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O casarão à espera dos militares

Em "Centro Cultural Jorge Zanatta", capítulo 24, o clima que antecipava o 31 de março de 64
Por Denis Luciano Criciúma, SC, 06/12/2018 - 22:21 Atualizado em 06/12/2018 - 22:24
Reprodução / O Globo, março de 64
Reprodução / O Globo, março de 64

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Golpe para uns. Revolução para outros. O clima era pesado naqueles últimos dias de março de 1964. Na Rádio Difusora, João Sônego, no seu programa noturno, e Jorge Feliciano, na Hora Sindical, faziam rasgadas denúncias contra “o cheiro de coturno e tanques na rua”. O presidente João Goulart avançava com suas ideias de reformas de base, e isso causava arrepios em setores consideráveis da elite.

“Amanhã, em nosso confortável auditório, Sérgio Luciano apresentará mais um prestigiado espetáculo de calouros, talentos e ricos prêmios. Retire sua senha e participe”. O pomposo convite tentava dar ares de normalidade àqueles tempos difíceis e invadia a sala quase vazia onde trabalhava uma secretária no casarão da Pedro Benedet. Com pouco a fazer, a animada senhora ouvia a Rádio Eldorado e a voz macia de Antônio Luiz naquela manhã de segunda-feira, 30 de março.

Ouvia falar algo do clima pesado pois seu marido, mineiro que era, ouvia Sônego, Feliciano e os que tratavam do que rondava o poder em Brasília. A essa altura, o casarão estava por completar vinte anos desde a sua construção e entrega, em 45, para ser o Plano Nacional do Carvão que, quase vinte anos depois, já não mais operava ali na rotina. O prédio seguia federal, abrigava amostras de carvão ali pesquisadas por entendidos. E uma repartição da Companhia Nacional do Petróleo também despachava em uma sala vizinha, embora o ouro negro deste solo era mesmo o carvão, jamais o petróleo. Já estava pesquisado e constatado que não havia uma gota sequer do ouro líquido e escuro em nosso remexido subsolo.

Os humores estavam estranhos no Café São Paulo naquela manhã. Nem tanto pelo empate do Metropol na rodada anterior do campeonato da LARM. O 2 a 2 diante do Imbituba não havia sido bem engolido, ainda mais que o time da Metropolitana vinha, antes, de um robusto 4 a 1 em casa, sobre o Guatá de Lauro Müller.

Mas a preocupação era mesmo com a crise política. “Eles vão dar golpe”, disse um. As conversas eram à boca pequena no café, pois não se sabia mais em que era possível confiar ou não. “Que nada, vão é tirar esses comunistas do poder”, disse outro. Os grupos eram bem definidos em Criciúma. Os do PTB, fechados com Goulart. Os da UDN, com os militares. E os do PSD? Bem, a reação deles à edição de O Globo de 2 de abril, acima reproduzida, dará a resposta.

Essa edição, de 2 de abril, claro que demoraria a chegar por aqui. Eram outros tempos, em que os jornais viajavam de avião, de trem e eram apanhados nas gares, nas estações ferroviárias. Alguns levavam dias para alcançar as mãos dos leitores. Mas a notícia que o Globo estampava, naquela forma, faria retumbar reações em duas emissoras de rádio na rua Rui Barbosa, em um estádio no Comerciário e em um casarão na Pedro Benedet. Tudo quase que ao mesmo tempo. Mas isso é história para a próxima.

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