precipitada, enquanto o presidente da Unimed, Leandro Avany Nunes, concorda com a abertura, mas alerta que trabalha-se no obscuro sobre a evolução do vírus. O Portal 4oito fez duas reportagens sobre o tema, cada uma com a avaliação dos especialistas.

"Estamos longe daquele período que nós médicos consideramos tranquilo"

O pneumologista Renato Matos afirma que não abrirá seu consultório na segunda-feira, quando começa-se a flexibilizar o período de isolamento social em todo o estado de Santa Catarina. Na avaliação do médico, o período de isolamento total deveria durar, ao menos, mais uma semana, quando seria possível ter uma dimensão real da epidemia no país. É consenso entre especialistas que os números de casos confirmados do Covid-19 são muito acima dos detectados, pois o teste é feito apenas nos quadros mais graves.

"Essas decisões de isolamento têm três tripés: profissionais da saúde e cientistas de todo o mundo que estão estudando o caso, o tripé econômico e o tripé político, que deveria balancear os outros dois. O que se sabe é que estamos subindo a nossa curva, não sabemos onde ela vai parar. Como vamos abrir? Tem poucos casos, mas nós não sabemos nada. Só se testa paciente que está internado", levanta Renato.

O pneumologista lembrou o caso de São Paulo, onde a internação em UTI subiu 42% de um dia para o outro e reforçou a dificuldade em fazer o isolamento vertical no Brasil. "Nosso sistema de saúde mudou muito para que possa receber o número grande de casos que se espera. Todos os técnicos acham que a gente vai ter aumento grande de casos. Não tem como fazer hoje isolamento vertical em pessoas de situação média, não digo nem pobre. Quem tem duas casas para deixar o grupo de risco separado? Academia de ginástica, qual é a prioridade hoje? Eu posso fazer em casa", aponta.

A postura de Renato vai na mesma linha com o que foi dito pela pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo. Como forma de equalizar os impactos sociais e econômicos com as demandas da saúde, a elite econômica do país deveria prestar auxílio à população. 

"Aquelas pessoas que são responsáveis pela parte econômica, têm muita coisa para fazer. Os bancos, por exemplo. Querem que os médicos coloquem a sua vida em risco, a população se coloque em risco, e o poder econômico não faz nada. Aquela história de deixar que as pessoas atrasem o pagamento um ou dois meses, não, isso não pode. Existe uma situação que pode ser caótica do ponto de vista econômico, pode. Será que morrendo um monte de gente e depois fechando igual, a situação vai ser menos caótica?", questiona.

Situação pode ser crítica na saúde

O pico de contaminação do Covid-19 no país não deve chegar antes da segunda metade de abril. Como forma de preparação para a inevitável chegada da pandemia - em Criciúma o primeiro caso confirmado foi no dia 20 de março - as unidades de saúde cancelaram cirurgias eletivas e prepararam os leitos para os infectados com o coronavírus. O governo do estado determinou que os espaços comerciais se adaptem nas medidas de higiene e limitação de circulação quando abrirem, na próxima quarta-feira. 

"Eu vou abrir meu consultório nessa segunda-feira, por que sou profissional liberal? De maneira nenhuma. A pessoa chega ali para tratar uma asma, uma rinite, e pode sair com coronavírus. Temos espaço físico de separar de dois em dois metros cada pessoa? Os hospitais conseguem, no consultório nós não conseguimos. Vou ficar atendendo os pacientes pelo telefone", afirma. 

"Nosso sistema de saúde é muito complicado. Não se faz mais cirurgia eletivas, mas abra para fazer e veja como vai ficar. Hoje temos uma situação muito segura, existe lugar para tratar pessoas com sintomas respiratórios e quem não tem. Vai liberar, vai ficar tudo junto", completa Renato. 

O pneumologista usa o tempo de ação do cornavírus para explicar o baixo número de casos e mortes até o momento. "As pessoas demoram até 14 dias para aparecerem com os sintomas. Depois, até ficar grave, mais 10 dias. Para ir até a UTI, mais cinco ou sete dias. O tempo entre a aquisição da infecção e a morte são semanas. Essas pessoas começam a internar agora e se não evoluir, morre de duas ou três semanas. O ideal agora seria ter testes para saber o real impacto disso aí, mas nós não temos. Estamos tomando medidas no escuro", opina.

Santa Catarina vira grupo de controle

O estado foi um dos primeiros a determinar o isolamento social e será um dos primeiros a sair dele. Renato acha arriscada essa abertura e aponta que Santa Catarina servirá de exemplo, positivo ou negativo, a partir de agora.

"A gente compara uma situação que sabemos que funciona com a outra situação. Santa Catarina vai ser o grupo controle, enquanto os outros vão fechando, nós vamos abrir. Se der certo lá na frente, parabéns pro governador. Se der errado: 'vocês viram Santa Catarina, lá morreu muita gente'. Acho arriscado abrir agora. Tem que ser ouvido agora o economista para que eles coloquem seus detalhes, por que eles acham que temos segurança para voltar? Eu tenho lido a comunidade médica internacional de ponta e não tenho segurança alguma para voltar", conclui. 

Tags: coronavírus

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