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O golpe transformou o casarão em cadeia

Em "Centro Cultural Jorge Zanatta", capítulo 25, o golpe e o destino do casarão da Pedro Benedet
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 07/12/2018 - 11:05
Reprodução / O Estado de São Paulo, abril de 1964
Reprodução / O Estado de São Paulo, abril de 1964

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O sindicalismo ditava o ritmo daquela Criciúma cada vez mais efervescente do final dos anos 50. O Sindicato dos Mineiros, fortíssimo, movimentava as massas operárias, e viveu seu auge do final de 1957 até aquele dia fatal: 31 de março de 1964. Os trabalhadores das minas contavam com líderes arrojados, que enfrentavam o sistema vigente.

Mas e pensar que o primeiro e, no fim das contas, único preso político de Criciúma nos primeiros tempos do golpe, ou revolução, conforme o gosto dos expectadores da História, esse primeiro preso não era um sindicalista, nem um mineiro, muito menos um radialista. Ou seja, nem Jorge Feliciano e seus candentes discursos, nem João Sônego com seus petardos, ambos na Rádio Difusora. Não. Essa primeira vítima local do cárcere foi um médico.

O novo regime dos militares começou vigoroso em Criciúma. Logo nas primeiras horas de 1º de abril de 64, a notícia chegou. E assustou. Eram 4 da madrugada quando os dirigentes do Sindicato dos Mineiros passaram de mina em mina convocando para uma greve geral. Essa incitação teve apoio imediato da Rádio Difusora. Jorge Feliciano tomava o microfone para, envolvendo petebistas e comunistas, chamar o povo à reação à queda do presidente João Goulart. Já era tarde.

Com os militares consolidados, com o deputado Ranieri Mazzilli feito presidente para dar ares de normalidade ao vácuo de poder até que os marechais e generais efetivamente assumissem, era preciso colocar tropas na rua. Tropas do 23º Regimento de Infantaria marcharam de Blumenau para Criciúma. Acamparam na entrada Centro, altura da atual Rodovia Luiz Rosso. E dali, sob as ordens do coronel Newton Machado Vieira, grupos do Exército foram tomando postos-chave da cidade. Articulados e bem informados, logo os mineiros souberam proteger os seus. A sede do Sindicato dos Mineiros foi invadida, seus dirigentes caçados por toda a parte e a estrutura, forte até então na arquitetura política, virava um mero braço assistencial das minas de carvão.

As tropas que chegaram, além de bem servidas pela parcela bastante significativa que era simpática ao golpe, tinham listas e listas completas dos suspeitos que deveriam ser acossados. Enquanto isso, golpistas convictos e conservadores adesistas levavam bolo, café e faixas de apoio aos militares acantonados na entrada da cidade. Desprevenidos, os contragolpe pouco tinham a fazer, a não ser procurar melhor abrigo. Cuidado que não tomou o médico Manif Zacharias. Conhecido dos vínculos populares, taxado de comunista, e nunca negou seu gosto pelo socialismo soviético, foi ele o primeiro preso político pós golpe, logo no dia 2 de abril. Detalhe. O coronel Newton precisava achar um lugar para servir de cárcere improvisado. Alguém sugeriu o estádio Heriberto Hülse, logo vetado. Entendeu-se que, se o estado beligerante se estendesse por mais tempo, tal intervenção prejudicaria o futebol, criando arestas contra o novo status quo. “E aquele casarão onde pouco se faz ali na Coronel Pedro Benedet?”. A pergunta, sugestiva e marota, foi de um dos militares de baixa patente daqui, que serviam à corporação de Blumenau. Pronto, deste sopro o casarão ganhava sua segunda missão: uma prisão política.

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