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Os ares dos militares sopravam no casarão

Em "Centro Cultural Jorge Zanatta", capítulo 23, João Sônego, Jorge Feliciano, hospital para cães e o comício da Central do Brasil
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 05/12/2018 - 11:05
Reprodução / Última Hora, Rio de Janeiro, março de 64
Reprodução / Última Hora, Rio de Janeiro, março de 64

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João Sônego voltou inconformado daquela excursão a São Paulo e Rio de Janeiro. Não pelo comício de João Goulart na Central do Brasil, que ele assistiu naquele histórico 13 de março, mas por uma cena vista depois na capital paulista. Ele tomou conhecimento de um hospital para cachorros, e voltou assombrado. Não que não gostasse de animais. Pelo contrário, o problema dele era com os humanos. Ou melhor, com o trato que se dava aos humanos.

Apavorado ao saber que cães tinham tratamento muito mais sofisticado que os dedicados aos pobres nos hospitais brasileiros, Sônego não conteve a sua revolta. A transbordou no prestigiado Difusora 20 Horas, o programa que apresentava às oito horas da noite na Rádio Difusora.

A constar que a Difusora era a segunda emissora de rádio de Criciúma. Havia nascido em 13 de agosto de 1962, singela, pequena, em uma casa na rua João Pessoa, defronte ao poderoso Iapetec. Com a bravura de Agilmar Machado, Kátia Broleis, José Gentil de Assis e outros pioneiros, mais a direção de Addo Vânio Faraco, veio para ser o contraponto à Rádio Eldorado. 

Eram novos tempos, em que a comunicação não se pautava mais somente pelas linhas de Tribuna Criciumense que continuava, claro, multiplicando os assuntos da cidade. Mas havia as rádios. E a concorrência entre elas. E à noite, contrastando com a sobriedade ditada pela família Freitas na Eldorado, Sônego sacudia com uma fórmula simples na Difusora. Músicas e leitura de artigos do Correio do Povo de Porto Alegre entremeados por pesados comentários. Ele não era de ter papas na língua.

E o gênero foi ganhando o gosto do povo. Sônego falava da vida dura dos mineiros, que respiravam poeira, pisavam na poeira, viviam no meio da pirita e do carvão. Não tinham água encanada, a energia elétrica era precária, a saúde faltava. Aquelas pautas negadas pelo, a essa altura extinto Plano Nacional do Carvão no casarão da Pedro Benedet, chegavam todas as noites pelo rádio, pela Difusora, que carregava o slogan de “A Voz do Trabalhador”. Era um fato novo na cidade. A cidade contada efetivamente pela perspectiva do trabalhador.

Sônego não poupou na questão do hospital veterinário. Visto em São Paulo. Mas por aqui já sopravam os ventos do discurso do presidente Goulart, testemunhado pelos sindicalistas criciumenses na Central do Brasil. Sônego havia acompanhado, naquela jornada, o ícone Jorge Feliciano. Ele sim trazia o discurso ainda mais contundente, afinal, carregava a pecha de comunista. Por aquelas semanas, sem saber, esses dois nomes pavimentariam o caminho para serem os primeiros presos políticos de Criciúma. Mas acabaram não sendo. Sobrou para outro, um médico que teve destacado papel na origem do rádio em Criciúma. Enquanto isso, o casarão estava quase inerte ali na Pedro Benedet. Mas estava perto de voltar a fazer história.

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